O saber, mesmo que minimamente, quem somos e o que somos, é algo comum a todos nós. Reconheço o “eu” na medida em que percebo o “tu”, como diz Martin Buber [1] Livro: Eu e Tu. , numa via de mão dupla com total reciprocidade. O que quero dizer, caro leitor, é que nós “sentimos” que somos homens; percebemos e reconhecemos a nós mesmos, a partir de certas características e balizas, como também o Outro é notado a partir desses parâmetros. Este sentimento de ser homem é singular e por isso mesmo universal; está em mim e em você, e, apesar de sabermos apenas como é em nós, não invalida ampliarmos ao Outro — que é também homem.
Cada homem sente de maneira única e irrepetível, habilidade impossível de mimetizar. No entanto, como o “eu” só sabe quem é a partir do “tu”, e vice-versa, alcançamos uma universalidade nesse sentir: o que sinto somente eu sinto da maneira como sinto, mas também o Outro passa por essa experiência do sentir-se homem, mesmo que eu não saiba como é o seu sentir. Pode parecer confuso inicialmente, mas ficará melhor esclarecido no decorrer do texto, portanto, sigamos devagar com o que diz Unamuno. Logo na primeira página do livro, nosso autor deixa muito claro a qual homem ele está se referindo: “O homem de carne e osso, aquele que nasce, sofre e morre – sobretudo morre –; aquele que come e bebe e joga e dorme e pensa e deseja; o homem que é visto e ouvido, o irmão, o verdadeiro irmão”. (UNAMUNO, 2013)
Mas por que Unamuno sente que precisa deixar isso claro logo no início? Por que começar seu livro com um capítulo intitulado O “homem de carne e osso”? Há um homem que não seja de carne e osso, que não seja concreto?
References
↑1 | Livro: Eu e Tu. |
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