Um antigo ditado oriental ficou bastante famoso nos últimos tempos. Segundo a sabedoria popular oriental “ Homens fortes criam tempos fáceis, e tempos fáceis geram homens fracos; mas homens fracos criam tempos difíceis, e tempos difíceis geram homens fortes”. A primeira impressão que temos, ao deparar-nos com este ditado, é a de confirmação do fato à realidade. Acredito que apontar as diversas fraquezas do homem seria o trabalho de uma vida inteira – sobretudo na época em que vivemos. Assim, não teria espaço neste artigo para as apontar. No entanto, eu gostaria de me ater a uma fraqueza, que a cada dia toma proporções endêmicas: o subjulgamento da razão em detrimento das emoções.
Aristóteles, no livro 1 da Ética a Nicômaco, trabalha a faculdade da alma razão, indicando a capacidade desiderativa da alma , e buscando conciliar os elementos anímicos com a realidade, ou seja: a emoção proporcional à situação. Com isso, denota-se que esta é uma capacidade do homem, ser sensível – e esta capacidade nada tem a ver com ser sentimental. O homem pode ser sensível à beleza, à verdade, à dor, ao sofrimento, e ainda assim, não abdicar de sua responsabilidade perante a sua existência, ou seja: ser responsável pelo que sente e faz. O sentimental, porém, culpa os terceiros pelo seus comportamentos perante os sentimentos – e esperam destes mesmos validação.
Quando abandonamos o reto uso da razão, nós nos tornamos escravos das sensações e dos sentimentos – contribuindo assim para o surgimento do círculo dos histéricos. Histeria é um termo de diagnóstico aplicado a um estado mental de medo incontrolável ou de excesso emocional. Porém, tratando-se de patologia em nível social, a histeria ganha uma nova face e adquire a característica de medo do encontro com a verdade, ou medo de pensar sobre coisas desagradáveis – para que elas não estraguem a festa de contentamento presente. Este medo inicia-se em nível consciente individual, relegando aparente pensamentos negativos e incômodos – sem que se leve em consideração a veracidade dos mesmos. Em níveis químicos, podemos traduzir esse fenômeno em uma preferência por sensações prazerosas com altos níveis de serotonina. Sem este confronto entre o real e o imaginário, um cenário de império dos prazeres vêm à tona e, como uma praga, alcança rápida contaminação social.
Nas palavras do Dr. Andrew Lobaczewski, durante os “tempos bons”, esses tipos de pensamento estão presentes. Ainda nas palavras do psiquiatra, os tempos de bonança são responsáveis pelo rebaixamento da virtude, e a ascensão da sensibilidade exacerbada. O constante estado de irritação, o ofender-se por qualquer coisa, gesta no tecido social a bomba da violência. Essa linha de raciocínio apresentada pelo polonês, estava no cerne das suas investigações de como tiranos psicopatas chegam ao poder. Quando as comunidades perdem sua capacidade psicológica da razão, e de análise moral, os processos de geração do mal são intensificados em todas as escalas sociais – mesmo nas individuais -, até que tudo se converta em épocas “ruins”. [1] LOBACZEWSKI, Andrew. Ponerologia: psicopatas no poder. Campinas: Vide Editorial, 2014
Caso peguemos um exemplo real, não é por um acaso que as pessoas que patrocinam a cultura de cancelamento, guerras, abortos e genocídios, também defendam os sentimentos mais elevados como o “amor”, “compaixão” e “empatia”. Como bem afirmou, Dalrymple ” o sentimentalismo é o avô da brutalidade”. [2] Podres De Mimados. THEODORE DALRYMPLE · E REALIZAÇÕES. 2016. A cultura romântica e sensível, em que estamos, contribuem para aprofundar a crise moral vigente. Além disso, as ideologias perversas e tiranas assumem o lugar da razão – e guiam o histérico, renegado das virtudes, a ser cada vez mais insolente, fraco e manipulável.