A presença do ser como condição para a significação – Parte II

  • Isaac Denyon Fonseca
  • 21 fev 2022

No segundo nível, os elementos das oposições semânticas são assumidos como valores por um sujeito – que põe a sua ação, em determinada narrativa, devido a ação de outros sujeitos. Em outras palavras, esse nível não tem mais a ver com a afirmação ou negação de conteúdos; de afirmar, por exemplo, que o respeito é algo positivo ou que a humilhação é negativa. O que interessa, para esse nível, é o transformar, pela ação do sujeito, estados de humilhação em estados de respeito. Em “O Senhor dos Anéis”, há a história de um sujeito (Frodo), que recebe uma missão de outro sujeito (Gandalf) para destruir o “Um Anel”, com um propósito: salvar a Terra Média, e as pessoas que nela vivem. No entanto, o “Um Anel” lança constantemente tentações contra Frodo – para impedi-lo de cumprir a sua missão.

Por um momento, Frodo é reconhecido como aquele que carrega o fardo de destruir o “Um Anel” – tendo  a ajuda e o reconhecimento da sociedade do Anel, e de outros que são gratos por seus esforços. Durante sua jornada, no entanto, a tentação do “Um Anel” se torna cada vez mais intensa. Valores contrários, aos da sua busca, tentam o sujeito Frodo – fazendo com que ele enfraqueça sua vontade, e anule sua promessa. Assim, Frodo cede à tentação do “Um Anel”; escolhe os valores da tentação. A missão de destruir o “Um Anel”, e a tentação dele decorrente, formam uma dialética, na qual quem acaba vencendo é o segundo. Nesse momento, o poder e o vício do objeto vencem, e ele perde o reconhecimento de ser aquele que destruiria o “Um Anel” , e obteria assim a salvação da Terra Média. Frodo, a partir desse momento, assume os valores de Sauron.

A narrativa, como pode ser vista neste exemplo, sofre de uma dualidade de valores – que influenciam as ações do protagonista. Os valores se opõem, e Frodo sintetiza os papéis de sujeito, tornando-se assim sujeito de ações contrárias. Podemos complementar essa visão da narrativa semiótica com a noção de Ser. Assim, podemos perguntar: por que uma narrativa ocorre? Porque o Ser não pode ser entendido como uma coisa, mas sim como ato. O ato é o oposto da potência, portanto: o poder de fazer existir; ele não é a coisa existente. O Ser não pode ser o conjunto de todos os objetos, pois o conjunto de todos os objetos não pode resumir o Ser; algo os fez existir. Logo, o Ser não é o conjunto de todos os objetos, mas seu fundamento. Esta fundação não pode ser uma mera potência, pois de uma potência para outra potência nunca se converterá em ato. O Ser não é o conjunto de todas as coisas, o Ser é um ato – e só posso tomar consciência de mim mesmo como participante desse ato, nunca como uma coisa entre outras coisas.

Dito isto, não há possibilidade de fingir que participamos do universo, ou do todo de todas as coisas, mas sim no ato destas. Esse conhecimento é possível porque no momento em que decido pensar sobre isso, esse pensamento já está em ação. Portanto, dizemos que sou eu quem produz as ações, ou seja: qualquer que seja a decisão, tomada por uma pessoa, faz dela participante desse ato ilimitado, e infinito, chamado Ser. Como posso dizer que todo o Ser não se limita a mim? Porque não tomei todas as decisões, nem posso ser a fonte de todos os objetos. Só posso ser a fonte do que decidi. Isso significa que sou apenas uma parte do ato universal, tenho uma participação no ato universal.

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Isaac Denyon Fonseca

Isaac Denyon Fonseca, natural de Teresina, Piauí. Bacharel em Jornalismo e Licenciando em Língua Portuguesa/Inglesa. Estudante da obra de Mário Ferreira dos Santos e Louis Lavelle.

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