Deus abençoe os que estão dispostos a ajudar, mesmo que em última análise uma morte adiada seja também morte”.
– Heinz G. Konsalik
A cada ano que passa parece ser regra esquecer o acontecido. A sociedade é tomada de uma amnésia geral onde todos cometem os mesmos erros e pecados de sempre. Marx dirá que fatos e personagens da história mundial acontecem primeiro como tragédia, depois como farsa. [1]“Em alguma passagem de suas obras, Hegel comenta que todos os grandes fatos e todos os grandes personagens da história mundial são encenados, por assim dizer, duas vezes. Ele se esqueceu de … Continue reading
Seja um filósofo, repetindo os mesmos paradoxos de Zenão com ar de novidade, e sendo logo aplaudido por toda a imprensa e por aquele menor pedaço chamado universidade, seja um político de origem humilde ou supostamente humilde, que aparece como chefe do Executivo, fala lugares-comuns e declara possuir uma cruz maior que a de Cristo — logo é laureado com o título de “pai dos pobres”. Na cultura ou na política, enfim, a regra geral é esquecer o passado, maldizer o presente e viver um futuro que jamais chega. Entretanto, nem tudo é ruim. Somente o diabo é mau o tempo todo.
Às vezes, as coisas boas nos cercam sem que saibamos, pois as telas não nos permitem levantar a cabeça, notar as oportunidades e realizar o prazer máximo desta vida: a contemplação. Conrad escreveu um romance inteiro sobre a questão da oportunidade, alertando que não temos noção real da força que uma oportunidade carrega. Uma vida permeada pelas mais inocentes e infernais distrações parece cada vez mais distante daquilo que Platão afirmou ser o normal para o ser humano. [2] Lê-se no Crátilo: “O nome ‘humano’ assinala que, apesar de muitos outros animais possuírem a visão, nenhum deles averigua, avalia ou ruma seu olhar para cima. Já os humanos, enquanto … Continue reading
É nesse cenário de apoteose da vigarice, progresso da ignorância e rebaixamento geral da consciência que o presente artigo pretende atuar, ao apresentar um autor extremamente desconhecido e ignorado, que se coloca de modo marginal em nosso ‘normal anormal’. O objetivo é relembrar, rememorar um daqueles que vieram antes e têm algo para nos contar. O autor chama-se Heinz G. Konsalik, romancista alemão com mais de 90 obras publicadas e traduzidas para 17 idiomas ao redor do mundo durante o século XX. Na última década deste século, ele era considerado o romancista mais popular da Alemanha, tendo alcançado a incrível marca de cerca de 50 milhões de exemplares vendidos. Dessa forma, será apresentado primeiro um resumo biográfico, seguido de considerações sobre duas de suas obras e algumas notas conclusivas.
1§ Vida de Konsalik
References
↑1 | “Em alguma passagem de suas obras, Hegel comenta que todos os grandes fatos e todos os grandes personagens da história mundial são encenados, por assim dizer, duas vezes. Ele se esqueceu de acrescentar: a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa”. MARX, Karl. 18 de brumário de Luís Bonaparte. São Paulo: Boitempo, 2011, p.25. |
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↑2 | Lê-se no Crátilo: “O nome ‘humano’ assinala que, apesar de muitos outros animais possuírem a visão, nenhum deles averigua, avalia ou ruma seu olhar para cima. Já os humanos, enquanto veem, além de avaliar o que viram, rumam seu olhar para cima. Por conseguinte, um humano, sendo o único dos animais que vê rumando o olhar para cima, é corretamente nomeado de humano”. In: PLATÃO. Crátilo, ou sobre a correção dos nomes. São Paulo: Paulus, 2014, p.46. |