O Ser é o objeto universal; portanto, em qualquer consideração, ele será sempre o primeiro termo. Isso deve ser assim, pois qualquer outro sempre irá expressá-lo – limitando-o. É possível assumi-lo pela simples existência das coisas – já que algo há. O Nada Absoluto não pode gerar nada, logo algo sempre houve e sempre haverá. Exigir que as coisas tenham vindo do zero é não considerar que ao nosso redor há algo – e é o indivíduo que está pensando nisso; contudo, já que as coisas possuem as suas formas de existência, sempre houve a própria existência. Ver-se, assim, que não pode haver saltos no Ser – e, dessa forma, há, e sempre haverá, algo.
TESE 17 – O Ser não pode ter surgido subitamente, pois sempre houve alguma coisa.
§ 1. Não pode haver passagem do nada ao ser, consequentemente nem o nascimento do ser.
Por não haver espaço para o nada, só podemos compreender os dados do mundo material através de algo; estes dados transformam-se em coisas completamente distintas de qualquer forma de materialidade. Quando compreendemos algo, inteligímos o seu sentido – o nosso ato capta o ato de ser do dado. Tudo, então, centra-se em torno da questão do sentido – e, como ele não pode ser reduzido a algo diferente dele próprio, o sentido é como percebemos a presença absoluta. O homem sempre desejou colocar sentido nas coisas que criava. Esse hábito chega ao seu ápice quando se dá início às criações das grandes obras de arte. Até o século XIX, quando desejava contemplar essas criações, era necessário se dirigir até um castelo, mosteiro ou mesmo uma igreja – lugares aos quais davam a ideia de que aquilo a qual se buscava era precioso, e que, por isso, valia a pena o esforço.
Após esse século, tem início o processo da imprensa e da fotografia – meios que permitiram a reprodução de obras de arte, e aos quais disponibilizavam a um grande público acesso a meios de alta cultura que poucos na história viam. Antes do século XIX, ocorria uma epifania com a pessoa que, em seu esforço contemplativo, buscasse algo artístico; a presença do original marcava a pessoa: a esse evento Walter Benjamin chamou de “aura”. Esse conceito possui o seu referente quando um espectador está diante de uma obra de arte única. Porém, ele trata-se mais do que um conceito; é uma sensação, algo que somente pode ser vivenciado naquele momento e naquele instante de espaço e tempo. O sentido da transcendência, da forma como a arte única contemplada, eleva o homem naquele instante de tempo – e é um dos sentidos a que podemos dar a “aura”. Temos, então, a ascensão da tecnologia reprodutiva das obras de arte.
Obras que antes eram escondidas, e preservadas, aos olhos de grandes públicos, hoje são expostas em toda categoria de tecnologia – das maneiras mais variadas possíveis. Com isso, cria-se um processo de proporcionalidade: ao ganhar fama pelo processo de reprodução, a obra perde a sua “aura”, e, na demanda, muitas vezes as cópias têm o mesmo valor que o original. Benjamin observava nisso não um problema necessariamente, já que esse processo poderia levar a uma revalorização da obra original; porém, na Modernidade, a noção do que seja original é um tanto complicada. Um filme não possui original, já que a primeira cópia já é uma reprodução. Assim, não existe o fenômeno da aura na Modernidade.
A experiência artística do homem moderno dá-se com as reproduções técnicas – em outras palavras: através da cultura de massa. Esse entendimento tem o seu início a partir da ideia de ‘vitrine’. A ‘vitrine’ foi criada na França, para exibir produtos de luxo; nela, não se coloca qualquer produto à mostra do público, mas apenas aqueles bonitos e instigantes; criada no século IX, a relação entre cliente e mercadoria seria modificada desde então. Quando se passa por uma ‘vitrine’, não se contempla um produto pela sua funcionalidade – ou pelo valor que possui -, mas pela imagem exposta. É através da imagem exposta que uma mercadoria abre caminho para poder ser divulgada nos meios de comunicação.