Os Livros das Sentenças de Pedro Lombardo e o Comentário de São Tomás de Aquino

  • Juan Cruz Cruz
  • 4 maio 2023

No [1] Tradução: Geovane Campanher. início de sua exposição, Pedro Lombardo estabelece uma questão que, à primeira vista, pode parecer secundária. Porque ele não procura, por exemplo, definir lentamente o método objetivo de sua doutrina – como seria de se esperar em uma exposição acadêmica –, mas sim a disposição interna que no espírito do mestre e do discípulo deve prevalecer quando ambos aproximam-se do mistério de Deus. E esta disposição nada mais é do que a do amor e da consequente fruição (frutio). Assim, a maior perversão, como dizia Santo Agostinho, consistiria em querer fruir do que é útil e em querer usar o que é fruível: fruendis uti velle atque utendis frui. [2] Santo Agostinho, De Div. Quaest., q. 30; PL, 7.40c19. Lombardo ainda tenta extrair dessa atitude a articulação sistemática de sua obra.

Não achou oportuno aproximar-se das profundezas da divindade, se conduzido inicialmente por um mero espírito de abstração, cujo parco ganho de conceitos mal justificaria as muitas horas, e até anos, que são necessárias para mergulhar no mistério. Através desta proposta, o Mestre das Sentenças pretende indicar, que quando a alma humana frui, o faz como um reflexo ou uma imagem do divino, sendo a própria leitura dessa imagem o recurso mais frequente de Lombardo – como já fazia Santo Agostinho – ao longo de sua extensa obra. São Tomás se deleita com essa abordagem e, como inúmeros comentadores do Mestre, explica-a com lucidez e demonstra o necessário para se poder mergulhar neste mistério. Mas antes de entrar no assunto, convém registrar, ao menos brevemente, a figura histórica de Lombardo e indicar o papel que ele desempenhou na história do pensamento tardo-medieval, especialmente quando foi comentado por São Tomás. 

 

 

          1.  A obra de Pedro Lombardo


Para um medieval, a tradição recebida nos textos – filosóficos, teológicos, científicos, literários – apresenta-se com o imperativo de ser direta ou indiretamente assimilada: por meio de sua leitura forma-se o professor, e seu ato pedagógico – a lectio. Este imperativo é muito maior no caso do texto sagrado, a Bíblia, do qual a Teologia tem de tirar as suas mais proeminentes auctoritates – e o mesmo se pode dizer da autoridade apresentada pelos textos dos Padres, como Santo Agostinho ou São Gregório. Apenas os dicta magistri poderiam ser submetidos à discussão aberta. [3]Os aspectos intelectuais mais importantes do período medieval tardio, tanto em método quanto em conteúdo, podem ser encontrados nas obras de Martin Grabmann Die Geschichte der scholastischen … Continue reading Em todo caso, as autoridades eram frequentemente tomadas menos como argumentos da tradição em favor de uma doutrina de fé, do que como elementos dialéticos, usados ​​como ornamento retórico. 

Dentre os principais compilados de teologia, O Liber Sententiarum de Pedro Lombardo brilha com luz própria, pela habilidade de sua seleção e pela organização doutrinária que se propõe. Seu conceito teológico está presente na dogmática de São Tomás, São Boaventura, Duns Scotus e Ockham – apesar das discrepâncias doutrinárias que esses autores mantêm entre si – perdurando por vários séculos. Suas classificações são claras, sua exposição direta, seus exemplos apropriados, e sua doutrina ortodoxa, embora já por volta de 1250 os professores de Paris rejeitassem oito afirmações das Sentenças como falsas; ainda assim, é um manual exemplar de doutrina cristã, a cuja fonte recorreram alguns Concílios, como o de Latrão IV e o de Trento.

Alguns historiadores contemporâneos indicaram que esta obra carece de sagacidade especulativa e originalidade. Essa apreciação parece exagerada. [4]Marcia Colish considera que a obra de Lombardo tem sido injustamente dsevalorizada –. por Grabmann, Ghellink e Chenu – já que não teria sido levado em conta o contexto histórico ou a … Continue reading São inúmeros os testemunhos de grandes intelectuais que deram opiniões muito favoráveis ​​sobre o livro das Sentenças. Lombardo também teve a cortesia de diminuir o tom da tagarelice e excluir as sutilezas dialéticas. É verdade, por outro lado, que ele reúne os textos, por exemplo, os de Santo Agostinho, sob uma intenção sistemática, mas de modo que a ligação mantida com textos de outros autores, ou com os do próprio Santo Agostinho, por vezes, permanece desconectada da ideia principal contida no contexto da obra original citada, parecendo muito forçada a interligação de inúmeras citações.

Pedro Lombardo nasceu na província de Novara (Lumello, Lombardia), entre 1090 e 1100. Estudou em Bolonha, Reims e na Escola de São Victor. Recomendado por Bernardo de Claraval ao abade Guilduin de San Víctor em Paris, lecionou desde 1141 no Colégio da Sé desta cidade. E em 1148 assistiu ao Concílio de Reims como Mestre, comissionado pelo Papa Eugênio III, tendo que cumprir a tarefa de estudar a doutrina de Gilberto de Poitiers sobre a distinção régia em assuntos relativos à essência divina. Na cidade mais deslumbrante da França, esse estrangeiro passou a ser admirado e respeitado, ocupando desde 1158 nada menos que o prestigiado cargo de Bispo de Paris. E ele morreu lá, em 21 ou 22 de julho de 1160. Ele escreveu: Commentarium in Psalmos (1135-1137), Collectanea in Epistolas B. Pauli (1139-1141), Sermones (1140-1160). Mas a sua obra mais famosa é o Libri quattuor Sententiarum [5]Cf. por Pedro Lombardo: Opera omnia, I-II, Paris 1879/1880 (MPL 191-192). Libri Sententiarum, I-II, ed. Colegii S. Bonaventurae, Florenz, 1916 (sob o título: Sententiae in IV libris distinctae, … Continue reading (publicado entre 1155 e 1158), que pretende ser uma exposição sistemática da doutrina cristã.

Este livro entrou na Universidade pelo mestre franciscano Alexandre de Hales, que foi o primeiro a usar as Sentenças como texto para seu ensino entre 1223 a 1227. No que diz respeito à Universidade de Paris, não resta nenhum documento oficial que prescreva o uso das Sentenças como texto acadêmico. A obra, originalmente dividida em capítulos, acabou sendo organizada – certamente sob o impulso do próprio Alexandre – em distinções, questões e artigos. Na verdade, a divisão em distinções introduz uniformidade em cada um dos quatro livros: 48 para o primeiro, 44 ​​para o segundo, 40 para o terceiro e 50 para o último. Quinze anos depois da sua morte, a obra chegou a conquistar alguns dos mais prestigiados centros acadêmicos da Europa, embora ainda tenha demorado meio século para prevalecer.

Em 1240 foi introduzida na maioria das faculdades teológicas – não sem a oposição de alguns intelectuais famosos, como Robert Grosseteste e Roger Bacon – oferecendo a base para as grandes construções dos pensadores medievais. Os numerosos manuscritos que foram feitos confirmam isso. E essa é uma obra de grandes dimensões: centenas de páginas reunidas em quatro grossos volumes, onde se reúnem os conceitos mais profundos da teologia. E mesmo após a invenção da imprensa, ela foi impressa várias vezes ao longo de três séculos. Depois da Bíblia, foi o livro mais lido durante a Idade Média; e nem mesmo a Summa Theologica de S. Tomás teve depois um número tão grande de comentadores.

A célebre obra de Lombardo tem como precedente o livro escrito por Abelardo por volta de 1122, intitulado Sic et Non [6]Peter Abailard, Sic et Non, A Critical Edition Blanche B. Boyer e Richard McKeon, The University of Chicago Press, Chicago e Londres, 1976-1977. Cfr. J. Jolivet, Art du language et théologie chez … Continue reading , que se propõe, alinhando sucessivamente as proposições aparentemente contraditórias dos Padres da Igreja e de outras autoridades teológicas e filosóficas, tornar compreensíveis as doutrinas, sob títulos como: “Quod omnia sciat Deus, et non”, “Quod liceat mentiri, et contra”. A obra de Abelardo expõe 158 questões retiradas da Bíblia, dos Padres e dos Concílios. Traz mais de 1.800 citações de opiniões de estudiosos na forma de diversa e adversa, sem enfrentá-las com um comentário próprio.

As questões 1-105 tratam da fé: no Antigo Testamento (1-58) e no Novo (59-105); depois são discutidos os Sacramentos (106-158). Com um método expositivo simples, Ele pretendia promover uma argumentação racional clara nas disputas acadêmicas, mantendo sempre uma distinção entre razão e fé. A uma cabe a lógica, a física e a ética; a outra trata do que está expresso na Sagrada Escritura sob a Revelação. Mas a razão, mesmo com analogias e semelhanças, pode ser útil à teologia, quando ela é atacada por argumentos filosóficos. Através destas prerrogativas, Lombardo tem dois objetivos: um metódico, o outro teórico. O objetivo metódico primário é fazer uma compilação para facilitar o estudo das questões teológicas, opiniões ou doutrinas (“sentenças”) dos Padres da Igreja, de maneira ordenada e assimilada.

Assim, o patrimônio da tradição poderia ser preservado, evitando também o trabalho de recorrer a textos originais. A obra inclui cerca de 1.000 citações dos Padres, sendo Santo Agostinho o autor mais citado. Outros aparecem com bastante frequência, como João Damasceno e Santo Hilário. Também inclui o Decretum Gratiani (1140) e a Glossa Ordinaria. Tem também, como objetivo metódico secundário, aprofundar este patrimônio da tradição patrística. Uma vez que no prólogo, Lombardo expõe a dificuldade de lidar com a teologia, indicando o motivo que o impele a continuar – que não é outro senão o amor ao próximo e o zelo pela glória de Deus – ele afirma que pretende alcançar a pureza doutrinal, através dos Padres e da própria razão. O objetivo teórico é prioritariamente teológico, pois sua argumentação é orientada pela Revelação.

Mas também é secundariamente filosófico, pois inclui temas que são desenvolvidos com argumentos exibidos pela razão natural: como por exemplo, a existência de Deus, a criação do mundo por Deus, a origem divina das almas e a imortalidade da alma. Deixa em suspenso, questões epistemológicas importantes, como as ligadas ao problema dos universais. Recolhe as questões tradicionais da Antropologia, Cosmologia e Ética. Mas, na maioria das vezes, Pedro renuncia à própria especulação e mantém um pulso moderado entre auctoritas e ratio, de modo que de dentro um intenso sentimento místico – típico da escola de Hugo de San Víctor – a autoridade se eleva através de meios cautelosos inspirados pela dialética de Abelardo.

Parte do sucesso desta compilação se deve – como indicado anteriormente – ao fato de que no ano de 1215 o IV Concílio de Latrão confirmou uma de suas proposições sobre a essência divina como doutrina da Igreja, o que fez de Lombardo uma grande autoridade teológica.  Todos esses feitos fizeram dele o fundador da teologia escolástica, sendo seu livro o manual de Teologia medieval por excelência. Mas Lombardo não segue a classificação ternária que Abelardo havia proposto para a teologia: a fé, a caridade e os sacramentos. Em vez disso, ele divide os livros em duas partes, com base em uma indicação de Santo Agostinho: de rebus (realidades teológicas) e de signis (sinais teológicos). É próprio dos signos referir-se a algo que tem a natureza de “coisa” (res).

E, entre as coisas, há algumas que devem ser desfrutadas (fruenda); outras que devem ser usados ​​(utenda); e outras que usufruem e usam (fruuntur et utuntur). Precisamente o que marca indelevelmente o início da especulação de Lombardo é essa distinção agostiniana entre frui e uti. Ora, que uti e frui se encontrem no início do livro das Sentenças não se deve apenas a uma razão especulativa, de natureza filosófica ou teológica, mas também, embora mais distante, a uma razão jurídica. Aliqua uti et frui, diziam os juristas romanos: fazer uso de uma coisa para tê-la e desfrutá-la. Nesse sentido, fruor/fruti significa, antes de tudo, “fazer uso de”, no sentido de “gostar ou fruir”. Afinal, você só pode aproveitar o que tem para ser aproveitado. Por sua vez, utor/uti também significa “fazer uso de”, no sentido de “ter e aproveitar”: suis bonis uti, gozar de seus bens.

Ora, se os bens não são para usufruto, por que eles podem ser adquiridos? Pouco adianta traduzir fruor/fruti em termos de alegria, e utor/uti em termos de utilidade, se não levarmos em conta que, psicologicamente, também desfrutamos daquilo que é utilizado. Por isso, temos que nos deter por um momento no que o Mestre das Sentenças quer dizer com uti e frui, logo no início de seu primeiro livro; e também atentarmos para a interpretação mais óbvia que pode ser dada a esses termos assim que são coletados por comentaristas como São Tomás, São Boaventura e o Beato Duns Scotus. Eles se referem claramente a dois atos da vontade: um voltado para o fim de possuir algo; outro, direcionado aos meios para possuí-los com vistas ao fim. Os dois atos são modos de possuir, de ter, não no sentido legal, mas no sentido antropológico e ético, como queria Lombardo.

Eles são o amor pelo fim e o amor pelos meios. O amor acompanhado pela fruição do fim mais pleno é frui; amor acompanhado pela fruição dos meios é uti. Portanto: amor perfeito e amor imperfeito, amor pelos fins e amor pelos meios. Assim, no início do livro das Sentenças, os referidos comentadores viram uma oportunidade excepcional para enfatizar que o teólogo só pode iniciar bem a sua especulação profissional se estiver amparado por um amor perfeito e um amor pelos fins. Se não se ama desta maneira, é melhor não começar a fazer Teologia. O gozo que serve de indicador teológico não é nenhum prazer ou deleite, mas a fruição (frutio): é o amor jubiloso que alguém tem pela última coisa que se espera, isto é, pelo fim.

E o uso, em sentido estrito, não ocorre propriamente senão com respeito às coisas que se ordenam ao fim. Em todo o caso, as realidades a serem desfrutadas estão, para nós, dentro das próprias coisas a serem usadas (In I Sent. d1 q3 a11). De rebus ou realidades teológicas tratam os três primeiros livros da obra de Lombardo. 

 

DE REBUS:

 

Res quibus fruendum est – Deus é a única realidade que devemos desfrutar, pois é o nosso fim último, como Unidade e Trindade; isto é, Deus uno em essência e trino em pessoas ………………………………………… (PRIMEIRO LIVRO).

 

Res quibus utendum est – Meios que devemos utilizar para chegar a Deus: criaturas espirituais e corporais. Aqui trata-se de Deus e sua criação, juntamente com a queda e a Graça ………………………………………… (SEGUNDO LIVRO).

 

Res quae fruuntur et utuntur – Trata-se especialmente do homem concreto, caído e redimido. É considerada a Encarnação do Verbo e sua obra de Redenção, juntamente com as virtudes, os dons do Espírito Santo e os Mandamentos ………………………………………… (TERCEIRO LIVRO). 

DE SIGNISÚltimo livro. Trata dos sacramentos como sinais sagrados e dos fins últimos ………………………………………… (QUARTO LIVRO) 

 

Além dos célebres Comentários a esta obra, já referidos [7] Pe. Stegmüller fez uma apreciável apresentação e descrição dos manuscritos no Repertorium commentariorum in Sententias Petri Lombardi, t. 1-2, Schöningh, Würzburg, 1947. Este repertório é … Continue reading , houveram outros trabalhos de preparação de aulas (no caso dos professores) ou exames (no caso dos discípulos) que conduziram a inumeráveis ​​resumos, compêndios e inventários das Sentenças, cujo valor não é muito alto, mas que expressam historicamente por si só o zelo com que a obra de Lombardo foi lida. E é claro que é impossível entender baixa Idade Média sem ter penetrado nesta obra. 

 

 

       2. O comentário de Tomás de Aquino


 

a) O lugar do Comentário entre os escritos do Aquinate:

Também não é possível compreender a obra de Santo Tomás sem levar em conta – e em primeiro lugar – aquele primeiro esforço de síntese que supõe o Comentário das Sentenças: na realidade, muitos dos conteúdos que ele expôs posteriormente encontram-se nuclearmente nesta admirável obra. [8]Uma síntese geral, documentada e exata sobre a produção de Santo Tomás pode ser vista em: James Athanasius Weisheipl, Tomás de Aquino: vida, obras y doctrina, Eunsa, Pamplona, 1994; e J.-P. … Continue reading Além disso, Tomás de Aquino nunca teve esta obra como exemplar desatualizado ou obsoleto, pois dez anos depois de escrevê-la, voltou a dar aulas sobre ela. Como já foi dito, a obra do Magister Sententiarum teve um sucesso incomparável: foi o texto obrigatório no ensino da teologia, do século XIII ao século XVI.

Para o aluno que estudava teologia na Universidade de Paris e desejava concluir os diferentes graus da licenciatura, era obrigatório que se familiarizasse com o livro de Lombardo. Primeiro, ele tinha que obter um diploma de Bacharel Bíblico (após dois anos de estudo); depois, o bacharelado (depois de dois anos comentando as Sentenças); finalmente, o grau de Mestre (depois de quatro anos fazendo disputas, e não antes de completar 35 anos).

Cada Comentário as Sentenças costumava ser dividido em quatro partes:

1ª Divisão do texto (divisio textus);

2ª Exposição esquemática do texto (expositio textus); 

3ª Problemas sobre o texto (dubia circa litteram);

4º Comentário em forma de questões (quaestio);

Todos os escolásticos foram forçados a derramar seus ensinamentos neste molde metódico, reconhecidamente bastante brando e espiritualmente sem imaginação. Talvez por isso, a exposição escolar das Sentenças tenha evoluído rapidamente, tornando a quaestio o momento crucial. Da mesma forma, cada autor que comenta as Sentenças vê na própria exposição uma oportunidade de mostrar seu talento e suas próprias ideias. O hábito restrito de expor essas divisões tinha o potencial de suscitar, entre os comentadores, iniciativas mais livres e com grande carga teórica. Comentários sobre as Sentenças foram escritos por São Boaventura, Santo Tomás de Aquino, Duns Escotos, Ockham, Lutero, Soto e muitos outros.

Nos grandes setores acadêmicos influenciados pelos Dominicanos, o interesse pelas Sentenças diminuiu quando a Summa Theológica foi introduzida: foi o que aconteceu na Itália, por meio de Caetano, e na Espanha – especificamente em Salamanca – por meio de Vitória. Para enquadrar o Comentário de Tomás no seu contexto histórico, é necessário recordar as principais datas da sua vida. Nasceu em 1224/1225, no castelo da família de Roccasecca, sul da Itália (condado de Aquino, nas fronteiras do Lácio e da Campânia). Aos 5 ou 6 anos (1231) ingressou no mosteiro beneditino de Monte Cassino como oblato. De 1239 a 1244 estudou Artes e Filosofia no Studium Generale de Nápoles, conhecendo ali algumas doutrinas de Aristóteles e Averróis (estudou na Europa desde 1230, ou antes).

Aos 20 anos, contra o conselho da família, ingressou (1244) na Ordem dos Pregadores de Nápoles. Ele é imediatamente sequestrado por seus irmãos (1244): mantido primeiro em Montesangiovanni e depois em Roccasecca, onde memorizaria boa parte da Bíblia e estudaria o livro das Sentenças de Pedro Lombardo. Meses depois foi solto (1245), voltando para o convento de Nápoles. Entre 1245 e 1248 estudou em Paris durante três anos escolares, ouvindo Santo Alberto Magno. Depois partiu para Colônia (1248) acompanhando Santo Alberto, com quem continuou seus estudos teológicos, servindo como seu assistente, no Studium Generale criado pela Ordem em 1248. De 1248 a 1252 continuou em Colônia, como discípulo de Alberto Magno, completando sua formação (dos 23 aos 27 anos: um total de cinco anos de estudo, 1245-1250, para obter o bacharelado que lhe permitia lecionar como teólogo).

Copia diretamente o comentário que Alberto compôs sobre De Caelesti Hierarchia (antes de 1248 em Paris). Impregando do pensamento de Alberto, continua o trabalho já iniciado em Paris. Foi aprovado nos cursos de Alberto sobre os Nomes Divinos de Dionísio e sobre a Ética a Nicômaco de Aristóteles. Eles o chamam de “o boi mudo da Sicília”, por causa de seu caráter taciturno. Lá ele começou seus ensinamentos sobre Isaías e Jeremias, dos quais surgiriam a Expositio super Isaiam ad Litteram (1252) e a Super Ieremiam et Trenos (1252). Esse ensino era feito na forma de collationes: pensado como reflexões morais e espirituais agrupadas ou reunidas, e como notas dirigidas à pregação (collatio também designa o sermão que era proferido nas Vésperas), mostrando um amplo conjunto de textos sagrados.

Mas em 1252 foi enviado para Paris, sob sugestão de Santo Alberto, como Bacharel Bíblico (1252-1254): tinha então 27 anos, enquanto os Estatutos da Universidade exigiam, para o efeito, a idade de 29 anos. O Cursorius Biblicus deveria expor rapidamente a letra de dois livros da Escritura sem levantar dúvidas ou questões comoventes. Em seguida, o “bacharel bíblico” tem que se tornar um “bacharel formado” (baccalarius formatus) para se tornar um Mestre na Faculdade de Letras, sendo sua principal tarefa auxiliar o Mestre Elías Brunet nas disputas. Enter 1252 e 1255, Tomás descobre que alguns livros de Aristóteles, oficialmente proibidos desde 1250, são permitidos novamente.

De 1254 a 1256 comentou as Sentenças de Pedro Lombardo em Paris. O tempo de redação se estende desde a obtenção do título de bacharel “formado” até o período seguinte. Ele não considerou seu comentário como definitivo; retocou-o várias vezes e, dez anos depois, retomou-o em suas aulas para os alunos romanos de Santa Sabina. Escreveu também o opúsculo De Principiis Naturae (1252-1256), sob a leitura de Averróis; e depois o De Ente et Essentia (1252-1256) sob a leitura de Avicena. Em 1256 foi nomeado Magister in sacra pagina em Paris. Antes disso, ele teve que completar (por quatro anos) seu Bacharelado Bíblico e seu Bacharelado em Sentenças.

Termina então seus Comentários aos Sentenças, provavelmente já bastante ampliados em relação aos ditados nos cursos. [9]Sobre alguns conteúdos importantes deste Comentário aos Sentenças, cfr. Ch. Lohr, St. Thomas Aquinas Scriptum Super Sententiis: an index of authorities cited, Avebury, Aldershot, 1980; B. … Continue reading Não estamos, portanto, diante de uma simples reportatio feita por um aluno enquanto Tomás explicava, mas de uma obra revisada pelo próprio autor. [10]Foram conservados 78 manuscritos do Livro I, 105 do Livro II, 100 do Livro III, 167 do Livro 4. Há também um manuscrito autografado do terceiro livro, preservado no Vat. Lat. 9851, fol 11ra-99vb … Continue reading Em suas abordagens metafísicas, antropológicas e éticas de maior profundidade intelectual e filosófica, supera os alcances da obra original. [11]Isto foi declarado pelo seu primeiro biógrafo, Guilherme de Tocco na sua Ystoria sancti Thome de Aquinas: “Nas suas lições, introduziu novos artigos, encontrou uma nova e clara forma de … Continue reading

Suas mais de 5.000 páginas provavelmente estavam prontas para edição por volta do ano de 1257. Nessa época ele também escreveu em defesa da vida religiosa: Contra Impugnantes Dei Cultum et Religionem (1256). De 1256 a 1259 ocupou o cargo de Mestre e Regente da cátedra de estrangeiros em Paris. Seu bacharel assistente foi Anibaldo degli Anibaldi (mais tarde cardeal), que fez um resumo dos comentários de São Tomás sobre as Sentenças. Suas funções agora são três: legere, disputare, e praedicare. Legere significa comentar o texto da Bíblia ou as Sentenças. Disputare consiste em estabelecer uma pedagogia ativa, por meio de objeções e respostas sobre determinado tema, mostrando maestria no manejo do método dialético: não há mais texto, apenas discussão. A este respeito, São Tomás desenvolve durante três anos escolares (1256-1259) a Quaestio Disputata De Veritate; e também escreve Super Boetium De Trinitate (1258); começa a Summa Contra Gentiles (I, até o cap. 53); escreve Quodlibet VII-XI e Expositio libri Boetii De Hebdomadibus. Por fim, Praedicare: pregar sobre o Pai, a Ave Maria, o Credo e o Decálogo. Em 1259 Tomás volta para a Itália. Entre 1259 e 1261 viveu em Anagni (visitando Nápoles em 1260).

Lá escreve: Super Iob; Catena Aurea (Mateus); Contra Errores Graecorum; Summa contra Gentiles (II e III). De 1261 a 1265 viveu em Orvieto (visitando Perugia em 1262, Roma em 1263 e Viterbo em 1264). Lá ele escreve: Summa contra Gentiles (IV); Glossa Continua super Evangelia ou Catena aurea (1262-1263); Expositio super Iob ad litteram (1261-65); Super Librum Dionysii De divinis Nominibus (1265). E de 1265 a 1267 viveu em Roma. Lá ele empreendeu – como indicou Ptolomeu de Lucca – uma nova redação ou exposição do Comentário ao primeiro livro das Sentenças. Além do testemunho de Ptolomeu de Lucca, há um manuscrito de Oxford (Lincoln College, ms. lat. 95) que L. Boyle identificou como um relatório da revisão romana (1265-66) do primeiro Livro das Sentenças. Esse manuscrito de Oxford menciona um pseudônimo chamado Fratris Thome: suas anotações pertencem a um anônimo que é fielmente inspirado por Tomás; elas até dizem muito mais do que o antigo texto parisiense, sendo o conteúdo devido ao próprio Tomás; o amanuense anônimo pôde ter nas mãos as aulas romanas que o Aquinate deu em 1265/66 e fez uma “leitura alia” à margem das Sentenças, sobre o texto do comentário de Paris. [12]Sobre os problemas levantados pelo chamado manuscrito de Oxford (Lincoln College, ms. lat. 95) cf. Hyacinthe F. Dondaine: “Alia lendo fratris Thome? (Super I Sent.)”, MS 42 (1980) 308-336; MF … Continue reading 

Da mesma forma, em Roma começa a redação da Summa Theologica (Prima Pars): aqui, ao passar das Sentenças à Summa, pode-se apreciar um progresso perceptível em muitos pontos. Durante a Summa,  Lombardo quase não é mais citado, e nas quarenta vezes que o faz refere-se a ele como uma simples autoridade, às vezes até rejeitada. Ele também escreve: Catena Aurea (Marcos, Lucas, João). De Potentia Dei (1265-66); Sententia libri De Anima (1265-66); Compendium Theologiae; Quaestio Disputatae De spiritualibus Creaturis (1267-68). De 1267 a 1268 viveu em Viterbo (visitando Todi em 1266 e Lucca em 1267). Escreve a Prima Secundae da Summa; a Sententia Libri De Anima (1267-1268) e De Regno ad Regem Cypri (1267). Em 1268 ele volta para Paris. Passa por Bolonha, Milão, Vercelli e Aosta em dezembro. Chega a Paris em janeiro de 1269.

Entre 1269 a 1272, completa sua segunda cátedra em Paris. Termina: Sententia Libri De Sensu et Sensato (1268-1270); De Perfecte Spiritualis Vitae (1269); Sententia super Physicam (1268-1269); Sententia Libri Politicorum (1269-1272); Sententia super Meteora (1270); Sententia Metaphysicam (1271-1272); Expositio Libri Peryermenias (1270-1271); Expositio Libri Posteriorum I Pars, segundo a exposição de Juan de Venecia (1271). A Prima Secundae da Summa (1271); De Substantiis Separatis (1271); Secunda Secundae (1271-1272). Lectuta super Matthaeum (ano escolar 1269-1270); De Perfecte Spiritualis Vitae (1269-1270); Em Ioannem (1270-1272); De Malo (1269-1271); Quodlibet I-VI e XII; Questiones Disputatae De Virtutibus (1269-1271); Sententia Libri Ethicorum (1271-1272); De Unitate Intelligentus contra Averroistas (1270); De Aeternitate Mundi (1271); Quaestio Disputata De unione Verbi Incarnati (1272); Quodlibet I-IV e XII; Super Librum De causis (1272).

No ano de 1272 ele volta para a Itália. De 1272 a 1273 leciona na Universidade de Nápoles. Escreve boa parte da Tertia Pars de la Summa (qq 1-90, dezembro de 1273); Em Ad Romanos; Super Salmos; Expositio Libri Posteriorum, Pars II, segundo a tradução de Moerbeke (1272); Sententia super Librum De Caelo et Mundo (1272-1273); Sententia Super Libros De Generatione et Corrupte (1272-1273). Mas em 1273 [13]Para obter uma visão aproximada da bibliografia existente sobre São Tomás, é essencial consultar: Vernon Josef Bourke: Thomistic bibliography, 1920-1940, McMullen, St. Louis, 1945. Pierre Félix … Continue reading ele parou de escrever. Descansou no Castelo de San Severino, parando primeiro no Convento de Salerno. Em janeiro de 1274, ele empreendeu uma viagem ao Conselho de Lyon; mas, doente, morreu antes de chegar, na abadia cisterciense de Fosanova em 7 de março daquele mesmo ano. [14]Desde o momento da morte de São Tomás houve duras injúrias contra ele: em 1277, Etienne Tempier, bispo de Paris, condenou 219 proposições tachadas de heterodoxas, tentando abrir um processo … Continue reading

No que diz respeito ao tratamento metódico do Comentário, São Tomás inicia cada distintio com uma divisio textus, seguida de uma série de perguntas distribuídas sucessivamente em artigos e, em alguns casos, também em subquestões (as quaestiunculae). Termina com uma expositio textus que é um comentário literal. [15]Scriptum super Sententiis, P. Mandonnet ed., 2 volumes, Paris 1929 (Livros I e II); MF Moos, ed., 2 volumes, Paris 1933 e 1947 (Livro III; Livro IV até dist. 22); Vivès tomos 6-7, 1/2; Vìvès … Continue reading Entre os autores aos quais São Tomás se refere em seu Comentário estão os seguintes: Aristóteles, citado mais de 2.000 vezes (com 800 citações da Ética a Nicômaco, 300 citações da Metafísica, 300 da Física, 250 citações do livro De Anima). Santo Agostinho, citado cerca de 1.000 vezes; Pseudo-Dionísio, 500 vezes; São Gregório Magno, 280 vezes; João Damasceno, 240 vezes. Além destes, muitos outro são citados ao decorrer da obra.

Apesar do que já foi dito sobre a importância da obra de Lombardo, quando o leitor de hoje começa a ler o texto das Sentenças, quer terminar o quanto antes o árduo florilégio, para passar ao suculento, simples e profundo comentário de São Tomás, sempre “além de Lombardo”, pois o seu conteúdo e a sua inspiração já não são as dele. Por exemplo, Lombardo escreve apenas uma página para a distinção 33 do Terceiro Livro; mas Santo Tomás desdobra nela nada menos que 3 questões com 13 artigos ao longo de 66 páginas.

 

b) Instanciação dinâmica da ordem real: descensos e regressus:

São Tomás em seu Comentário às Sentenças, coloca Deus como centro de todas as coisas, segundo a relação de descensus e regressus; isto é, na medida em que vêm dele como origem e na medida em que a Ele retornam como fim último. No prólogo Santo Tomás explica a intenção do Livro das Sentenças sob este esquema. Propõe em quatro conceitos um projeto teológico abrangente que tem a Cristo como protagonista: manifestação dos arcanos da Divindade; produção das obras das criaturas; restauração das criaturas; aperfeiçoamento destas, no sentido de que “cada um é perfeito na medida em que atinge o seu fim”. Cada um dos Livros de Lombardo serviria respectivamente para expor um desses conceitos. 

I – A manifestação da vida divina trinitária pertence à sabedoria de Deus, porque se sabemos algo sobre Ele, é necessário que seja derivado dele. Esta manifestação se faz especialmente através do Filho, que é a Sabedoria e Palavra do Pai. Por Ele conhecemos que o Filho, de modo inefável, procede do Pai; e que o Espírito Santo procede de ambos. Assim, a Trindade aparece. O primeiro livro trata disso.

II – A produção das criaturas vem de Deus, pois Ele possui sabedoria especulativa e operativa das coisas criadas, “como o artesão possui dos artefatos”. São Tomás enfatiza que isso também é atribuído especialmente ao Filho, pois “ele é a imagem do Deus invisível, em cuja forma todas as coisas foram formadas”. De modo que a ordem da criação – o processo temporal das criaturas – tem sua causa exemplar no “processo eterno das Pessoas”. Esta exemplificação genética da criação (pouco notada em Lombardo) é energicamente sublinhada por Tomás de Aquino, dizendo que “sendo que o primeiro é a causa do que vem depois”, verifica-se que “o primeiro processo é a causa e a razão de toda procissão seguinte”. Só que a criatura vem de Deus, aquém da unidade essencial contido o fluxo de Pessoas. O segundo livro trata desse assunto. 

III – Restauração de obras. Visto que uma coisa “deve ser reparada por quem a fez”, verifica-se que esta reparação foi realizada especialmente por meio do Filho, pois “assim que se fez homem, reparou o estado de homem, e de certo modo todas as coisas que, por causa do homem, foram feitas”. Essa restauração ocorre “com certo impulso de amor”, tornando-se o próprio Cristo o aqueduto por onde fluem os gêneros das várias graças para plantar a Igreja. “E este é o assunto do terceiro livro: na primeira parte trata dos mistérios da nossa reparação; no segundo, das graças que nos foram conferidas por Cristo”.

IV – Perfeição, “pela qual as coisas são preservadas em seu fim”. Pois uma coisa é bem governada ou arranjada quando é colocada em seu fim, o que naturalmente deseja. E isso também pertence especialmente ao Filho de Deus, “que nos conduziu à glória da herança paterna”. No entanto, para atingir o objetivo são necessárias duas etapas: preparação e condução. Em primeiro lugar, requer-se uma preparação – que ocorre através dos sacramentos –, porque “por meio dele se elimina tudo o que não corresponde ao fim; assim também Cristo, para nos levar ao fim da glória eterna, preparou o remédio dos sacramentos, com os quais se faz desaparecer de nós a ferida do pecado”; e o que Cristo rega com os rios dos sacramentos que fluem do seu lado, é dispensado pelos ministros da Igreja. Em segundo lugar, é necessário que os fiéis da Igreja, nascidos por Cristo com o seu sofrimento, sejam conduzidos à glória: o fruto deste nascimento são os santos que estão na glória, que são a maturidade da obra de Cristo. “Nisto alude à questão do quarto livro; em cuja primeira parte trata dos Sacramentos; no segundo, da glória da Ressurreição”.

Como foi apontado, São Tomás conecta metodicamente esse dinamismo do exitus (manifestação divina, produção de criaturas) e reditus (restauração e perfeição) com a dupla relação interna da vida íntima de Deus: por um lado, a procissão do Verbo do Pai aprofunda a eficácia de Deus na criação; por outro lado, a expiração do Espírito Santo modula a causalidade formal da graça que permite o retorno das criaturas a Deus. Todas as criaturas, tanto espirituais quanto materiais, parecem profundamente dinamizadas:

Na saída das criaturas do primeiro princípio, considera-se certo processo circular ou de retorno, na medida em que todas as coisas voltam, como no fim, para aquilo de onde surgiram desde o princípio. E, por isso, é preciso que a volta ou retorno ao fim seja considerado segundo as mesmas coisas com que se produziu a saída. Assim, como a procissão das pessoas é a razão pela qual as criaturas são produzidas desde o início, assim também a mesma procissão é a razão pela qual elas retornam ao fim, pois, como fomos criados por meio do Filho e do Espírito Santo, da mesma forma, por meio deles, estaremos unidos até o fim último […]. De acordo com isso, a procissão das pessoas divinas em direção às criaturas pode ser considerada de duas maneiras. Primeiro, na medida em que é a razão de terem surgido desde o princípio; e, assim, a procissão é considerada segundo os dons naturais, nos quais subsistimos, como diz Dionísio: que a sabedoria ou bondade divina procede para as criaturas […]. Em segundo lugar, também pode ser considerada na medida em que é a razão pela qual elas retornam; e esta procissão só acontece segundo os dons que nos unem intimamente ao fim último: Deus; e estes dons são a graça e a glória santificantes“. [16]I Sent. 14 q2 a2. “E como as procissões eternas das pessoas são a causa e a razão de toda a produção das criaturas, portanto é necessário que, da mesma forma que a geração do Filho … Continue reading

A partir dessa abordagem sistemática, a distinção agostiniana entre res e signa realmente vem em segundo lugar. E embora se possa afirmar que nesta abordagem é clara a influência do esquema neoplatónico (de exitus e reditus), a ligação que São Tomás faz entre a circularidade da ordem real e a dinâmica da vida divina, ambas na sua constituição interior e em sua projeção externa, injeta no antigo esquema neoplatônico surpreendentes possibilidades de conteúdo e método: tanto as pessoas divinas quanto os dons naturais e sobrenaturais são acentuados verticalmente pela causalidade exemplar que tenciona o elo criador de partida e retorno:

Da mesma forma que, na saída (exitu) as coisas fazem desde o princípio, se diz que a bondade divina procede para as criaturas, na medida em que na criatura é representada, por semelhança, a bondade divina recebida. Assim, entende-se também que a procissão da pessoa divina está no redirecionamento da criatura racional para Deus, na medida em que a própria relação da mesma pessoa divina é representada na alma por meio de certa imagem recebida que é modelada como exemplar – mente e originada (exemplata et originata) pela mesma propriedade da relação eterna; e assim como o modo próprio pelo qual o Espírito Santo se refere ao Pai é o amor, o modo próprio pelo qual o Filho se refere ao Pai é a sua palavra (verbum ipsius) que o manifesta. Portanto, assim como o Espírito Santo passa invisivelmente a estar na mente pelo dom do amor, assim também o Filho pelo dom da sabedoria: neste dom se encontra a manifestação do próprio Pai. E como a semelhança com o que é próprio das pessoas divinas é produzida em nós pela recepção desses dois dons, portanto, devido ao novo modo de ser, e na medida que uma realidade está na sua semelhança, se diz que as pessoas divinas estão em nós, na medida em que nos assemelhamos a elas de um novo modo […]. Além disso, como as coisas ditas acima são originadas pelo que é próprio das pessoas, também somente em virtude das pessoas divinas elas alcançam seu efeito de unir até o fim: pois na forma impressa por um agente está a virtude do agente que imprime. Portanto, na recepção desse tipo de dom, as pessoas divinas são possuídas, de uma maneira nova, como conducentes a um fim, ou como unindo-se a ele“. [17] I Sent, d15 q4 a1.

Também na Suma Teológica Santo Tomás reorganiza a teologia seguindo a ordem do exitus e reditus – cuja diretriz está no modelo neoplatônico de emanação e retorno. Ele procura fundar uma teologia do Deus vivo em seu Filho, Cristo, que é a Sabedoria divina, e a cuja comunhão beatífica os homens devem retornar. [18]Cfr. F. Emery: La Trinité creatrice. Trinité et création dans les commentaires aux Sentences de Thomas d’Aquin et ses précurseurs Albert la Grand et Bonaventure, Vrin, Paris, 1995, 249-301; … Continue reading Talvez pela unidade de foco que é mantida em ambas as obras, poderíamos acreditar que é obrigatório fazer algum tipo de comparação entre o Comentário das Sentenças e a Summa Teológica, para extrair possíveis concordâncias. Chenu já alertou que essa tentativa tem seus limites; porque não seria frutífero consultar o trabalho de sua juventude apenas “para encontrar algumas fórmulas e argumentos” que acompanham a leitura da Suma; ou procurar concordâncias e lugares paralelos; ou explicar por meio de textos amplos das Sentenças algumas passagens concisas da Suma.

É melhor fundamentado e proveitoso buscar principalmente em cada uma dessas obras o momento genético daquelas intuições fundamentais que as fazem desabrochar. Por exemplo, como Weisheipl indica, na filosofia: a distinção real entre ser e essência nas criaturas, a ausência de composição hilomorfa nas substâncias separadas, a potencialidade pura da matéria prima, a unidade da forma substancial nas criaturas corpóreas, a teoria do intelecto agente e do intelecto possível no homem como potências da alma individual, a afirmação de que a matéria determinada ou marcada pela quantidade é o único princípio de individuação natural; e na teologia: a união hipostática da natureza humana em Cristo, a transubstanciação do pão e do vinho no Corpo e Sangue de Cristo, a infinita diferença e distinção entre natureza e Graça.

Evidentemente, na Suma não é tão explícito como no Comentário das Sentenças, a teologia do signo ou o conceito de filiação. O Comentário é uma obra eminente e talentosa, e em substância já representa o pensamento genuíno de São Tomás em Filosofia e Teologia; uma questão diferente é o evidente amadurecimento filosófico e teológico gradual de Tomás de Aquino. Apenas algumas teorias secundárias que ele expõe em seu Comentário são posteriormente abandonadas. [19]As referidas teorias divergentes foram recolhidas e devidamente justificadas por Capreolo (†1444) ao longo das suas Defensiones Theologiae (1409-1433), que se organizam sob a forma de teses ou … Continue reading Tanto nas Questiones Disputatae como na Summa Theologiae, pode-se apreciar não só o progresso qualitativo e técnico, mas também uma visão mais orgânica. Assim, algumas tentativas de ordenar concordâncias, observando o foco central e o progresso qualitativo da doutrina, não são ensaios desprezíveis. [20]R.-A. Gauthier, “Les Articuli in quibus frater Thomas melius dicit in Summa quam in Scriptis”, Recherches de Théologie Ancienne et Médiévale, 1952 (19), 271-326. Os números 1797-1800 do … Continue reading

 

 

References

References
1 Tradução: Geovane Campanher.
2 Santo Agostinho, De Div. Quaest., q. 30; PL, 7.40c19.
3 Os aspectos intelectuais mais importantes do período medieval tardio, tanto em método quanto em conteúdo, podem ser encontrados nas obras de Martin Grabmann Die Geschichte der scholastischen Methode, Akademische Druck (, Graz, 1957, reimpresión del original de Herder, Freiburg, 1911, v. I y II), M.-D. Chenu (La théologie au douzième siècle, Vrin, Paris, 1957; Introduction à l’étude de saint Thomas d’Aquin, Vrin, París, 1950), Joseph de Ghellinck (Patristique et Moyen Âge: études d’histoire littéraire et doctrinale, nouvelle éd. rev. et augm., édition Universal, Bruxelles, 1949-1961), Palémon Glorieux (La Faculté des arts et ses maîtres au XIIIe siècle, Vrin, Paris. 1971), A. M. Landgraf (Introduction á l’histoire de la littérature théologique de la scholastique naissant, Institut d’Études Médiévales/Montréal, Vrin, Paris, 1973), Jacques Verger (Culture, enseignement et société en Occident aux XIIe et XIIIe siècles, Presses Universitaires de Rennes, Rennes, 1999), Constante Marabelli (Medievali & medievisti: saggi su aspetti del medioevo teologico e della sua interpretazione, Jaca Book, Milano,  2000).
4 Marcia Colish considera que a obra de Lombardo tem sido injustamente dsevalorizada –. por Grabmann, Ghellink e Chenu – já que não teria sido levado em conta o contexto histórico ou a situação da teologia na primeira metade do século XII. Colish acredita que Lombardo proporcionou avanços tanto na concepção da matéria doutrinária, quanto na aplicação da analogia e dos símbolos, bem como na configuração da linguagem teológica, capaz de satisfazer as exigências doutrinárias. (Cf. ML Colish, Peter Lombard, vol. 1-2, Brill, Leiden New York-Köln, 1994, I, 4-10, 85-88, 152-153). Embora Colish abra pontos de vista interessantes sobre Lombardo, o julgamento que ele emite sobre alguns historiadores do século passado – Grabmann, por exemplo – é exagerado e incorreto, pois esses autores já haviam percebido muitas das novidades destacadas por Colish.
5 Cf. por Pedro Lombardo: Opera omnia, I-II, Paris 1879/1880 (MPL 191-192). Libri Sententiarum, I-II, ed. Colegii S. Bonaventurae, Florenz, 1916 (sob o título: Sententiae in IV libris distinctae, I-II, Grottaferrata 1971/1981). Thesaurus Librorum Sententiarum Petri Lombardi, ed. J. Amese, Brepols, 1991. Sobre esta obra de Lombardo, cf. Ph. Delaye, Pierre Lombard: Sa vie, ses oeuvres, sa morale, Vrin, Montreal, 1961. ML Colish, Peter Lombard, vol. 1-2, Brill, Leiden-New-York-Köln, 1994.
6 Peter Abailard, Sic et Non, A Critical Edition Blanche B. Boyer e Richard McKeon, The University of Chicago Press, Chicago e Londres, 1976-1977. Cfr. J. Jolivet, Art du language et théologie chez Abélard, Vrin, Paris, 1969.
7  Pe. Stegmüller fez uma apreciável apresentação e descrição dos manuscritos no Repertorium commentariorum in Sententias Petri Lombardi, t. 1-2, Schöningh, Würzburg, 1947. Este repertório é aumentado por, entre outros, V. Doucet, Commentaires sur les Sentences. Suplemento ao repertório de M. Frédéric Stegmueller, Typ. Faculdade sim. Bonaventurae, Ad Claras Aquas, Florentiae, 1954; J. van Dyk, “Thirty Years since Stegmüller. A Biographical guide to the Study of Medieval Sentences comentaries”, Franciscan Studies, 1979 (39), 255-315.
8 Uma síntese geral, documentada e exata sobre a produção de Santo Tomás pode ser vista em: James Athanasius Weisheipl, Tomás de Aquino: vida, obras y doctrina, Eunsa, Pamplona, 1994; e J.-P. Torrell, Iniciación a Santo Tomás de Aquino. Su persona y su obra, Colección de Pensamiento Medieval y Renacentista, Eunsa, Pamplona, 2002.
9 Sobre alguns conteúdos importantes deste Comentário aos Sentenças, cfr. Ch. Lohr, St. Thomas Aquinas Scriptum Super Sententiis: an index of authorities cited, Avebury, Aldershot, 1980; B. Bernardi, Studio sul significato di ‘esse’, ‘forma’, ‘essentia’, nel primo libro dello Scriptum in libros Sententiarum di San Tommaso d’Aquino, Lang, Bern, 1984; F. Ruello, La notion de vérité chez Saint Albert le Grand et Saint Thomas d’Aquin de 1243 à 1254, Nauwelaerts, Louvain, 1969; F. Emery, La Trinité creatrice. Trinité et création dans les commentaires aux Sentences de Thomas d’Aquin et ses précurseurs Albert le Grand et Bonaventure, Vrin, Paris, 1995.
10 Foram conservados 78 manuscritos do Livro I, 105 do Livro II, 100 do Livro III, 167 do Livro 4. Há também um manuscrito autografado do terceiro livro, preservado no Vat. Lat. 9851, fol 11ra-99vb (III d4 q2 a2 arg5 até d34 q2 a2 sol2 ad2). Este autógrafo foi estudado por Antoine Dondaine em Sécrétaires de saint Thomas, Commissio Leonina, Romae ad Sanctae Sabinae, 1956; e por Pierre-Marie Gils, “Textes inédites de S. Thomas. Les premières rédac- tions du Scriptum super Tertio Sententiarum”, Revue des Sciences Philosophiques et Théolo- giques, 1961 (45), pp. 201-228, 445-462, 609-628.
11 Isto foi declarado pelo seu primeiro biógrafo, Guilherme de Tocco na sua Ystoria sancti Thome de Aquinas: “Nas suas lições, introduziu novos artigos, encontrou uma nova e clara forma de resolver questões, acrescentando novas razões às soluções” (XV, 15-28). Como Tocco não podia estar em Paris quando Aquino estava comentando as Sentenças, alguns críticos sustentam que as suas frases são apenas um empréstimo literário, cuja fonte é Tomás de Celano. Cf. Réné Antoine Gauthier, Somme contre les Gentils de Saint Thomas d’Aquin, Éditions Universitaires, Paris, 1993, 93. Seja qual for o testemunho de Tocco, o que é certo é que basta seguir o desenvolvimento que São Tomás dá ao seu Comentário para perceber que o que Tocco diz é completamente verdadeiro: os antigos e modernos magistri também aparecem com abundante documentação: não só sobre autores cristãos, mas também fontes filosóficas e científicas.
12 Sobre os problemas levantados pelo chamado manuscrito de Oxford (Lincoln College, ms. lat. 95) cf. Hyacinthe F. Dondaine: “Alia lendo fratris Thome? (Super I Sent.)”, MS 42 (1980) 308-336; MF Johnson, “Alia lectura fratris Thome? A list of the New Texts found in Lincoln College, Oxford, MS Last. 95”, RTAM 57 (1990) 34-61. Léonard Eugène Boyle: Facing history: a different Thomas Aquinas, with an introduction by with an introduction by J.-P. Torrell, Louvain- La-Neuve, Federation Internationale des Instituts d’Etudes Médiévales, 2000. Cfr. también L.J. Bataillon: “Bulletin d’historie des doctrines médiévales”, Revue des Sciences Philosophi- ques et Théologiques, 1989 (73) 591; y Mark Johnson, “Alia lectura fratris Thomae. A List of the New Texts of St Thomas Aquinas found in Lincoln College, Oxford, MS. Lat 95”, Recher- ches de Théologie Ancienne et Médiévale, 1990 (57) 34-61.
13 Para obter uma visão aproximada da bibliografia existente sobre São Tomás, é essencial consultar: Vernon Josef Bourke: Thomistic bibliography, 1920-1940, McMullen, St. Louis, 1945. Pierre Félix Mandonnet: Bibliographie thomiste, de P. Mandonnet et J Destrez (2ème. ed. rev. et complétée par M.-D. Chenu), Vrin, Paris, 1960. Rassegna di letteratura tomistica, Pontificia Università S. Tommaso d’Aquino, Edizioni Domenicane Italiane, Napoli, 1969. CD Boulogne: Saint Thomas d’Aquin, essai bibliographique, Paris 1968.
14 Desde o momento da morte de São Tomás houve duras injúrias contra ele: em 1277, Etienne Tempier, bispo de Paris, condenou 219 proposições tachadas de heterodoxas, tentando abrir um processo contra a doutrina de Tomás; Em 1277, Robert Kilwardby, arcebispo dominicano de Canterbury, condenou proposições de inspiração tomista em Oxford; e em 1284, Juan Pecham, arcebispo franciscano de Canterbury, confirmou (29 de outubro) as sentenças de seu predecessor. Contudo, em 18 de julho de 1323, João XXII proclamou a canonização de Tomás em Avignon. E em 15 de abril de 1567, o Papa São Pio V o declarou “Doctor Ecclesiae”.
15 Scriptum super Sententiis, P. Mandonnet ed., 2 volumes, Paris 1929 (Livros I e II); MF Moos, ed., 2 volumes, Paris 1933 e 1947 (Livro III; Livro IV até dist. 22); Vivès tomos 6-7, 1/2; Vìvès tomos 7-11. Cf. PM Gils, “Textes inédites de S. Thomas: les premières rédactions du Scriptum super Tertio Sententiarum”, Revue des Sciences Philosophiques et Théologiques, 1961 (45), 445-462 e 609-628.
16 I Sent. 14 q2 a2. “E como as procissões eternas das pessoas são a causa e a razão de toda a produção das criaturas, portanto é necessário que, da mesma forma que a geração do Filho seja a razão de toda a produção da criatura. Se diz que o Pai fez todas as coisas no Filho, assim também que o amor do Pai, tendendo ao Filho como seu objeto, é a razão pela qual Deus concede abundantemente todo efeito de amor às criaturas; e daí resulta que o Espírito Santo, que é o amor com que o Pai ama o Filho, é também o amor com que ama a criatura, comunicando-lhe a sua perfeição.” I Sent. d14 q1 a1.
17 I Sent, d15 q4 a1.
18 Cfr. F. Emery: La Trinité creatrice. Trinité et création dans les commentaires aux Sentences de Thomas d’Aquin et ses précurseurs Albert la Grand et Bonaventure, Vrin, Paris, 1995, 249-301; M. Corbin, Le chemin de la théologie chez saint Thomas d’Aquin, Beauchesne, Paris, 1974, 109-290.
19 As referidas teorias divergentes foram recolhidas e devidamente justificadas por Capreolo (†1444) ao longo das suas Defensiones Theologiae (1409-1433), que se organizam sob a forma de teses ou conclusões, no limite dos quatro livros do Comentário às Sentenças de São Tomás. As Defesas de Capreolo constituem um epítome sistemático bem-sucedido de textos retirados das obras de São Tomás.
20 R.-A. Gauthier, “Les Articuli in quibus frater Thomas melius dicit in Summa quam in Scriptis”, Recherches de Théologie Ancienne et Médiévale, 1952 (19), 271-326. Os números 1797-1800 do Bulletin Thomiste dão conta (pp. 935-943) de outras tentativas semelhante.

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