Em Beta, todos os relacionamentos são entre opostos – e são ativos e passivos, relativamente ativos e passivos. Assim, “a parte ativa de um age sobre a parte passiva do outro e vice-versa”. [1] Mário Ferreira dos Santos – A Sabedoria das Leis Eternas – Pág.: 65 Podemos citar, como exemplo, o símbolo chinês Yin-Yang. Há entre eles um exercício mútuo. Essa interação ocorre porque “Yang não é puramente ativo, nem Yin é puramente passivo. Yang é principalmente passivo-ativo e o outro é principalmente passivo-ativo”. [2] Ibidem Em tudo no Beta, em todos os seres finitos, a interação ocorre no desempenho efetivo – na proporção da natureza não só do efetivo, mas também da eficiência daquele que está sendo determinado.
No Beta, cada entidade sempre mostra alguma resistência e alguma passividade. Podemos usar a questão do determinismo e do livre-arbítrio. O livre-arbítrio só pode existir onde há resistência a algo que possui o determinismo, enquanto o determinismo só pode funcionar como um inibidor do livre-arbítrio. Caso não houvesse livre-arbítrio, o determinismo seria instinto ou programação, e, caso fosse o inverso, livre-arbítrio seria liberdade absoluta. Um produz sua ação no outro, só pode existir com o outro em um sistema de reciprocidade. Quanto mais um, menos o outro – mas o outro nunca desaparece.
O exercício da minha liberdade, e seu envolvimento, é feito apenas de acordo com minha vontade, a menos que as circunstâncias excedam minha capacidade de combatê-la – mas, mesmo nesses casos, posso ser livre, desde que meu livre arbítrio supere o determinismo que o ambiente dita. Da mesma forma que um tijolo só pode ser moldado se devido à resistência do barro, e essa resistência devolve uma energia “delimitante sobre a forma que a causa eficiente busca imprimir nela” [3]Mário Ferreira dos Santos – A Sabedoria das Leis Eternas – Pág.: 68 , então só posso exercer meu livre arbítrio em cima da força contrária a qual o determinismo impõe.
A partir disso, podemos estabelecer a lei da reciprocidade. “Os opostos analogados, nas suas relações, mais do que interatuam: reciprocam-se”. [4] Ibidem Essa lei é observável em todos os entes que possuem oposições intrínsecas. Suas oposições sempre irão formar opostos análogos – exercendo uma ação mútua de um sobre os outros, nas oposições e interatuações extrínsecas.
Tudo do contexto Beta, quando observadas, analisadas e descritas, pode ser: “unitariamente em si, diadicamente nas suas oposições, ternariamente na sua série (nas suas relações e também como começo, meio e fim) e quaternariamente como resultado da reciprocidade dos opostos, os quais se interatuam proporcionadamente à sua capacidade determinante e à sua capacidade determinável“. [5] Mário Ferreira dos Santos – A Sabedoria das Leis Eternas – Pág.:66 “Discurso é … o trânsito do acreditado ao acreditável, por meio de um encadeamento de nexos“. [6] Olavo de Carvalho – Aristóteles em nova Perspectiva – pág.: 45
Sabemos que todo discurso é movimento. Após analisar os elementos necessários para realizar esse movimento, ele deixa de ser uma mera movimentação entre possíveis proposições, para se tornar algo mais refinado e estruturado – um trânsito. Como unidade, podemos observar esse trânsito do discurso, o qual se dá no campo delimitado que se inicia quando as condições já são acreditadas – ou tidas como verdadeiras -, e continua até o acreditável – onde as conclusões que o locutor quer trazer ao interlocutor são tidas como conclusivas. Tudo isso será feito através de um encadeamento de nexos, o que permitirá que toda a estrutura seja uma única unidade.
Essa unidade apresentada exibe uma unidade formada por outras unidades menores, e que possuem as suas próprias classificações e categorias de elementos internos – as quais podem ser ainda graduadas conforme a intensificação com que elas têm o seu efeito. Observamos que essa unidade discursiva é propositalmente, e facilmente, decomponível, apresentando possibilidades de variação – devido a essa definição ser abstraída e delimitada dos quatro discursos. Esse fracionamento, que o percurso do trânsito discursivo possui, é produto dessa derivação que ele tem. Na definição encontramos quatro elementos: o trânsito, o acreditado, o acreditável, e o encadeamento de nexos – este último, responsável por dar unidade aos outros elementos.
Apesar de o encadeamento de nexos dar unidade, é preciso que algo ligue todos esses elementos, e que ainda consiga levar em consideração as divisões internas que todos possuem – pois,, separadamente, cada um possui a sua unidade; eles isoladamente são unidades, e apenas juntos é que podem formar a unidade discursiva. Interessante torna-se o fato de que o discurso foi tido primeiramente como movimento, e após isso como um trânsito, sendo esse primeiro elemento citado em sua definição. Esse ato faz com que a relação entre o acreditado, o acreditável, no encadeamento de nexos aconteça; sem ele temos apenas elementos soltos – que podem ser descritos dicionariamente, e analisados e pormenorizados como objetos de estudo próprio, mas que não formarão jamais, nesse estado, a definição de discurso. O trânsito é o responsável por ser a relação a qual é estabelecida pelas partes que compõem a definição de discurso.
Cada elemento da definição de discurso tem sua própria unidade, então cada um tem sua própria atividade e passividade, quando conectados por meio do trânsito discursivo. Cada parte que compõe o discurso tem sua própria qualidade, portanto tem a sua proporção própria de atividade e passividade – quando agem, e quando aceitam a atuação dos outros sobre eles -, e tudo isso servirá para compor como o discurso será apresentado – tomado em sua unidade, caso ocorra dele ser eficaz ou malogrado. As premissas, por exemplo, por já serem conhecidas e tomadas como verdadeiras, possuem um certo nível de passividade superior ao dos outros elementos – sua função é fornecer a base de sustentação para o motivo do discurso ocorrer, daí na definição de discurso elas serem apresentadas como acreditada; mas podem ser ativas quando são implícitas, afinal, elas podem modificar o discurso sem que a percepção do interlocutor o saiba.
References
↑1 | Mário Ferreira dos Santos – A Sabedoria das Leis Eternas – Pág.: 65 |
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↑2, ↑4 | Ibidem |
↑3 | Mário Ferreira dos Santos – A Sabedoria das Leis Eternas – Pág.: 68 |
↑5 | Mário Ferreira dos Santos – A Sabedoria das Leis Eternas – Pág.:66 |
↑6 | Olavo de Carvalho – Aristóteles em nova Perspectiva – pág.: 45 |