Temos ainda de apontar, neste prolegômenos, o erro que muitos cometem, a saber: colocar o Marx antes como revolucionário, defensor da tomada revolucionária do Estado, do que como libertário.
Capítulo III
Deixemos, então, que o Rubel esclareça: “O marxismo nasceu e se desenvolveu quando a obra de Marx ainda não era acessível em sua totalidade e partes importantes dela permaneciam inéditas. Assim, o triunfo do marxismo como doutrina de Estado e ideologia partidária precedeu por algumas décadas a divulgação dos escritos em que Marx expôs de maneira mais clara e completa os fundamentos científicos e as intenções éticas de sua teoria social… [o que ] já seriam suficientes para mostrar que o marxismo é o maior, se não o mais trágico, mal-entendido deste século“. [1] Rubel , p.27 – “Marx, teórico do anarquismo”.
Destacamos o peso que tem as palavras a que se seguem, afinal: estamos falando de um dos maiores “marxólogos” do século XX: “Portanto, é preciso lembrar que,ao defender a causa da emancipação dos trabalhadores, Marx o fez a partir da tradição do anarquismo e não do socialismo ou do comunismo. E quando ele finalmente decidiu se definir como “comunista”, esse termo não se referia a uma das correntes então existentes do comunismo, mas a um movimento de pensamento e modo de ação que estava por ser fundado, reunindo todos os elementos revolucionários herdados das doutrinas existentes e das experiências de luta do passado. Nas reflexões abaixo, tentaremos mostrar que, sob o nome comunismo, Marx desenvolveu uma teoria do anarquismo“. [2] Rubel , p.28 – “Marx, teórico do anarquismo”.
Aqui o Rubel corrobora com o que desenvolvemos sobre o “Marx Filósofo”, antes de seu encontro com Engels no final de 1842: “Tendo perdido qualquer esperança de uma carreira acadêmica, Marx transferia para o jornalismo político os resultados de seus estudos em filosofia… Marx aproveitou as análises esclarecedoras de Alexis de Tocqueville [3] Gostaríamos que o leitor notasse que Marx era tão culto que chegou até a estudar o Tocqueville – que foi um autor conservador – e a aplicar uma teoria sobre o seu pensamento. e Thomas Hamilton, dois perspicazes observadores das potencialidades revolucionárias da democracia americana, para estabelecer os fundamentos racionais de uma utopia anarquista como objetivo consciente do movimento revolucionário da classe – que seu mestre Saint-Simon havia chamado de “a mais numerosa e a mais pobre”. [4] Rubel , p.30-31 – “Marx, teórico do anarquismo”.
Ora, comentamos que o Marx, por influência de seu pai, do barão Westphalen, e de Johann Hugo, foi criado em um ambiente de racionalismo liberal – que o acompanhou por toda a sua formação. Ao contrário do que se pensa, o liberalismo político sempre fez parte do espírito político de Marx. Não só fez parte de sua vida, mas também de todo o seu sistema hegeliano: “… Porque o universalismo e o radicalismo de Marx derivam com igual força da filosofia alemã. Desde o início, ela estava precisamente presente em sua formação… O ambiente de seu nascimento e infância foi permeado, além disso, pelo liberalismo político. O liberalismo renano, alimentado pelas doutrinas revolucionárias francesas, continuaram a se espalhar sob a Doutrina napoleônica. O pai de Marx participará ativamente do movimento constitucional da Dieta Renano em 1834, e no Liceu de Trier, o jovem Marx seria influenciado por Wyttenbach“. [5] Calvez, 1966, p.09
References
↑1 | Rubel , p.27 – “Marx, teórico do anarquismo”. |
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↑2 | Rubel , p.28 – “Marx, teórico do anarquismo”. |
↑3 | Gostaríamos que o leitor notasse que Marx era tão culto que chegou até a estudar o Tocqueville – que foi um autor conservador – e a aplicar uma teoria sobre o seu pensamento. |
↑4 | Rubel , p.30-31 – “Marx, teórico do anarquismo”. |
↑5 | Calvez, 1966, p.09 |