Madrugada, 25/Janeiro de 2022
Confesso que se este não é o pior dia da minha vida, é, certamente, um dos piores. Ao leitor eu só posso dizer que não espere aqui um texto metodológico, como é a praxe deste Jornal. Não cabe metodologia nesta despedida. Na verdade, não sei nem como consigo ainda escrever este texto. Terça-feira era um dia como qualquer outro; sento-me nesta cadeira, que estou agora, abro o computador, folheio o livro, rabisco, e começo a delinear o que vou trabalhar. Por que faço isso? Porque o senhor me ensinou a amar escrever, estudar, filosofar, de uma maneira que posso dizer que escrever e estudar são a minha vida, é quem eu sou, e quem quero ser. Sempre disse que devo tudo que sou, e que um dia serei, ao senhor.
Essa frase, para alguns, pode parecer exagerada, mas ela nunca foi dita de maneira leviana. Pois bem, sento-me nesta mesma cadeira porque tinha tido uma ideia, que eu tinha certeza que deixaria o senhor orgulhoso: eu iria escrever um artigo mostrando a numerologia da Enciclopédia do Mário Ferreira dos Santos, justificando a divisão dela em 3 tomos, e da ordem dos escritos. O senhor tinha sido o único que havia feito um guia sobre a obra do Mário, e, nesta madrugada tive a ideia de mostrar ao senhor que seu aluno iria desenvolver uma tese-guia desta mesma obra – justificando como o MFS a divide numericamente. Eu estava altamente feliz, pois sabia que o senhor iria ver o quanto a sua Filosofia ensinou-me, o quanto ela faz parte de quem sou, e de quem quero ser.
Eis que uma noticia me faz desabar: o senhor havia falecido. Confesso que não acreditei; fiquei a espera do seu aparecimento – o senhor iria aparecer rindo, como o senhor sempre fez -, no qual o senhor zombaria por termos caído naquela brincadeira. Eis que o tempo passa, e seu falecimento é dado como certo. Não sei como explicar – pois, neste momento em que estou a escrever, lagrimas ainda caem dos meus olhos -, mas uma dor fustigante bateu no meu peito; eu cai em lagrimas, e acordei a minha esposa para que ela me abraçasse. Ainda agora não sei explicar esse choro. Não porque eu não choraria pelo senhor, mas pelo contrario: porque é simplesmente difícil de acreditar que o senhor se foi, que não estará mais aqui dizendo: “ora porra!”, “é evidente meu filho!”, “eu estudo isso há mais de 50 anos”; é difícil acreditar que o senhor não estará mais aqui para nos dar sermões, para nos ensinar, para Filosofar e ser o nosso Mestre, nosso Professor. Sabe o que mais dói? Não faz nem uma semana que o senhor viu este Jornal, viu o nosso artigo sobre a sua Filosofia. Aquele dia foi um dos mais alegres de minha vida, pois todo esse Jornal é uma homenagem ao senhor, a sua Filosofia. Saber que o senhor havia visto o projeto, que tinha visto os alunos fantásticos, aos quais sua Filosofia formou , era uma alegria imensa.
Meu sonho era que o senhor pudesse ver o seu legado, pois nós somos a sua obra; nós somos a prova da grandiosidade de sua Filosofia. Queria dar ao senhor a certeza que a Filosofia brasileira, a alta cultura, pela qual o senhor tanto fez e tanto trabalhou, teria continuidade. Bem, o senhor se foi, e uma parte de nós vai junto. Dizer que tudo que sou, e tudo que serei, é graças ao senhor é dizer que meu “eu”, o mais fundo do meu ser, existe graças a Filosofia do Filosofo Olavo de Carvalho. Sim, eu sou um humilde e modesto aluno – na verdade, todos nós somos seus modestos alunos, pois: não existe, e nem existirá, outro como o senhor -, mas sou, assim como os demais colunistas deste Jornal, a prova de que aqui, neste país, viveu o maior Filosofo do século XXI.
Sim, o que muitos não falam é que o senhor não é um mero professor, um mero educador; o senhor não foi apenas aquele que nos fez amar a vida de estudos, trouxe pessoas de volta à Igreja, ou fez mudanças profundas na vida pessoal-moral; não! O senhor foi muito mais. O senhor foi Filosofo, no mais alto, e mais honroso, grau de que goza essa palavra. O senhor não foi apenas aquele que escreveu sobre politica, ou que alertou as pessoas o que era o comunismo, o Foro de São Paulo, e temas decorrentes; o senhor não foi apenas aquele ao qual fomentou iniciativas conservadoras, nem muito menos autores conservadores. Não! O senhor foi muito mais. O senhor foi aquele que educou ao Filosofar; aquele que ensinou Filosofia, e fez Filosofia. O senhor não só resgatou a Filosofia dos grandes Filósofos – de nossa nação e do mundo -, mas foi aquele que fez uma Filosofia – desde os 4 discursos, a Dialética Simbólica, A Filosofia e seu inverso, a Consciência da Imortalidade da Alma, a Filosofia da Ciência, a Metafisica e a Estrutura do Ser, a Sociologia da Filosofia, a Conceitos Fundamentais da Psicologia, etc. O senhor nos ensinou Filosofia – nos fazendo ver um filosofo em sua atividade mesma do Filosofar.
O senhor foi Filosofo! Isso precisa ser dito aos 4 cantos do planeta. Era isso que iriamos provar com este Jornal: a sua Filosofia encarnada nas produções intelectuais de seus alunos. Nesses próximos dias, eu estava para sustentar a tese de que há 4 tipos de discursos – dos quais o senhor se valia do uso – em seu método educacional; há 4 tipos de Olavo de Carvalho – tomados como hierarquia do ensinamento. Caso Deus nos dê força para continuar, nós ainda o faremos. Agora? Bem, só nos resta sentir o amargor que a vida nos deixou – pois o senhor realmente se foi, e vai levar um tempo para curar essa dor que esmaga o nosso peito, ou para secar as lagrimas que lembram de sua ausência. Não haverá jamais outro Olavo de Carvalho; não haverá jamais alguém como o senhor.
Espero que o senhor, daí de cima, possa ter muito orgulho de seus alunos – pois, nós somos a marca viva de que o senhor, mesmo na morte, ainda vive em cada um de nós. Eu só posso agradecer por tudo. De minha parte, morrerei dizendo: tudo que sou, e tudo que serei um dia, é graças ao Filosofo Olavo de Carvalho.
Dedico esta carta ao Mestre, sempre e eternamente, com carinho.
Obrigado, Professor! Descanse em paz.