Esboço-crítico à gramática ghostwriting da plataformização cultural: o repúdio à pesquisa como modo categorial da Imbecilidade Coletiva da direita

  • Rodolfo Melo
  • 9 dez 2025

Ao longo [1] N.E. Este artigo conta com a co-autoria do colunista Isaac Fonseca. dos últimos três anos (mais precisamente, desde junho de 2022), o Jornal Cidadania Popular possibilitou a incidência de diversas esferas de problematizações críticas, desde a crítica à Imbecilidade Coletiva da direita, crítica à plataformização lógica-informacional de mercado, crítica ao que é ser aluno de um filósofo (e, sobretudo, o que capacita alguém para se dizer aluno do filósofo Olavo de Carvalho), crítica à recusa e desprezo da intelectualidade direitista pela produção de pesquisas científicas e rigorosamente metodológicas, até a crítica às publicações da Vide Editorial, bem como a falta de preparo epistemológico dos quadros intelectuais dela.

Dentre essas diversas esferas, este Jornal sempre buscou problematizar criticamente que um debate público (no sentido sério e pleno do termo) só acontece mediante um escrito, uma vez que, pela sua própria natureza epistemológica, o assunto do debate não só é determinado por um alto rigor metodológico, como também é permeado por uma profunda consideração pelos pares, a quem se reputa (embora possa haver, e é salutar que haja, inúmeras divergências e discordâncias) imensa respeitabilidade e legitimidade para discutir dada questão ou inquietação intelectual. 

 

 

1§ Introdução


Por isso, o debate escrito condiciona que tanto os interlocutores quanto a audiência específica, para o qual o debate se direciona, cumpram uma série de requisitos e etapas prévias: (i) para acompanhar e entender a questão, os participantes já devem ter passado por um estágio de conhecimento que os capacite compreender qual o atual status de discussão que será debatido, bem como sobre qual área de conhecimento o debate versará; (ii) quem são, e o que realizaram, os debatedores, isto é, quais obras publicaram, a quais linha de pesquisa se filiam, que áreas do conhecimento inauguraram ou romperam, etc; e (iii) qual o contexto paradigmático dos objetos e problemáticas do campo teórico, dentro do qual figura a área de conhecimento do debate. [2]Nesse sentido, sobre o debate entre Martin Heidegger – Herbert Marcuse, ver: ABROMEIT, John; WOLIN, Richard (orgs). Heideggerian marxism: Herbert Marcuse. Nebraska: University of Nebraska Press, … Continue reading

Assim, este artigo não pretende versar sobre um enfrentamento específico da intelectualidade direitista-plataformizada contra a intelectualidade marxiana, mas pretende, a partir da ilustração ou mostruário exemplificativo, problematizar criticamente o modo gramatical-categorial da intelectualidade plataformizada. Se, no enfrentamento contra Renata Barreto, o intelectual marxiano Elias Jabbour forneceu, ao dizer que a direita não consegue passar “do simples para o complexo” [3]  JABBOUR, Elias. Debate: capitalismo x socialismo. In: Todos os Programas. 29 ago. 2022, Inteligência Ltda. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=b-dvcPHV8ck. , o primeiro status categorial da Imbecilidade Coletiva da direita, é seguro dizer que o desprezo e repúdio pela pesquisa científica e rigor metodológico constitui o segundo modo do status categorial dela.

Para tal objetivo, este artigo partirá de três ilustrações exemplificativas, oriundas de três distintos personagens plataformizados (Pablo Marçal, Patrícia Silva e Thomaz Perroni, ex-editor da Vide) [4]De antemão, é preciso explicar que este artigo não está imputando a nenhum dos três personagens citados (Marçal, Silva e Perroni) qualquer uma das práticas que foram relatadas na literatura … Continue reading, a fim de esboçar uma problematização crítica sobre a gramática-categorial que não só os ata coletivamente, como também que opera o padrão global de consciência do ambiente cultural direitista. É, pois, preciso acentuar que, pela própria pretensão objetivada, este artigo, como escrito conjunto que é, será um esboço resumido, o qual, devido às severas limitações inerentes de extensão e assunto [5] Ver: LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos de metodologia científica. 5.ed. São Paulo: Atlas, 2003, p.162 e p.235. , a que está submetido, tem um nível de formalização metodológica e de sistematização intra-lógica mais reduzida e maleável (muito embora o artigo buscará, sempre que couber, fazê-las presentes, ainda que de modo menos intenso).

Na primeira parte, a crítica se centrará na problematização da (não)legitimidade do escrito ghostwriter ante a prática de formulação-imanente da linguagem científica-disciplinar de uma pesquisa. Pergunta-se, portanto, quanto a validade científica da publicação ghostwriter, abordando e indagando as possíveis aporias que ela traria consigo. Já na segunda parte, empregaremos as metodologias propostas pela semiótica de Algirdas Julius Greimas, bem como os comentários de Diana Barros (2005) e Demócrito de Oliveira Lins (2023), para compreender: (i) como o texto publicitário de Patrícia Silva organiza elementos relacionados a sintática do discurso, visando não apenas se posicionar como autoridade inquestionável, mas também impedir possíveis questionamentos; e (ii) posteriormente, por meio da semântica do discurso, demonstrar como o texto não somente constrói, mas também torna desejável a adesão dos serviços de ghostwriter, os quais são estruturados pela autora como tema ideológico. 

 

 

2§ Esboço crítico-epistemológico da sociologia editorial: a (i)legitimidade do escrito publicado por um ghostwriter


No dia 20 de novembro de 2025, no Podcast “Inteligência Limitada”, o marketeiro e coach Pablo Marçal teve um enfrentamento com o intelectual marxiano Elias Jabbour. Na ocasião, sendo pressionado por Jabbour, Marçal acabou admitindo que:

Quem escreve [o meu livro] é o ghostwriter […] eu tenho publicado oitenta e cinco livros, eu não tenho tempo para ficar escrevendo não. Eu sou produtor de conteúdo […] quem escreve é a pessoa que eu pago […] Quem escreve livro trabalha para fazer isso. Eu fico é esquiando. Eu jogo é golfe. Quem escreve livro é quem tem uma profissão para escrever [ou seja, quem ganha para escrever]. Isso aqui [o livro] é eu falando e o cara transcrevendo. Ela não criou não, ela só digitou o que eu falei em vídeo […] Quem escreve é o ghostwriter que eu pago. A pessoa transcreve fala minha. Um diagrama, o outro faz arte e ela [ghostwriter] transcreve fala minha […] Eu escrevo, só que não é livro não. Eu escrevo contrato, eu escrevo negócios” (Marçal, 2025, grifos nossos). [6] MARÇAL, Pablo. Debate: Elias Jabbour x Pablo Marçal. In: Política e Geopolítica. 20 nov. 2025, Inteligência Ltda. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=nPLJs6xPNWU.

Pois bem, ainda que admitíssemos o argumento de que o trabalho de um ghostwriter seria apenas transcrever um material ditado em aula, e não o de escrever o trabalho para outro, cabe-nos suscitar algumas indagações:

(i) quem garante que o material escrito pelo ghostwriter foi tirado, de fato, das aulas, palestras, congressos, vídeos, etc, do suposto autor?

(ii) que garantia é apresentada para assegurar ou provar a argumentação do ponto (i)? Por exemplo, o livro do Marçal traz algum seção anexa (ou mesmo uma nota de rodapé remissiva) apresentando a transcrição (bruta ou ortograficamente e sintaticamente corrigida) das aulas originais, com as quais poderíamos comparar com o escrito que o ghostwriter publicou?

(iii) aceitando a argumentação, e assumindo que os pontos (i) e (ii) não são indagações necessárias, isso ainda suscitaria o questionamento sobre a responsabilidade autoral da transcrição. Por exemplo, caso admitamos que, quando Jason Medeiros realiza um rigoroso (e muito bem feito) trato acadêmico-filológico na edição e organização das publicações póstumas do filósofo Olavo de Carvalho, elas estariam sendo publicadas por ‘ghostwriters’ (no sentido que, supostamente, admitimos da argumentação de Marçal, ou seja, por transcritores das aulas), Jason será autoralmente responsável pela mediação, organização e circulação sociológica-editorial [7]A sociologia editorial é uma disciplina que ainda não está formal-institucionalmente estabilizada, uma vez que a classificação de seu ramo de saber surge da especiação (termo que, na fase … Continue reading do status temático do texto [8]O texto do livro está sendo publicado sob qual denominação classificatória? Um ensaio literário? Uma crítica cultural? Uma introdução à ciência política? Uma introdução-comentada a um … Continue reading, a qual estará presente não só na capa, na contracapa e na indexação da ficha catalográfica, como também em cada termo, enunciado, léxico, linha de pesquisa e classificação do ramo de saber que a obra apresentará e reivindicará como pertencentes a Olavo de Carvalho.

(iv) após as três indagações anteriores, poderíamos concluir que um livro escrito por um ghostwriter (ainda que aceitemos a argumentação de que ele teria feito apenas a transcrição do material) nos assegura, garante ou prova que o suposto autor teria fornecido ou dito o conteúdo que foi publicado?

Pois bem, um pouco antes, ao elencar uma fala sobre a disciplina histórica e bibliográfica, Marçal acaba descrevendo a instância gramatical que o permite operar o desprezo pela pesquisa, bem como a legitimação da publicação ghostwriter, pois o livro:

[…] é uma fábula, é uma narrativa. Ele [Elias Jabbour] falou que vive de história. História vem da onde? De uma narrativa. Quem é o narrador da história? Se você pegar os grandes historiadores, alguém vai falar que Hitler era de esquerda, o outro vai falar que era de direita […] E aí que tá a grande verdade. Depende de quem tá narrando o livro da escola […] livro é narrativa” (Marçal, 2025, grifos nossos). [9] Ibidem.

Todavia, essa gramática-categorial não opera apenas a (in)consciência de Marçal, mas constitui o próprio padrão global da instância epistêmica, simbólica, axiológica e praxeológica da intelectualidade direitista-plataformizada, a começar pela total recusa e repúdio quanto a qualquer prática de pesquisa científica, a qualquer pesquisa que solicite um árduo e rigoroso (e cada vez mais amplo) processo de compreensão e domínio das linhas de força que situam o assunto. Assim, repugnando a prática metodológica de pesquisa, a intelectualidade plataformizada (quer ela queira quer não) acaba, de modo inevitável, repudiando o processo de escrita como um todo.

A disseminação do ‘ghostwriter’ deteriora em tal grau a linguagem e a prática de pesquisa que, há algum tempo, a revisão de literatura das disciplinas científicas (sobretudo das disciplinas médicas e biomédicas) vem investigando as consequências que o escrito ghostwriter traz para a produção do estatuto do conhecimento científico. De acordo com o pesquisador Sergio Sismondo, “artigos de periódicos médicos estão sendo escritos por empresas farmacêuticas e publicados sob o nome de acadêmicos que desempenharam pouco papel no processo de pesquisa e redação”. [10]SISMONDO, Sergio. Ghost management: how much of the medical literature is shaped behind the scenes by the pharmaceutical industry?. PLoS Med, v. 4, n. 9, p.1429-1433, set. 2007. Disponível em: … Continue reading

Desse modo, esses artigos são “gerenciados e escritos por ghostwriters da pesquisa corporativa” [11] SISMONDO, Sergio. Ghost management: how much of the medical literature… Op.cit., p.1430. e indexados nos periódicos sob o nome de autores acadêmicos, cujas publicações gozam de credibilidade e respeitabilidade. Sismondo aponta que, desde o momento em que as “empresas farmacêuticas”, visando a “publicação de resultados favoráveis” [12] Ibidem. para seus produtos, começaram a elaborar “mensagens-chaves de marketing” [13] Ibidem. , o “planejamento de publicação ghostwriter” [14] Ibidem. se tornou algo “comum na pesquisa médica”. [15] Ibidem.

Em sua pesquisa, Sismondo discute o que chamou de “gerenciamento ghostwriter da pesquisa” [16] SISMONDO, Sergio. Ghost management: how much of the medical literature… Op.cit., p.1429. , no qual “as empresas farmacêuticas e seus agentes controlam e moldam as etapas de análise, redação e publicação de artigos” [17] SISMONDO, Sergio. Ghost management… Op.cit., p.1430. em periódicos de prestígio. Segundo Sismondo, dos artigos sobre a sertralina que, durante os anos de 1998 a 2000, foram publicados em periódicos médicos de prestígio, constatou-se que 85 deles, embora tivessem sido indexados sob autoria de pesquisadores acadêmicos, haviam sido “escritos e gerenciados por profissionais ghostwriters que atuavam para a Pfizer” [18] Ibidem. , a qual foi, portanto, a redatora invisível dos “resultados de boa parte da literatura” [19] Ibidem. científica sobre a sertralina.

Extraindo “valor científico e comercial dos dados e análises” [20] SISMONDO, Sergio. Ghost-managed medicine: big pharma’s invisible hands. Manchester: Mattering Press, 2018, p.66. , os planos de publicação ghostwriter projetam os estudos que serão, de maneira cuidadosamente elaborada, redigidos, estabelecendo, portanto, “perfis consistentes para o produto”. [21] Ibidem. Como Sismondo assinala, o propósito do planejamento de publicação ghostwriter é “posicionar a ciência como auxiliar da comercialização de produtos” [22] SISMONDO, Sergio. Ghost-managed medicine… Op.cit., p.67. , criando, por sua vez, uma “plataforma científica para apoiar o posicionamento de mercado” [23] Ibidem. deles.

Por meio do “uso de canais de comunicação eficazes” [24] SISMONDO, Sergio. Ghost management… Op.cit., p.1430. , os planejadores ghostwriters disseminam sistematicamente “mensagens e dados-chaves para o público-alvo apropriado” [25] Ibidem. , de modo a, usando o serviço de marketing, contratarem os nomes de escritores, que são bem recebidos e publicados, e indexa-los em periódicos capazes de “influenciar a opinião científica” [26] Ibidem. , bem como de “ganhar adoção para o produto”. [27] Ibidem. Tendo isso em vista, Rawal e Yadav destacam que “o mundo científico está enfrentando um problema constante de ghostwriters” [28]RAWAL, Gautam; YADAV, Sankalp. Ghostwriters in the scientific world. Pan African Medical Journal, v. 30, n. 217, p.1-6, maio. 2018. Disponível em: … Continue reading, porque, sendo “uma parte importante da habilidade e do desenvolvimento de carreira” [29] Ibidem. , a escrita científica “estabelece as bases da prática futura” [30] Ibidem. da ciência.

Segundo Rawal e Yadav, apropriando-se dos nomes dos cientistas famosos ou consolidados, de modo a utilizá-los na indexação de autoria, “os escritores ghostwriters redigiram 11%” [31] Ibidem. das pesquisas de “Revisão Cochrane” (metodologia de pesquisa que abrange revisão da literatura científica, revisão sistemática e meta-análise) publicadas nos periódicos. Como eles concluem, “a escrita ghostwriter realmente” [32] RAWAL, Gautam; YADAV, Sankalp. Ghostwriters in the scientific… Op.cit., p.3-4. adentrou nas “raízes da pesquisa científica, e os esforços para controlá-la são imperativos” [33]  RAWAL, Gautam; YADAV, Sankalp. Ghostwriters in the scientific… Op.cit., p.4. , como, por exemplo, a elaboração de diretrizes que cobrem a “disponibilização dos dados brutos, nos quais o artigo publicado se baseia, para a comunidade científica analisá-los e interpretá-los”. [34] Ibidem.  

 

 

3§ Esboço crítico-epistemológico da linguagem como estatuto ontológico imanente à prática de pesquisa


Quando o filósofo Olavo de Carvalho (1947-2022) surgiu, no final dos anos 1990, no cenário do então ambiente cultural vigente, ele reclama que o especialista, o estudioso de uma disciplina, achava absurdo ouvir que teria de ler, no mínimo, oitenta livros por ano. [35]“[…] o estudante brasileiro lê 1,8 livros por ano. No curso de Pós-Graduação de Administração Pública do Paraná, falando com os futuros administradores públicos, eu disse para eles … Continue reading Duas décadas depois, a intelectualidade direitista, que surgiu ancorada e colada nas costas do filósofo, proclamava a mensagem de que o brasileiro não lia, não estudava, e de que, devido o país dar pouco (ou quase nenhum) incentivo à leitura, o leitor médio sequer chegava a ler dez livros por ano.

Com a plataformização lógica-informacional de mercado, essa mesma intelectualidade foi sendo imbecilizada coletivamente, vendida e operada como peça disponibilizadora e gerenciadora da máquina de produtos-informacionais, a ponto de não só veicularem-se como produtores-produtos que desincentivam a leitura, mas também que atuam para organizar, concentrar e deslocar o desejo racional das subjetividades, tornando-as contrárias a escrita e a pesquisa, e racionalmente dependendentes da lógica de circulação e reexecução do valor expansivo da mercadoria-informacional (que pode ser desde um livro manualesco ou panfletário, assinado por um produtor-produto com grande engajamento e sucesso de vendas, até um podcast, curso, documentário ou áudio-book). [36]Felipe Aquino, que, outrora, foi um sério pesquisador da história da inquisição, afirmou, durante uma chamada para o seu curso, que: “Você está vendo essa pilha de livros que está aqui? É … Continue reading

Como dito no início deste artigo, esse modo categorial-gramatical produz e opera o padrão global de consciência da intelectualidade, a qual não pensa mais por si mesma, mas sim enquanto parte racional do gerenciamento da demanda lógica da mercadoria-informacional. Essa problematização crítica pode ser facilmente ilustrada quando observamos os posts da intelectual plataformizada Patricia Silva, que, conquanto coloque-se no debate público como pesquisadora e doutora em sociologia, adversária e ‘refutadora’ do intelectual marxiano Silvio Almeida, não só declara ser uma ghostwriter, como também tenta racionalizar o uso desse produto-informacional:

Você sabia que eu também trabalho com texto? […] Ghostwriting. Você tem uma ideia, eu dou forma. Escrevo por você com sensibilidade, técnica e total sigilo. Se você ministra aulas on-line e quer transformá-las num e-book, conte comigo para dar forma e acabamento profissional ao conteúdo [37] SILVA, Patrícia. Você sabia que eu também trabalho com texto?. Instagram, 15 ago. 2025. Disponível em: < https://www.instagram.com/p/DNYIct1OdGv/>. Acesso em: 26 nov. 2025. […] Um livro é o infoproduto mais poderoso que existe. Mas nem todo mundo precisa escrevê-lo sozinho. Em um mundo em que conteúdos desaparecem em 24 horas, um livro permanece. Ele é registro, autoridade e legado. Muitos têm histórias, ideias e experiências transformadoras, mas não têm tempo, técnica ou rotina para escrever […] Um livro escrito com ajuda profissional: [i] solidifica autoridade; [ii] gera impacto; [iii] conecta com gerações futuras” (Silva, 2025, grifos nossos). [38] SILVA, Patrícia. Um livro é o infoproduto mais poderoso que existe. Instagram, 01 out. 2025. Disponível em: < https://www.instagram.com/p/DPQsWIPDkXA/>. Acesso em: 26 nov. 2025.

Segundo Silva, ainda que a mão dela vá no texto, é o autor que está com o nome na capa. Contudo, trabalhar o texto de uma pesquisa não é apenas dar ordem estilística e estética à ‘narrativa’ do escrito ou corrigir a coerência sintática, gramatical e ortográfica dele, mas sim lapidar o processo de confronto, do percurso dinâmico [39]Foi com a epistemologia kuhniana que a pesquisa científica passou a ser vista e praticada como uma imagem dinâmica de processos históricos. Ver: KUHN, Thomas Samuel. El camino desde la estructura: … Continue reading entre as árduas etapas de enfrentamento e desenvolvimento dos estágios históricos escritos com a imanência de sua linguagem, a fim de expressar e se apropriar das densidades e contradições que o próprio objeto traz, revela ou comporta.  É, pois, mediante a trajetória histórica do confronto e mediação dinâmica com a linguagem técnica da disciplina que o pesquisador pode entender e dominar o assunto que quer conhecer, construindo, por sua vez, conjecturas [40]Para fins de esclarecimento, tomo o termo segundo a acepção dada pelo epistemólogo Karl Popper. Ver: POPPER, Karl Raimund. Conjecturas e refutações. 5. ed. Brasília: Editora da Universidade de … Continue reading teóricas-compreensivas [41]Parto do termo no sentido dado pelo filósofo e epistemológico Lorenz Bruno Puntel. Ver: PUNTEL, Lorenz Bruno. Estrutura e ser: um quadro referencial teórico para uma filosofia sistemática. São … Continue reading, que vão incidir em torno do status conhecido.

Tendo isso em vista, deveríamos nos perguntar se alguém que não tem tempo para escrever, para lidar com a dinâmica do processo histórico de contradição e desenvolvimento imanente dos estágios do escrito (ou mesmo que não tem domínio técnico da linguagem científica da disciplina), deveria publicar um escrito, colocando-se, pois, no debate público. Pois bem, a fala de Thomaz Perroni, ex-editor da Vide, ilustra bem o padrão gramatical-categorial da resposta que receberíamos:

Hoje em dia, no nosso contexto do CEDET, você tem a possibilidade de trabalhar com ghostwriter. Às vezes, você não consegue escrever, não sabe escrever, mas você consegue dar uma boa palestra, um bom curso. Quantos desses caras que estão agora no instagram dando curso, cursos muito bons, mas você pede para o cara escrever, e fica uma merda. Não dá para ler nada. O cara tem o talento, tem o conhecimento, mas ele não tem este, que é o da escrita, da apresentação formal, escrita, do seu conhecimento. Beleza! É para isso que existe o ghostwriter. Não tem problema nenhum. Nós vamos pegar o conteúdo,[que foi] dito na palestra, no curso, e transformá-lo num texto. Aí o cara vai e dá o aval no fim. Não é nenhum um pouco menos meritório” (Perroni, 2022, grifos nossos). [42] PERRONI, Thomaz. Mercado editorial e trabalho intelectual. 09 jan. 2022, Encontro Europeu do Seminário de Filosofia. Disponível em: https://www.youtube.com/live/66lTJRksULg?si=WlebshZ12iJzTANA.

Ora, se é verdade que uma pesquisa se faz, se aprende e se desenvolve na própria prática de pesquisa, ou seja, na iminência da ruptura corretiva, revisiva e reformuladora da própria pesquisa, a linguagem dela apresenta para o pesquisador, diante do próprio pesquisador, a lacuna epistemológica dos requisitos ou referenciais teóricos (que podem ser desde as linhas ou correntes de pesquisa, os quadros metodológicos, até as áreas ou parâmetros de conhecimento) que ele necessita para conseguir visualizar o estágio de domínio-objetal para o qual intenta chegar (ou para, ao menos, expressar o status-objetal que está visualizando no momento).

Nesse sentido, uma pesquisa exige o mesmo requisito que Olavo de Carvalho, quando parafraseava Jorge Luis Borges (1889-1986), ensinava: “para compreender um único livro, você tem de ter lido muitos outros” [43]Ver: CARVALHO, Olavo de. Curso online de filosofia. 21 mar. 2009, aula 03; CARVALHO, Olavo de. Curso online de filosofia. 22 ago. 2009, aula 20; CARVALHO, Olavo de. Curso online de filosofia. 31 out. … Continue reading, porque o assunto (seja ele qual for) que ela vai estudar trará ou colocará todo um referencial, todo um status de linhas de pesquisa, linguagens, gramáticas e questões, que o pesquisador não galgou, mas que, caso queira ter alguma compreensão delas, vai ter de galgar. Pesquisar é, pois, passar por um árduo, exaustivo e rigoroso processo de dinâmicas de articulação e confrontação das etapas percorridas, a fim de galgar a máxima possibilidade de apropriação unitária dos estágios históricos-objetais dela, bem como de desenvolver o nível máximo de domínio sobre o status cognitivo daquela área de conhecimento.

Por isso, a linguagem da pesquisa é um processo de expressão, que Carvalho denominava de expressão literária [44]Devido às limitações deste esboço-crítico, não terei como elaborar uma explicação detalhada, mas o que Olavo de Carvalho chamava de linguagem literária era, na bem verdade, um ramo de saber … Continue reading, da autoconsciência, no sentido do como o sujeito (no caso em questão, o pesquisador) compreende o objeto no próprio ato de intencionalidade, isto é, no próprio ato que o faz inteligir o status-objetal [45] Nesse sentido, ver: BUNGE, Mario Augusto. Semántica I: sentido y referencia. Barcelona: Editorial Gedisa, 2008; BUNGE, Mario Augusto. Teoria e realidade. São Paulo:  Editora Perspectiva, 2014. que está sendo apresentado pela pesquisa, na pesquisa. Mais do que um ortografia bem feita, uma acentuação correta, um estilo pessoal de articulação verbal, a linguagem da pesquisa é o processo pelo qual o pesquisador volve ao objeto, tal como ele se apresenta intencionalmente, quer dizer, tal como ele se deu na visão dessa intencionalidade, a ponto de apropriar-se da atuação que teve com (e perante) os estágios históricos-objetais.

Em vista disso, toda linguagem de pesquisa [46]Desde, pelo menos, o positivismo lógico-empirista de Rudolf Carnap (1891-1970), passando pelo naturalismo empirista de Willard Van Orman Quine (1908-2000), o historicismo epistemológico de Thomas … Continue reading tem, em maior ou menor medida, uma gramática [47] Kuhn denomina isso de taxonomia. Ver as obras supracitadas. epistemológica, uma operação epistemológica, a qual o filósofo Ludwig Wittgenstein (1889-1951) chama de “jogo de linguagem” [48] Ver: CONDÉ. Mauro Lúcio Leitão. As teias da razão: Wittgenstein e a crise da racionalidade moderna. Belo Horizonte: Argvmentvm Editora; Scientia, 2004. , um processo de confrontação autocorretivo e consciente entre o objeto, que está sendo visto e estudado, e a operação gramatical com a qual o pesquisador tem que jogar para conseguir articular e comunicar as etapas de atuação que teve com (e perante) o estágio histórico-procedimental do objeto (domínio do status-objetal). Ao tratar de uma pesquisa, que tem, por sua vez, um objeto, o pesquisador tem de lidar com as etapas dos confrontos, movimentações e desenvolvimentos dos estágios procedimentais-históricos do objeto de pesquisa (domínios-objetais [49] É o domínio que define e delimita a vigência, legitimidade e validez de inteligibilidade do status-objetal dentro do estatuto da área de conhecimento. que passam, por sua vez, por modificações conforme o status do estatuto do objeto sofra variações).

Para escrever e publicar uma pesquisa, o pesquisador tem que conseguir não só dominar o desenvolvimento unitário dos estágios históricos-procedimentais do status-objetal, como também construir conjecturas teóricas-compreensivas sobre o status daquela área de conhecimento. Porquanto, seja qual for o assunto, a disciplina, a linha de pesquisa ou área, a linguagem de uma pesquisa sempre será um processo de consciência autocorretiva, uma dinâmica de confronto, movimentação e desenvolvimento do estágio histórico-procedimental do status-objetal, cujo estatuto pode já não ser mais o mesmo, quer dizer, pode ter sofrido transformações ou alterações.

Sendo um processo de dinâmicas gramaticais-epistemológicas, mediante as quais o pesquisador manifesta as próprias etapas de suas determinações ou apropriações conscientes sobre o estágio histórico-procedimental do objeto (isto é, as modulações procedimentais que faz o objeto surgir [50]Caso fossemos, por exemplo, pesquisar como se deu a noção de ‘alma’ na área da psicologia medieval-escolástica até a psicologia atualmente vigente, constataremos que o status-objetal dela … Continue reading, revestindo, pois, o momento lógico de seu funcionamento com uma pragmática epistêmica), que se revelam no próprio movimento de retorno intencional ao status-objetal do escrito, a linguagem de uma pesquisa não permite ou comporta uma escrita ghostwriter. 

 

 

4§ Análise semiótica do discurso: foco na sintática discursiva


Nessa segunda parte [51] N.E. Toda a segunda parte deste artigo, que compreende o tópico 4 a 8, foi escrito por Isaac Fonsenca. deste artigo, tomaremos como fundamento de análise do discurso [52]Para tal fim, recorreremos às metodologias propostas por Algirdas Julius Greimas (1917–1992), as quais foram expostas em suas duas principais obras “Semántica estructural: investigación … Continue reading o exame imanente de dois textos publicitários de autoria de Patrícia Silva [53]SILVA, Patrícia. Você sabia que eu também trabalho com texto?. Instagram, 15 ago. 2025. Disponível em <https://www.instagram.com/p/DNYIct1OdGv/>. Acesso em: 26 nov. 2025; SILVA, Patrícia. … Continue reading, nos quais, como dito anteriormente, ela não somente anuncia seu trabalho como ghostwriter, mas, como demonstraremos semioticamente, visa estabelecer um novo princípio ético em torno da questão.

Após a aplicação das metodologias referentes às denominadas sintaxe e semântica discursivas, concluímos que ambos os textos de Silva possuem como projetos a propagação de uma ideologia, na qual a contratação de um ghostwriter não se resume somente a uma natureza comercial, mas sim a uma escolha de esfera lógica (pois o contratante não possui as qualificações e competências para transformar conteúdos digitais em livros) e, principalmente, de natureza ética (pois tal decisão acarretaria um meio mais efetivo para auxiliar pessoas de uma forma que, devido às exigências do algoritmos, podem acabar sendo perdidas). 

4.1 Projeções da enunciação, efeito de proximidade ou de distanciamento da enunciação, efeito de realidade ou de referente

Com o objetivo de examinar sistematicamente os processos de construção sintática do discurso, fundamentamos o nosso objeto nas características estritamente imanentes ao texto, sem recorrer a contextos ou possíveis reverberações (de natureza transcendente ao texto) que possam, de alguma forma, influir e influenciar os mecanismos de projeções e efeitos. O texto de Silva foi escrito como um típico texto promocional e publicitário, o qual possui por característica ser escrito em primeira pessoa, mesclando, por consequência, declarações pessoais com o oferecimento de serviços de ghostwriter.

Outra característica importante a se destacar é o fato dele ser um texto interrogativo e afirmativo, perspectiva sobre a qual desenvolve suas ambições relacionadas inicialmente com a persuasão das competências do enunciador, culminando em manipular o enunciatário para a contratação dos serviços. Porquanto, aplicaremos conceitos advindos da sintaxe discursiva, a saber, com ênfase nas projeções de enunciação, no efeito de proximidade e distanciamento da enunciação, e, por fim, no efeito de realidade ou referente. Neste primeiro e mais detido momento, de forma sistemática, aplicamos métodos advindos da sintaxe discursiva greimasianas, as quais foram tratadas e demonstradas por Barros (2005) e Lins (2022). Com isso, temos em vista identificar não somente os mecanismos sintéticos, mas, principalmente, os efeitos de sentido produzidos no interior do próprio texto.

4.1.1 Projeções da enunciação

A enunciação projetada no texto tem por característica predominante a desembreagem enunciva em uma primeira pessoa (eu), e, por consequência, a instalação de um narrador como delegado direito da voz enunciva. É esse narrador que se responsabiliza pelo nexo de continuidade do discurso (“você sabia que… eu também trabalho…”), delegando a si tanto o poder como o saber de narrar suas competências e qualificações dos serviços ofertados. A ausência de uma desembreagem enunciva em terceira pessoa evita a instalação de um observador externo que possa efetuar julgamentos desfavoráveis a enunciação; em vez disso, o narrador, ao se confundir com o sujeito da narrativa, cria uma fusão entre os papeis narrador e narratário (o sujeito que “trabalha escrevendo textos”).

A delegação interna de voz é propositalmente mínima; porém, ela ocorre na forma de perguntas de natureza retóricas e implícitas (“você sabia que…”), pressupondo, necessariamente, um interlocutor (o “você” destinatário), mas de forma nenhuma lhe cedendo a possibilidade de uma resposta direta ou crítica. Isso mantém o controle da voz no narrador, que distribui o saber parcialmente: ele revela seu “método e sigilo”, mas oculta detalhes concretos, como nomes de clientes ou exemplos específicos, reforçando uma hierarquia onde o enunciador pressuposto delega ao narrador o dever de persuadir sem expor totalmente o saber.

Com relação à temporalidade, a projeção cria um tempo presente (“trabalho”, “produzo”, “transformo”), reproduzindo uma ancoragem no discurso de um “agora” ininterrupto e contínuo, sem que haja, de maneira explícita, uma desembreagem temporal correspondente (seja no passado, seja no futuro). Quanto à espacialidade, não há projeções explícitas de “lá”, mantendo-se tão somente um espaço implícito de proximidade na possibilidade de relações (“para outras pessoas”, “se você tem uma ideia”). Esses mecanismos, empregados para construir uma projeção de realidade em um discurso subjetivo (em que a enunciação é manifesta como uma forma de confissão íntima e pessoal), visam efeitos de persuasão mediante uma autorepresentação de si.

4.1.2 Efeito de proximidade ou de distanciamento da enunciação

O texto fabrica uma ilusão de intimidade e subjetividade, tendo como meta final persuadir o destinatário da sua “verdade”; para tanto, fabrica predominante um efeito de proximidade na enunciação, que é conquistado pela desembreagem enunciativa em primeira pessoa (“eu”), a qual aproxima o narrador do enunciatário (“você”), forjando uma conversa direta e de proposta confessional (presente em frases como “Sou ghostwriter” e “Escrevo com atenção, método e sigilo”, que instalam o narrador-narratário como porta-voz de si, penetrando o discurso de parcialidade assumida, sem fingir neutralidade). Não há separação entre locutor e locatário, reforçando a proximidade: o saber é distribuído como “minha técnica e minha visão”, limitando-o ao ponto de vista do narrador, sem delegação a fontes externas (evitando, assim, suspense ou relativização), bem como criando o efeito de “dono da verdade” íntima.

No texto, nunca se observa efeito de distanciamento significativo, pois não há desembreagem enunciva em terceira pessoa nem uso de observador neutro para fingir objetividade. Em vez de “lá” ou “então”, o tempo é o “agora” implícito (“trabalho”, “faço”), e o espaço é relacional próximo (“se você tem uma ideia, eu dou forma”). Essa proximidade serve à persuasão, manipulando o enunciatário para aceitar a “verdade” do serviço como extensão da personalidade do narrador, sem ilusão de imparcialidade. A ausência de distanciamento relativiza qualquer ambiguidade, tornando o discurso uma projeção direta da enunciação, com efeitos de subjetividade que convidam à identificação imediata.

4.1.3 Efeito de realidade ou de referente

Por criar a ilusão de referência “real” para ancorar seus conteúdos abstratos em elementos concretos, visando persuadir o enunciatário da veracidade dos serviços oferecidos, o texto constrói um efeito de realidade. Sintaticamente, há desembreagem interna limitada, como no discurso direto implícito das condicionais (“Se você tem uma ideia, eu dou forma”), que finge uma cena de diálogo com o interlocutor servindo de referente relacional “real” (o “você” como cliente potencial).

Sem discursos diretos extensos, o efeito depende mais da ancoragem semântica, atando o discurso a traços sensoriais e reconhecíveis: atores concretizados (“outras pessoas”, “quem escreve”, “”), tempo presente contínuo (“trabalho”, “produzo”) e espaços implícitos de ação (“textos para outras pessoas”). Elementos como “livros, artigos e ideias” e temas variados (“sociologia brasileira e cultura organizacional a espiritualidade, comportamento, memória e educação”) funcionam como ancoragens actanciais e temáticas, preenchendo o abstrato com traços “reais” que o receptor pode reconhecer como existentes, criando ilusão de “cópia do real” (ex.: “ghostwriter” como profissão concreta).

Não há efeito de irrealidade ou ficção explícita, pois fórmulas (como “Você sabia que…”) ancoram o discurso em um “agora” verídico, sem marcadores de fantasia. A ancoragem reforça a ilusão de referente: idades ou fotos ausentes são substituídas por traços sensoriais como “atenção, método e sigilo”, que iconizam o serviço como “claro e consistente”, fingindo cópia de uma prática profissional “de carne e osso”. Isso persuade da “verdade” do texto como oferta real, sem relativização, embora o sigilo inerente ao ghostwriting crie uma tensão sutil com o irreal (textos que “não levam meu nome”), mantendo o efeito de realidade dominante para fins persuasivos. 

4.2 Relações argumentativas entre enunciador e enunciatário

Continuaremos no exame de caráter imanente do texto de Silva, no esforço de investigar suas estruturas, as quais criam e são reverberadas como manifestação discursiva. Tal texto, como observado anteriormente, é organizado semioticamente na forma de um discurso em primeira pessoa de natureza manipuladora, tendo em vista a promover os serviços de ghostwriting e edição. Para tanto, o enunciador assume o papel de um narrador-narratário, tendo como objetivo a manipulação do enunciatário, a fim de que este acredite na “verdade” transmitida pelo texto, isto é, as capacidades e qualificações profissionais da enunciadora. [54]Tendo como fim compreender como se dá esse processo, efetuaremos a aplicação dos parâmetros e conceitos da sintaxe discursiva da teoria semiótica, com ênfase nas relações argumentativas entre … Continue reading

4.2.1 Mecanismos sintáticos argumentativos

No texto de Silva, as relações argumentativas são estabelecidas mediante desembreagens enunciativas, as quais projetam o enunciador como um sujeito próximo confiável. Para tanto, na utilização da primeira pessoa (“eu”), delega-se a voz a si mesma, e, por consequência, perspectiva-se não somente como narradora, mas como narratária. Esse processo de delegação, dado no interior do texto, não possibilita a manifestação discursiva de interlocutores externos, mas somente a um “você” hipotético, uma espécie de destinatário implícito, o que resulta na criação de uma cena de natureza argumentativa, uma espécie de diálogo condicional (“se você tem uma ideia, eu dou forma”).

No campo da sintaxe discursiva, trata-se de uma desembreagem interna, a qual simula uma interação direta, em que o enunciador pode manipular o enunciatário por posicioná-lo como um ator passivo do discurso. Dessa forma, projeta-se o “você” como o portador ou aquele que possui a “ideia”, “conteúdo” ou “objetivo”, enquanto ao “eu” é dado os poderes de transformação (“dou forma”, “estruturo”, “entrego”). Essa relação ilusória-simulada é construída proposital e artificialmente por meio da mescla entre as ideias de produção e persuasão. No texto, o enunciador emprega condicionais argumentativos para prever e resolver problemas do enunciatário, resultando na construção de uma hierarquia na qual o saber é distribuído de forma assimétrica (ou, por outros termos, enquanto o enunciador detém “método e sigilo”) ao enunciatário, realizando o convite de delegar suas intenções e desejos para serem “transformadas”.

Nesse processo, não há efetivação de negações ou contrações dadas de formas explícitas, mas tão somente o acúmulo de proposições afirmativas (“Produzo livros, artigos e ideias”, “Trabalho com temas variados”), os quais servem como operações de reforço para o desenvolvimento da argumentação, efetivam a persuasão tanto pela repetição como pela ampliação do escopo temático (de “sociologia brasileira” a “educação”), o que impossibilita as contestações que possam prejudicar o processo manipulatório. Assim, são delineados os mecanismos de projeção do discurso no formato de uma proposta imperdível, pois a relação enunciador-enunciatário  é  formulada  como  uma  relação  de  dependência persuasiva-manipulatória: a natureza da reciprocidade estabelecido pelo vínculo entre enunciador e enunciatário é a manipulação, o que se dá por meio de um fingimento de empatia, pois o objetivo da enunciadora é convencer o enunciatário da “verdade”, isto é, da sua competência profissional e da necessidade dos seus serviços.

4.2.2 Distribuição do saber e da responsabilidade

No discurso, delineia-se sintaticamente como o saber é distribuído, parcial e estrategicamente, tendo em vista reforçar as relações argumentativas: posiciona-se o enunciador como “o possuidor de uma verdade”, enquanto o enunciatário é colocado na posição de um sujeito passivo e manipulável. Isso se demonstra pelo fato do texto iniciar com uma pergunta retórica: “você sabia que…”. Por essa via, o discurso delega ao enunciatário um saber incompleto, e, consequentemente, a manipulação se dá no reconhecimento dessa lacuna (o que se evidencia em: “além de falar sobre culturaeu também trabalho”), de modo que, ao consentir com essa lacuna, toma-se como verdadeira a premissa da argumentação.

A distribuição assimétrica do saber (na qual o enunciador expõe “minha técnica e minha visão”, e simultaneamente encobre detalhes concretos, como exemplos de trabalhos) cria o desenvolvimento de uma ilusão de confidencialidade (“sigilo”), uma aproximação entre enunciador e enunciatário com base na relação de uma confiança privativa. No que diz respeito à questão da responsabilidade, o enunciador adota um dever narrativo por meio de expressões como: “Sou ghostwriter” e “Escrevo com atenção”. Todavia, o enunciador, simultaneamente, transfere ao enunciatário a responsabilidade de iniciar a interação (“Se você tem…”), simulando uma parceria na imanência da argumentação de natureza manipuladora: o texto não permite ao enunciatário voz própria, mas projeta-o como beneficiário de efeitos positivos (o que é demonstrável por “texto claro e consistente” e “garantindo que o texto respeite a intenção”).

Consequentemente, opera-se uma delegação interna de responsabilidade. Por empregar verbos transitivos (“transformo”, “dou forma”, “entrego”), o enunciado argumenta em favor de sua função indispensável, aproveitando-se do aspecto de passividade do enunciatário, convencendo-o da “verdade” da oferta, ao relativizar riscos (textos que “não levam meu nome” são apresentados como vantagem técnica: a enunciadora manipula o enunciatário ao acumular evidências subjetivas) para fabricar o consenso implícito.

4.2.3 Efeitos persuasivos resultantes

Tais mecanismos semióticos, de natureza sintática, produzem um efeito de persuasão, os quais têm em vista a manipulação do enunciatário para com a “verdade” do texto. Isso é propiciado por uma proximidade argumentativa, em detrimento de um distanciamento crítico. Porém, o efeito principal de convencimento é provocado por acumulações de frases curtas e paralelas (“Se você tem uma ideia, eu dou forma. Se tem conteúdo, eu estruturo. Se tem objetivo, eu entrego”), as quais operam como caminhos retóricos, que repetem a estrutura condicional, manipulando o enunciatário a visualizar cenários resolvidos pelo enunciado. 

A dicotomia discursiva produzida pelo texto é construída de uma forma parcial e tendenciosa: por citar uma listagem de serviços (“leitura crítica e revisão com abordagem simbólica”), fingem-se características e elementos objetivos; todavia, este discurso está impregnado e contaminado de elementos subjetivos (“minha visão”), os quais desequilibram por uma ilusão de que a completude se dará somente pelo estabelecimento de uma relação. Entre a criação de efeitos de realidade e o apelo a uma retórica abstrata, o texto dá preferência ao segundo em detrimento do primeiro, chegando, até mesmo, a evitá-lo (“transformo intenção em texto claro”).

Tal estratégia intensifica a relação estabelecida em enunciador-enunciatário, principalmente no que tange ao seu aspecto de uma sutil manipulação: a persuasão do enunciatário não é efetivado devido a realidades concretas referenciadas de algum modo no texto, mas por um juramento ou acordo relativos ao cumprimento de transformação (“garantindo que o texto respeitea experiência de quem lê”).  Como resultado, a “verdade” criada na e pela estrutura textual cria uma perspectiva ideológica, a qual se configura no projetar do enunciador de um discurso que trâmite a ideia de infalibilidade.

Por bloquear a possibilidade de delegação de voz ao enunciatário, isto é, o incapacitado de inquirir sobre a ideologia proposta, o texto visa convencer principalmente pela ausência de contradições internas. Em seu sentido completo, as relações estabelecidas pelas argumentações fabricam e desenvolvem uma ilusão ou aparência da consolidação de uma parceria mutuamente benéfica. Entretanto, o que se propõe de fato é uma adesão do enunciatário à proposta comercial, não somente no sentido mercadológico, porém, como a única escolha possível.

 

 

5§ Breve consideração sobre o tema ideológico


Para finalizar, delineia-se sucintamente como o tema ideologia é construído e proposto na interioridade textual discursiva: ocorre uma valorização do profissional que realiza uma medição invisível, isto é, sem o reconhecimento autoral, como uma característica eufórica, de modo que tal seja necessária para o êxito do contratante. A ideologia, enquanto construção temática imanente, é invertido de valores narrativos abstratos de “transformação” e “criação do objeto de valor”, e configurado numa estrutura axiológica:

I – perspectiva da euforia: o anonimato técnico e qualificado (sigilo + método + visão pessoal adaptada ao produto, porém, sem declaração de autoria), o qual melhora ideia original, mas sem a corromper;

II – perspectiva da neutralização disfórica: a ideia individual, ausente de mediação (implícita como insuficiente, por precisar ser “dada forma”, ou por outros termos, “estruturada” e “entregue”).

Portanto, o texto, na sua estrutura axiológica imanente, contém elementos temáticos que mostram como sendo “natural e superior” o modelo de produção intelectual, no qual sua excelência, qualidade literária mesclada a intenção original do cliente, seja necessário e dependa de um mediador invisível, cuja técnica e perspectivas aprimoram o desejo do autor nominal. Em contrapartida, o verdadeiro autor tem o seu anonimato garantido. Nesse sentido, projeta-se o contorno ideológico apresentado no e pelo texto: legitima-se a desapropriação do trabalho intelectual autêntico e individual, em detrimento de uma aparência fundamentada em acordos secretos, os quais se justificam como um acordo legalmente estabelecido entre as partes.

O valor axiológico eufórico é fixado em “não levam meu nome, mas têm minha técnica e minha visão”: a invisibilidade do sigilo do verdadeiro autor é tomado não como uma atitude de sacrifício, mas interpretado e valorizado como uma virtude (algo que garante a pureza da atividade, a qualidade ética superior do seu praticante). Compreende-se, dessa forma, o parâmetro a partir do qual o tema ideológico é estabelecido e construído: a competência da autoria é não somente delegada a outro, como hierarquizada (o sentido necessário e obrigatório para que uma expressão “clara e consistente” seja possível). Processa-se a naturalização da dependência do autor-cliente em relação com o autor-fantasma. Assim, concretiza-se como o tema da ideologia é desenvolvido e estruturado imanentemente no texto: uma euforia que visa não somente tornar aceitável o ghostwriter, mas também desejável.

 

 

6§ Análise semiótica do texto: foco na sintaxe discursiva

6.1 Relações argumentativas entre enunciador e enunciatário

Os sujeitos presentes no discurso possuem duas características principais: o “eu”, um sujeito operador e competente, e o “você”, o qual é configurado como o sujeito beneficiário das ações do primeiro, a quem se atribui, implicitamente, um estado disfórico (conhecimento que “vira fumaça”, legado que “desaparece”).

Mediante as prerrogativas e metodologias dadas pela sintaxe discursiva, com nossa ênfase centrada nas relações argumentativas entre enunciador e enunciatário, buscaremos, sistematicamente, compreender como são configuradas e estabelecidas os mecanismos de persuasão e manipulação, os quais são confundidas tanto com o texto, como com as estratégias de persuasão, a fim de fabricar uma ilusão de verdade, necessária à concretização das relações entre clientes e ghostwriter. Esse estudo se desenvolverá a partir de três seções: mecanismos argumentativos, distribuição do saber e da responsabilidade, e efeitos persuasivos resultantes.

6.1.1 Mecanismos sintáticos argumentativos: delegação de voz e projeções relacionais

As relações argumentativas são fundamentadas mediante o emprego de desembreagem enunciativa sempre dadas em primeira pessoa, e, por isso, cumprem a possibilidade de delegar voz exclusivamente ao enunciador do discurso, sendo simultaneamente o narrador-controlador (que bloqueia a presença significativa de interlocutores externos).

A projeção dessa relação é desenvolvida de maneira assimétrica: o “você” é invocado repetida e constantemente (“Se você ensina”, “você já tem conteúdo”, “Sabe aquele curso… que você deu?”, “Vamos colocá-lo no mundo?”) como um destinatário hipotético e passivo, sendo posicionado em um diálogo fingido, que é tomado como aquele que possui a preciosa matéria-prima (“o conteúdo é seu”, “suas ideias”, “o que você ensina”) e, simultaneamente, uma implícita carência técnica (“transformar ideias em páginas exige método, tempo e técnica”). Essa construção, construída a partir da imanência textual, repercute noções relacionadas a uma hierarquia de natureza manipulatória: o enunciador, ao reservar para si verbos de performance e transformação (“Eu organizo”, “estruturo”, “transformo”, “ajudo ideias a virarem páginas”), atrela ao enunciatário a projeção de um sujeito que “posterga”, “aluga espaço na internet” ou “deixa o conhecimento virar fumaça”.

Essas estruturas condicionais são mantidas e formadas por frases imperativas e condicionais implícitas (“Escreva para…”, “Invista na criação de seu legado!”), as quais funcionam como desembreagens internas, que servem para simular uma interação; todavia, seu real interesse é manter o controle absoluto na voz do enunciador. E, para tanto, desarticula possíveis objeções (“Livro não é vaidade; é estratégia”), as antecipando e neutralizando prévia e antecipadamente. Consolida-se, portanto, a relação entre enunciador e enunciatário como uma forma de dependência manipuladora, porém, mascarada como empatia: o “eu” identifica-se como um facilitador imprevisível, o que torna a sua contração como ghostwriter não uma opção ou possibilidade a se considerar, mas a única via racionalmente válida, isto é, o processo pelo qual se evita a disforia que todos estão sujeitos: a efemeridade digital.

6.1.2 Distribuição do saber e da responsabilidade: estratégias de persuasão e manipulação

Pela sintaxe discursiva, compreende-se como o saber é distribuído de forma não somente assimétrica, mas como também se configura como um uso estratégico: o enunciador é o detentor do saber técnico, e conhece as formas corretas de como empregá-lo (“método, tempo e técnica”, “os grandes não escrevem sozinhos”). Por sua vez, é incorporado características lisonjeiras e um conhecimento parcial ao enunciatário (“você já tem conteúdo suficiente”, “o conhecimento que você compartilha muda vidas”). Esse modo de distribuição do conhecimento é o meio pelo qual o texto cria a sua ilusão de validação (“Aquilo pode — e merece! — virar um livro”), e, em simultâneo, reforça, por um lado, a insuficiência do destinatário, e, por outro, a necessidade de uma mediação profissional.

A responsabilidade do saber é, por sua vez, organizada de modo a reforçar a manipulação. Enquanto o enunciador assume como dever de efetuar a transformação, sem apagar a voz (“O livro é seu; só teve ajuda profissional pra nascer do jeito certo”),  ao enunciatário é depositado o dever e a responsabilidade do esquecimento público, caso não se esforce em cumprir a manipulação (“Enquanto você posterga, outros já estão virando referência”. Frases como “Seu livro pode ser a obra de referência que faltava no seu nicho” e “O seu precisa ser o próximo” operam como delegação interna de urgência, fazendo o enunciatário sentir-se responsável por não estar ainda no patamar dos “grandes”). O saber sobre o mercado (“Quem só posta desaparece. Quem publica, permanece”) é apresentado como verdade absoluta detida pelo enunciador, que se coloca como porta-voz da realidade inevitável do algoritmo, convencendo o destinatário pela acumulação de dicotomias disfóricas/eufóricas (fumaça × legado, alugar × possuir, desaparecer × permanecer).

6.1.3 Efeitos persuasivos resultantes: ilusão de verdade e convencimento argumentativo

Delineia-se, assim, os mecanismos sintáticos pelos quais não somente o efeito de persuasão é gerenciado (isto é, produz seu efeito de persuasão), mas como tal se converte em convencimento da necessidade de urgências absolutas como seus efeitos passivos. Desse modo, fabrica-se a ilusão de que a contração do ghostwriter é não somente uma solução racional para problemas relacionados à divulgação de conteúdos digitais na forma física, mas mesmo uma saída ética e moral. A configuração sintática é explicitada pelo uso de repetições análogas (“Livro é o que transforma…”, “Livro não é vaidade; é…”, “Publicar é deixar um rastro…”), as quais funcionam como meios retóricos, e concomitante, anulam a possibilidade de contestação. O texto, dessa forma, arquiteta sua estratégia manipulativa mediante a saturação.

O clímax desse efeito é dado quando ocorre o estabelecimento e naturalização da hierarquia: o emprego do ghostwriter, atuando de forma invisível e oculta, é compreendido como virtude ética e racional (“Sem apagar sua voz”, “ajuda profissional pra nascer do jeito certo”). Sua contratação não é oriunda da incapacidade do “autor nominal”, mas uma demonstração de sagacidade ( “os grandes não escrevem sozinhos”). A citação de São Josemaria Escrivá (“Sê útil. Deixa rastro”) é incorporada como uma autoridade externa, que valida o posicionamento moral do enunciador, e, por consequência, seu posicionamento como facilitador do processo de escrita.

A principal estratégia de manipulação do discurso é convencer o enunciatário de que a rejeição da oferta não é simplesmente negar a contratação de um serviço, mas uma irresponsabilidade tanto para com o público, mas, principalmente, para consigo mesmo (“O conhecimento que você compartilha muda vidas. Ele também pode mudar a sua, se virar livro”). Desse modo, a adesão aos serviços ultrapassa uma perspectiva meramente comercial, mas estaria intimamente relacionada às esferas lógica e ética da vida, tornando-se uma escolha obrigatória.

 

 

7§ Tematização, figurativização e construção da ideologia


Nessa seção, tomaremos como perspectiva o exame imanente do discurso, investigando quais as estruturas semânticas internas, e como, fundamentado nelas, a manipulação ocorre. Por outros termos, avaliamos como se dá a promoção da oferta da transformação de um conteúdo digital de natureza efêmera, para um legado permanente, materialmente dado, via ghostwriter. Tomaremos como aparelhagem metodológica para essa investigação os procedimentos dados pela semântica discursiva, com ênfase nos processos de tematização, a qual se configura como a formulação abstrata de valores narrativos em diversos percursos temáticos (e na figurativização), o revestimento desses percursos por meio de figurações, as quais são incorporadas com traços sensoriais, tendo em vista a iconização e projeções de realidade.

Tais procedimentos, ao serem operacionalizados pelo enunciador, não somente disseminam e proliferam valores, mas visam principalmente os concretizar, tendo em vista a naturalização da sua proposta ideológica. Esse projeto será executado, sistematicamente, em 4 seções: descrição do percurso narrativo e sua conversão temática; descrição dos temas recorrentes e a isotopia temática; procedimentos de figurativização; e, por fim, a construção da ideológica resultante.

7.1 Percurso narrativo subjacente e conversão em percurso temático

O texto oculta suas verdadeiras intenções mediante uma narrativa elementar baseada em um programa manipulatório: um sujeito beneficiário (o “você” que “ensina e fatura alto”) encontra-se em um estado disfórico, pois se encontra em um estado de junção incompleta com o objeto de valor, tido como um legado permanente, o qual ainda se encontra ameaçado pela disjunção, pois é atrelado a elementos com características efêmeras (“algoritmo te esquece”, “24h de stories” e “vira fumaça”). O sujeito que operacionaliza o discurso (o “eu” que se identifica como ghostwriter) afirma poder realizar uma performance de natureza transformadora, isto é, a capacidade de converter um objeto virtual (tomado aqui como um conteúdo falado ou ideias dispersas) em um objeto de valor com características eufóricas (o livro é interpretado como “obra de referência”, algo que deixa “rastro bonito no mundo”).

Essa estrutura narrativa converte-se no modelo de um percurso temático abstrato com a formulação axiológica /permanência/ vs. /efemeridade/, que, por sua vez, fundamenta o trajeto semântico: o sujeito narrativo (aquele que almeja o legado) investe-se no ator “publicador”, e passa a ser aquele que cumpre um papel temático como aquele que realiza estrategicamente sua necessidade. Assim, os valores alçados pelo discurso, /aquisição de competência mediada/ e /desempenho atemporal/, são espalhados abstratamente na forma de um percurso, que dita a necessidade de uma mediação profissional não declarada. Nela, o enunciador, por ser o responsável pela configuração e organização do discurso, assegura a coerência semântica num segmento temático que se inicia na aceitação da disforia do meio digital, até a euforia do meio impresso.

7.1.1 Recorrência de semas abstratos e isotopia temática

A isotopia temática dominante no discurso é oriunda da repetição de semas abstratos, os quais fundamentam o percurso temático: /transformação de efêmero em permanente via mediação qualificada.

I – semas de natureza eufórica relacionados a permanência e legado: /duração/, /legado/, /permanecer/, /rastro/ — os quais são perceptíveis em: “dure mais do que 24h”, “transforma ideias em legado”, “Quem publica, permanece”, “deixar um rastro bonito no mundo”, “páginas a virarem legado”/;

II – semas de natureza disfórica relacionados a efemeridade: /desaparecimento/, /fumaça/,
/alugar/, /postergar/ — os quais são perceptíveis em: “vira fumaça”, “Quem só posta desaparece”, “alugando um espaço na internet”, “Enquanto você posterga”;

III – semas sobre a mediação técnica: /método/, /técnica/, /estrutura/, /transformar/, /ajuda profissional/ — os quais são perceptíveis em: “exige método, tempo e técnica”, “Eu organizo… estruturo… transformo”, “ajudo ideias a virarem páginas”, “só teve ajuda profissional pra nascer do jeito certo”;

IV – semas sobre a invisibilidade respeitosa: /sem apagar voz/, /o livro é seu/ — os quais são perceptíveis em: “Sem apagar sua voz”, “O livro é seu”.

Os semas são repetidos sintagmaticamente em estruturas paralelas e antitéticas: “Quem só posta desaparece. Quem publica, permanece”; “Se virar livro”. Delineia-se, assim, uma forma redundante na qual o texto é formado em suas distintas partes, sendo estabelecido um nexo de coerência mediante um percurso temático: atrela-se uma perspectiva disfórica, implícita, de transitoriedade no meio digital, enquanto a perspectiva eufórica é sedimentada na concretude atemporal do meio impresso, o qual sempre é intermediado por uma competência anônima e oculta. A naturalização do processo como inevitável é executada pela ausência de semas alternativos, inviabilizando a valorização da efemeridade.

7.1.2 Procedimentos de figurativização

Por priorizar o revestimento temático abstrato, a figurativização é esparsa, ocorrendo sempre com traços sensoriais mínimos, tendo em vista uma iconização moderada (o que termina por reforçar efeitos de persuasão sobre a realidade na qual o enunciatário encontra-se). Os percursos temáticos são enriquecidos com investimentos figurativos, os quais visam estabelecer concretizações sensoriais facilmente captáveis:

I – figuração espacial e temporal: traços de /espaço alugado vs. posse permanente (“alugando um espaço na internet” vs. “páginas” e “obra de referência”). Iconização da disforia como volátil (fumaça, stories de 24h), e a euforia como tangível (livro que “continua existindo” e “plantar o que o algoritmo não apaga”);

II – figuração actancial: atores concretizados como “os grandes” (os quais “não escrevem sozinhos”, “outros”) que “já estão virando referência”), e o “você”, como educador (“curso, aulão ou masterclass que você deu”), preenchendo o abstrato com traços humanos reconhecíveis;

III – iconização sensorial: semas visuais e táteis como /rastro/, /páginas/, /nascer do jeito certo (“deixar um rastro bonito”, “virarem páginas”, “dar uma nova vida”), fingindo cópia do real sem excesso figurativo.

Todavia, por não possuírem descrições detalhadas, esses processos de figurativizações não inconizam totalmentes, o que serve para manter o discurso temático com uma figuração esparsa e abstrata. As figuras, portanto, são empregadas tendo em vista uma disseminação dos temas sem autonomia, pois, dessa forma, tem sua utilidade mais adequada a persuasão da ideologia propagada pelo texto.

7.1.3 Construção da ideologia como resultante

Demonstra-se, desse modo, como o texto publicitário, no seu processo de constituição imanente, fórmula uma ideologia na qual a permanência é sempre mediada, e, por consequência, tida como o clímax do valor eufórico: a mediação, compreendida como uma interferência profissional anônima no processo de transformação do conteúdo digital para o conteúdo físico, é interpretado como uma necessidade ética para transformar a efemeridade dos produtos sujeitos ao algoritmo, em um legado autêntico e duradouro. Tal perspectiva ideológica desenvolve a naturalização da seguinte hierarquia axiológica:

I – eufórico: a publicação mediada (legado + rastro permanente + ajuda sem apagar voz) resulta na elevação do conteúdo original, sem o corromper, legitimando o anonimato como virtude estratégica (“os grandes não escrevem sozinhos”, “Invista na criação de seu legado!”);

II – disforia: a efemeridade solitária (implícita como insuficiente e vaidosa, “Livro não é vaidade; é estratégia”, “posterga”) que condena a produção digital como transitória e irresponsável (“muda vidas… pode mudar a sua, se virar livro”).

Mediante a citação de São Josemaria Escrivá (“Sê útil. Deixa rastro”), reforça-se essa hierarquia axiológica, o que implica em um investimento figurativo de natureza ética-religiosa, o que novamente configura a ideologia proposta pelo enunciador como uma espécie de imperativo moral. Por fim, conclui-se que o percurso temático, e sua respectiva figurativização, não somente promovem essa interpretação, como camuflam a divulgação comercial no formato de uma parceria misericordiosa: estabelece-se como natural e generosa a dependência do “autor nominal” (o “você” construído como enunciatário) em relação ao “mediador anônimo” (o ghostwriter enunciador do texto). Essa condição ideológica cria o substrato que torna o sentido do texto possível, conforme compreendido na forma de uma excelência de utilidade pública e social pelo qual os diversos sujeitos da plataforma podem estabelecer relações recíprocas. 

 

 

8§ Coerência textual e construção da ideologia


Tomaremos como objeto de nossa análise o sentido proposto pelo texto de Silva, tal como ele é nos oferecido na sua imanência, isto é, tomaremos como base os conceitos oferecidos pela semântica discursiva, os quais serão enfatizados no seu aspecto de coerência textual, que, por sua vez, devem ser entendidos como a unidade semântica, garantida e assegurada pelas isotopias (ou seja, pela reintegração de traços semânticos abstratos, sejam eles temáticos ou figurativos, os quais perpassam o discurso na forma de linhas isotópicas responsáveis pela coerência do discurso).

As isotopias são determinações do discurso, que podem ser relacionadas mediante metáforas ou metonímias, as quais visam geram uma naturalização da ideologia do discurso, e fabricam a coerência, possibilitando a legibilidade, e a direção, que a semântica do texto tem por fim. Tomaremos a análise de forma sistemática, por meio do estudo divididos em 4 seções: analisaremos qual o percurso narrativo e como ocorre sua manifestação isotópica, examinaremos a isotopia temática do discurso, examinaremos a isotopia figurativa do discurso, e, por fim, demonstrarmos como ocorre a construção ideológica resultante dessa coerência.

8.1 Percurso narrativo subjacente e sua manifestação isotópica

Primeiramente, descrevemos como ocorre a narrativa elementar, a qual serve para fundamentar, por meio de uma dissimulação, o programa manipulatório. O sujeito (um “você” narrativo que é identificado como quem “ensina e fatura alto”) encontra-se em estado de disjunção disfórica com o seu objeto de valor (o legado permanente), que também está constantemente ameaçado pela efemeridade digital (“algoritmo te esquece”, “vira fumaça”). Tendo em vista ser conduzido a um estado de conjunção eufórica com seu objeto de valor, o sujeito operador-manipulador (o “eu” narrativo que é identificado como ghostwriter) efetua sua performance transformadora.

A unidade sintagmática, e, por consequência, a legibilidade dessa narrativa, é manifesta na coerência textual por meio de isotopias que reiteram traços semânticos. O percurso é recoberto por isotopias temáticas e figurativas, as quais são relacionadas verticalmente por relações metonímicas (causa-efeito: a efemeridade possui como resultado o desaparecido; a mediação possui como resultado a permanência) e metafóricas (o efêmero é figurativizado como “fumaça” e “aluguel”, enquanto a permanência é figurativizada como “rastro” e “plantar”). Portanto, a coerência semântica do discurso emerge dessa redundância, e não unicamente de elementos da coesão frásica (conectores de uso superficial como “mas” ou “spoiler”). Tal processo integra a orientação argumentativa do discurso.

8.1.1 Isotopia temática

A isotopia temática possui como função assegurar que a coerência textual se faça presente no discurso, mediante a repetição de semas na forma de um percurso temático dominante, o qual se delineia no texto dessa forma: /transformação de efêmero em permanente através da mediação competente. A presença dessa unidade textual pode ser demonstrada em:

I – permanência/ vs. /efemeridade (“continua existindo”, “dure mais do que 24h”, “permanecer” vs. “desaparece”, “vira fumaça”, “posterga”);

II – legado/ como valor eufórico (“transforma ideias em legado”, “deixar um rastro bonito”, “virarem legado”);

III – mediação técnica invisível (“exige método, tempo e técnica”, “ajudo ideias a virarem páginas”, “só teve ajuda profissional pra nascer do jeito certo”, “sem apagar sua voz”).

A linearidade textual é gerada devido à redundância temática, que fundamenta o nexo das suas diversas partes. Tendo por início o disfórico, atrelado a transitoriedade (“Se você ensina… mas não escreve”), gera-se a mediação como uma necessidade a ser atendida (“os grandes não escrevem sozinhos”), e efetua-se o processo de manipulação, que culmina na euforia (tomado aqui como a realização do processo — “Seu legado pode começar agora”). A isotopia temática funciona, pois, além de realizar sua função de coerência semântica, também efetua o processo de exclusão de alternativas (não há possibilidade de haver valorização atrelado a efemeridade). O percurso discursivo é naturalizado e estabelecido como um sentido não somente unívoco, mas também inevitável.

8.1.2 Isotopia figurativa

A isotopia figurativa, por sua vez, contribuirá para a construção da coerência, mediante a redundância de traços sensoriais, que irão iconizar o percurso temático, incorporando a perspectiva abstrata dos semas em imagens organizadas, as quais tentarão repetir a “realidade”, digital vs. impresso de forma concreta e sensível. Reiteram-se os traços figurativos em:

I – visuais e táteis de volatilidade (“fumaça”, “24h de stories”, “alugando um espaço na internet”) vs. solidez (“páginas”, “rastro bonito”, “plantar o que o algoritmo não apaga”);

II – actanciais de guerra implícita contra o efêmero (“algoritmo te esquece”, “outros já estão virando referência”, “O seu precisa ser o próximo”);

III – biológicos de “vida” e “nascimento” (“dar uma nova vida”, “nascer do jeito certo”, “muda vidas”).

Esse maquinário figurativo possui uma natureza associativa (a efemeridade é figurativizada como gás volátil, enquanto a permanência é figurativizada como a presença de um produto físico e tangível) sendo, por meio de processos metonímicos (o efeito considerado uma extensão da causa: aquele que somente oposta, tem como consequência o desaparecimento, em contrapartida, a publicação do conteúdo digital em sua versão física, tem como consequência, o rastro), envolto no percurso temático abstrato e sem autonomia. O reforço da legibilidade é provocada quando a coerência textual recorre ao uso moderado dos processos figurativos, usados para construir um fingimento do discurso como uma “cópia do real”, que, todavia, se apresenta como uma possibilidade acessível (figuras facilmente reconhecíveis do mercado digital, tais como “curso, aulão ou masterclass”, são empregadas com esse propósito).

8.1.3 Construção da ideologia como resultante da coerência

Portanto, conclui-se que a coerência textual, proporcionada e assegurada pelas isotopias temáticas, de índoles abstratas e figurativas, são construídas na imanência do discurso na forma de uma ideologia da permanência, a qual, necessariamente, deverá ser mediada como um imperativo ético e estratégico. Desse modo, configura-se a mediação profissional, oculta  e anônima, como o único percurso eufórico, cuja finalidade última é a superação da disforia, presente na efemeridade (característica fortemente atrelada aos produtos acessíveis somente no digital), e a transformação em produtos físicos, que encarnam o legado autêntico. A ideologia proposta, culmina sua perspectiva axiológica em uma sistematização hierárquica:

I – eufórico, o permanente mediado: legado + rastro + ajuda sem apagar voz (reiterado como “estratégia de longo prazo”, “útil” via citação de São JoseMaria Escrivá);

II – disfórico, o efêmero solitário: implícito como insuficiente e irresponsável, “vaidade”, “posterga”.

As isotopias, propostas pelas estruturas imanentes do texto, coadunam-se em uma perspectiva unitária, na qual possíveis leituras pluri-isotópicas são ignoradas ou rechaçadas (assim, conforme a coerência textual, não há isotopia alternativa de na transitoriedade, por está intrinsecamente ligado à noção de transitoriedade), enquanto, por via de metáforas, essa temática abstrata é encarnada figurativamente (por um lado, o efêmero é tido como “fumaça”, que equivale a uma morte simbólica, enquanto, do outro lado, a permanência é tido como “rastro”), que não somente está relacionada ao livro, enquanto ente material não subordinado aos desígnios do “algoritmos”, mas também, por estar relacionado a citação de um santo, como representação ligada especificamente a perspectiva ética.

A leitura ideológica é desencadeada pelo isotópico “ghostwriter”, o qual é introduzido e antecedido com o termo “spoiler”, que possui como finalidade o desencadeamento da revelação da mediação não somente como um processo comercial, ou uma relação contratual, mas como uma questão de salvação moral  (“Sê útil. Deixa rastro”). Em resumo, a coerência semântica, seja em seus aspectos narrativos (como direção argumentativa da urgência), seja em seus aspectos coesivos (gerados por paralelismos como “Quem só posta… Quem Publica”), servem justamente para mascarar a publicidade comercial de um serviço em uma propaganda: a parceria entre o produtor de conteúdo (que segmenta sua produção tão somente no meio digital, e a adaptação deste último para o suporte físico) é legitimado ideologicamente como a dependência do “autor nominal” ao “mediador oculto e anônimo” como uma condição única para se evitar o esquecimento.

 

References

References
1 N.E. Este artigo conta com a co-autoria do colunista Isaac Fonseca.
2 Nesse sentido, sobre o debate entre Martin Heidegger – Herbert Marcuse, ver: ABROMEIT, John; WOLIN, Richard (orgs). Heideggerian marxism: Herbert Marcuse. Nebraska: University of Nebraska Press, 2005. Sobre o debate entre Theodor Adorno – Karl Popper, ver: ADORNO, Theodor et al. The positivist dispute in german sociology. Londres: Heinemann London, 1976. Sobre o debate entre Hannah Arendt – Karl Jaspers, ver: ARENDT, Hannah; JASPERS, Karl. Hannah Arendt [e] Karl Jaspers: correspondence (1926-1969). New York: Harcourt Brace Jovanovich, 1992. Sobre o debate entre Hannah Arendt – Martin Heidegger, ver: ARENDT, Hannah; HEIDEGGER, Martin. Correspondencia (1925–1975). 2. ed. Barcelona: Herder, 2000. Sobre o debate entre Eric Voegelin – Leo Strauss, ver: VOEGELIN, Eric; STRAUSS, Leo. Eric Voegelin [e] Leo Strauss: fe y filosofía (correspondencia 1934-1964). Madrid: Minima Trotta, 2009. Sobre o debate entre Karl Popper – Thomas Kuhn – Paul Feyerabend – Imre Lakatos, ver: LAKATOS, Imre; MUSGRAVE, Alan (orgs). A crítica e o desenvolvimento do conhecimento: quarto volume das atas do Colóquio Internacional sobre Filosofia da Ciência, realizado em Londres em 1965. São Paulo: Cultrix; Universidade de São Paulo, 1979. Sobre o debate entre Bertrand Russell –  Ludwig Wittgenstein, ver: MCGUINNESS, Brian (org). Wittgenstein in Cambridge: letters and documents (1911–1951). 4. ed. Oxford: Blackwell Publishing, 2008. Sobre o debate entre Carl Jung – Sigmund Freud, ver: MCGUIRE, William (org). Freud [e] Jung: correspondência completa. 2. ed. Rio de Janeiro: Imago, 1994.
3  JABBOUR, Elias. Debate: capitalismo x socialismo. In: Todos os Programas. 29 ago. 2022, Inteligência Ltda. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=b-dvcPHV8ck.
4 De antemão, é preciso explicar que este artigo não está imputando a nenhum dos três personagens citados (Marçal, Silva e Perroni) qualquer uma das práticas que foram relatadas na literatura científica (médica ou biomédica), mas sim elencando tais estudos e situações para questionar eticamente e epistemologicamente a legitimidade da publicação ghostwriter no debate cultural-público, na história das ideias brasileiras e na história científica das disciplinas. As referências à literatura científica internacional (especialmente da área médica e biomédica) são empregadas exclusivamente como analogias conceituais para fundamentar a problematização teórica proposta, não constituindo afirmação, sugestão, imputação ou insinuação de que qualquer uma das práticas apresentadas pela literatura científica seja, tenha sido ou venha a ser realizada por qualquer uma das pessoas mencionadas. Em momento algum os autores deste artigo atribuem, afirmam, sugerem, insinuam ou associam a essas pessoas práticas ilícitas, condutas tipificadas penalmente, irregularidades profissionais ou ações fraudulentas de qualquer natureza. Toda menção é orientada pela finalidade crítica e acadêmica, conforme assegurado pelo art. 5º, IV e IX da Constituição Federal.
5 Ver: LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos de metodologia científica. 5.ed. São Paulo: Atlas, 2003, p.162 e p.235.
6 MARÇAL, Pablo. Debate: Elias Jabbour x Pablo Marçal. In: Política e Geopolítica. 20 nov. 2025, Inteligência Ltda. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=nPLJs6xPNWU.
7 A sociologia editorial é uma disciplina que ainda não está formal-institucionalmente estabilizada, uma vez que a classificação de seu ramo de saber surge da especiação (termo que, na fase madura, o epistemólogo Thomas Kuhn usa para designar a revolução científica) tensional das disciplinas de sociologia da literatura e de paratexto (também chamada de sociologia do texto). Devido aos limites já mencionados, não terei como problematizar devidamente a temática-disciplinar ou sistematizar a revisão das referências bibliográficas, a qual será realizada em artigo vindouro.
8 O texto do livro está sendo publicado sob qual denominação classificatória? Um ensaio literário? Uma crítica cultural? Uma introdução à ciência política? Uma introdução-comentada a um filósofo?
9, 12, 13, 14, 15, 18, 19, 21, 23, 25, 26, 27, 29, 30, 31, 34 Ibidem.
10 SISMONDO, Sergio. Ghost management: how much of the medical literature is shaped behind the scenes by the pharmaceutical industry?. PLoS Med, v. 4, n. 9, p.1429-1433, set. 2007. Disponível em: https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC1989751/. Acesso em: 26 nov. 2025. [citado na p.1429].
11 SISMONDO, Sergio. Ghost management: how much of the medical literature… Op.cit., p.1430.
16 SISMONDO, Sergio. Ghost management: how much of the medical literature… Op.cit., p.1429.
17, 24 SISMONDO, Sergio. Ghost management… Op.cit., p.1430.
20 SISMONDO, Sergio. Ghost-managed medicine: big pharma’s invisible hands. Manchester: Mattering Press, 2018, p.66.
22 SISMONDO, Sergio. Ghost-managed medicine… Op.cit., p.67.
28 RAWAL, Gautam; YADAV, Sankalp. Ghostwriters in the scientific world. Pan African Medical Journal, v. 30, n. 217, p.1-6, maio. 2018. Disponível em: https://www.panafrican-med-journal.com/content/article/30/217/full/. Acesso em: 26 nov. 2025. [citado na p.2].
32 RAWAL, Gautam; YADAV, Sankalp. Ghostwriters in the scientific… Op.cit., p.3-4.
33  RAWAL, Gautam; YADAV, Sankalp. Ghostwriters in the scientific… Op.cit., p.4.
35 “[…] o estudante brasileiro lê 1,8 livros por ano. No curso de Pós-Graduação de Administração Pública do Paraná, falando com os futuros administradores públicos, eu disse para eles que um especialista, para saber o que está se passando, tem de ler, pelo menos, oitenta livros da sua área por ano, e as pessoas olhavam umas para as outras, exclamando: “oitenta?”, como se eu fosse um monstro impondo para eles uma coisa desumana”. CARVALHO, Olavo de. Curso online de filosofia. 29 out. 2011, aula 128. “Eu lembro quando, no Paraná, eu falei para os alunos da Universidade do Paraná que um especialista de qualquer área do conhecimento tem que ler, pelo menos, oitenta livros da sua área por ano, supondo, claro, que o livro é da área especializada do sujeito, [porque, se] o livro é da sua área profissional, você tem que ser capaz de ler muito rapidamente, [mas] os caras ficaram chocados, acharam que, por querer obrigá-los a ler oitenta livros, eu era um tirano”. CARVALHO, Olavo de. Curso online de filosofia. 2020, aula 512. 
36 Felipe Aquino, que, outrora, foi um sério pesquisador da história da inquisição, afirmou, durante uma chamada para o seu curso, que: “Você está vendo essa pilha de livros que está aqui? É tudo sobre a eucaristia, e tem muito mais coisa que não está aqui. Tem sobre os Santos doutores da Igreja, Código de Direito Canônico, e muito mais coisas. Já pensou você ler tudo isso daqui? Vai demorar muito tempo, não é? Então, para que você pudesse ter uma síntese de tudo isso, [sobre] o que é mais importante de tudo isso, foi que eu gravei dezesseis aulas desse curso, e mais uma aula bônus, para que você possa ter um conhecimento profundo desse grande mistério da eucaristia” [como a postagem era patrocinada, não encontrei, no instagram de Aquino, a referência original. Entretanto, a gravação da fala foi documentada nos destaques do instagram do Jornal Cidadania Popular] (ver: Aquino, Felipe. Inscrições abertas. Instagram, 23 ago. 2023 [grifos nossos]. Disponível em: < https://www.instagram.com/s/aGlnaGxpZ2h0OjE3OTg4NzIwNDYxMTg3MDA2>. Acesso em: 23 ago. 2023.). Por sua vez, o Instituto Borborema, que já foi tido como o espaço que supostamente congregava os melhores ‘alunos’ de Olavo de Carvalho, alega que: “Existe uma ilusão de que uma montanha de livros e a sua leitura incontinente é suficiente para o desenvolvimento da inteligência. Acontece que, mais do que de livros, nós precisamos de um professor […] uma espécie de fetiche literário que tem tomado cada vez mais pessoas nestes tempos […] Você pode acabar como apenas mais um no grupo dos “amantes de livros”, enganado pela ilusão de estar fazendo um bem tremendo à sua inteligência ao devorar, como um glutão, alimentos que sequer tem condições de digerir […] Essa ânsia pela leitura, se não é orientada, ordenada, se carece de um preparado e um guiamento adequado, de nada serve à inteligência, muito menos ao espírito. Na verdade, causa muito mais males do que o bem que se imagina. Afinal, ainda que leia muito e prime pelos melhores escritos já produzidos pela humanidade, quem garante que você conseguirá decodificar adequadamente os termos e símbolos neles registrados? Quem garante que está suficientemente munido dos instrumentos essenciais para a plena compreensão do que lê?” (ANTES de comprar mais livros, encontre um professor. Instituto Borborema, Campina Grande, 20 jun. 2024 [grifos nossos]. Disponível em: https://institutoborborema.com/2024/06/20/antes-de-comprar-livros-encontre-um-professor/. Acesso em: 20 jun. 2024. ). Já a Brasil Paralelo, criada na esteira da influência intelectual de Olavo de Carvalho, e do ambiente cultural que ele germinou, cujos fundadores alegavam ter por missão o resgate da história-cultural brasileira, criou um aplicativo de ‘áudio-livros’, argumentando que: “Segundo a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, o país perdeu 7 milhões de leitores em apenas 4 anos. Hoje, 30% da população nunca comprou um livro. Resultado? Conversas rasas, opiniões superficiais e dificuldade até de interpretar enunciados simples. O Teller nasce pra virar esse jogo: áudio sem tela, curadoria de clássicos (de Platão a Machado), playlists que cabem no trânsito, na fila ou na academia – e uma área infantil que ajuda a formar vocabulário e atenção desde cedo. Um aplicativo de audiolivros feito para transformar sua rotina em aprendizado” (BRASIL PARALELO. Uma boa saída para preencher o dia corrido de forma útil. Instagram, 17 set. 2025 [grifos nossos]. Disponível em: <https://www.instagram.com/reel/DOt_6PpAI4s>. Acesso em: 02 dez. 2025.). E, saindo em defesa do ‘áudio-livro’, Lara Brenner, produtora-produto da Brasil Paralelo, declara que: “Durante séculos, a voz foi o veículo natural de conhecimento. Ouvir um livro, então, é voltar à origem. É ler com os ouvidos, como se fazia antes mesmo da leitura silenciosa existir” (QUEIROZ, Lara Brenner. Que vergonha. Instagram, 11 nov. 2025 [grifos nossos]. Disponível em: <https://www.instagram.com/reel/DQ6-93CDsgi>. Acesso em: 02 dez. 2025.).
37 SILVA, Patrícia. Você sabia que eu também trabalho com texto?. Instagram, 15 ago. 2025. Disponível em: < https://www.instagram.com/p/DNYIct1OdGv/>. Acesso em: 26 nov. 2025.
38 SILVA, Patrícia. Um livro é o infoproduto mais poderoso que existe. Instagram, 01 out. 2025. Disponível em: < https://www.instagram.com/p/DPQsWIPDkXA/>. Acesso em: 26 nov. 2025.
39 Foi com a epistemologia kuhniana que a pesquisa científica passou a ser vista e praticada como uma imagem dinâmica de processos históricos. Ver: KUHN, Thomas Samuel. El camino desde la estructura: ensayos filosóficos (1970-1993). Barcelona: Paidós, 2002; KUHN, Thomas Samuel. The last writings of Thomas S. Kuhn: incommensurability in science. Chicago: University Chicago Press, 2022.
40 Para fins de esclarecimento, tomo o termo segundo a acepção dada pelo epistemólogo Karl Popper. Ver: POPPER, Karl Raimund. Conjecturas e refutações. 5. ed. Brasília: Editora da Universidade de Brasília, 2008.
41 Parto do termo no sentido dado pelo filósofo e epistemológico Lorenz Bruno Puntel. Ver: PUNTEL, Lorenz Bruno. Estrutura e ser: um quadro referencial teórico para uma filosofia sistemática. São Leopoldo: Editora UNISINOS, 2008.
42 PERRONI, Thomaz. Mercado editorial e trabalho intelectual. 09 jan. 2022, Encontro Europeu do Seminário de Filosofia. Disponível em: https://www.youtube.com/live/66lTJRksULg?si=WlebshZ12iJzTANA.
43 Ver: CARVALHO, Olavo de. Curso online de filosofia. 21 mar. 2009, aula 03; CARVALHO, Olavo de. Curso online de filosofia. 22 ago. 2009, aula 20; CARVALHO, Olavo de. Curso online de filosofia. 31 out. 2009, aula 30; CARVALHO, Olavo de. Curso online de filosofia. 05 dez. 2009, aula 35; CARVALHO, Olavo de. Curso online de filosofia. 15 nov. 2011, aula 130.
44 Devido às limitações deste esboço-crítico, não terei como elaborar uma explicação detalhada, mas o que Olavo de Carvalho chamava de linguagem literária era, na bem verdade, um ramo de saber do campo paradigmático de sua fenomenologia da consciência, de modo que a literatura (ou, como os ditos “alunos” gostam de chamar, o ‘imaginário’), na filosofia carvalhiana, está intrinsecamente e indissociavelmente contextualizada pelo campo fenomenológico da consciência.
45 Nesse sentido, ver: BUNGE, Mario Augusto. Semántica I: sentido y referencia. Barcelona: Editorial Gedisa, 2008; BUNGE, Mario Augusto. Teoria e realidade. São Paulo:  Editora Perspectiva, 2014.
46 Desde, pelo menos, o positivismo lógico-empirista de Rudolf Carnap (1891-1970), passando pelo naturalismo empirista de Willard Van Orman Quine (1908-2000), o historicismo epistemológico de Thomas Samuel Kuhn (1922-1996), o pluralismo metodológico de Paul Karl Feyerabend (1924-1994), a ontologia-epistemológica de Mario Augusto Bunge (1919-2020), até a sistemática-estrutural de Lorenz Bruno Puntel (1935-2024), a epistemologia compreende que a linguagem da pesquisa configura não só a semântica lexical dela, como também, e sobretudo, que revela o estatuto ontológico do objeto.
47 Kuhn denomina isso de taxonomia. Ver as obras supracitadas.
48 Ver: CONDÉ. Mauro Lúcio Leitão. As teias da razão: Wittgenstein e a crise da racionalidade moderna. Belo Horizonte: Argvmentvm Editora; Scientia, 2004.
49 É o domínio que define e delimita a vigência, legitimidade e validez de inteligibilidade do status-objetal dentro do estatuto da área de conhecimento.
50 Caso fossemos, por exemplo, pesquisar como se deu a noção de ‘alma’ na área da psicologia medieval-escolástica até a psicologia atualmente vigente, constataremos que o status-objetal dela não foi concebido ou considerado do mesmo modo lógico-conceitual, surgindo, pois, sob as ‘vestes’ dos procedimentos históricos que modularam a sua descoberta ou fatoração epistêmica.
51 N.E. Toda a segunda parte deste artigo, que compreende o tópico 4 a 8, foi escrito por Isaac Fonsenca.
52 Para tal fim, recorreremos às metodologias propostas por Algirdas Julius Greimas (1917–1992), as quais foram expostas em suas duas principais obras “Semántica estructural: investigación metodológica” (1976) e “Semiótica, diccionario razonado de la teoria del lenguaje” (1982). Todavia, especificamente para esse estudo, tomaremos como leituras complementares os capítulos 4 e 5 do livro “Teoria Semiótica do Texto” de Diana Luz P. de Barros (2005), com as aulas de Demócrito de Oliveira Lins (LINS, Demócrito de Oliveira. Sintaxe discursiva. In: Introdução à Semiótica Greimasiana. 09 fev. 2023, São Paulo: USP, aula 05. Disponível em: https://youtu.be/SmyN-maz2bY?si=5R-AJSsS7aTnWqkL. Acesso em: 05 dez. 2025; LINS, Demócrito de Oliveira. Semântica discursiva. In: Introdução à Semiótica Greimasiana. 09 fev. 2023, São Paulo: USP, aula 06. Disponível em: https://youtu.be/aeRowIk2eRo?si=yGdNsZHVE1B7jxF7. Acesso em: 05 dez. 2025.), do capítulo 3 da Tese de Letícia Moraes Lima (LIMA, Letícia Moraes. A noção do texto na semiótica. 2021. 273f. Tese (Doutorado em Letras) — Programa de Pós-Graduação em Semiótica e Linguística Geral, Departamento de Linguística, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2021.), e da primeira parte do capítulo 2 da Tese de Paula Martins de Souza (SOUZA, Paula Martins de. O sujeito semiótico: uma tipologia. 2016. 277f. Tese (Doutorado em Linguística) — Programa de Pós-Graduação em Semiótica e Linguística Geral, Departamento de Linguística, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2016.).
53 SILVA, Patrícia. Você sabia que eu também trabalho com texto?. Instagram, 15 ago. 2025. Disponível em <https://www.instagram.com/p/DNYIct1OdGv/>. Acesso em: 26 nov. 2025; SILVA, Patrícia. Um livro é o infoproduto mais poderoso que existe. Instagram, 01 out. 2025. Disponível em: <https://www.instagram.com/p/DPQsWIPDkXA/>. Acesso em: 26 nov. 2025.
54 Tendo como fim compreender como se dá esse processo, efetuaremos a aplicação dos parâmetros e conceitos da sintaxe discursiva da teoria semiótica, com ênfase nas relações argumentativas entre enunciador e enunciatário. Tais relações são formuladas na imanência do texto como mecanismos de manipulação, e, para tanto, confundem a produção discursiva com estratégias de convencimento, tendo em vista criar uma ilusão de veracidade. Realizaremos, pois, a análise de forma sistemática nas seguintes seções: identificação dos mecanismos sintáticos argumentativos, distribuição do saber e da responsabilidade, e efeitos persuasivos (os quais serão resultados do emprego dos esforços anteriores).
Rodolfo Melo

Rodolfo Melo nasceu em João Pessoa – PB; é pesquisador, com ênfase na filosofia carvalhiana (Olavo de Carvalho), marxologia (teoria marxiana) e epistemologia, e Editor Chefe do Jornal Cidadania Popular. É aluno do Curso Online de Filosofia (COF) desde 2016.

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