Caro leitor, a proposta deste artigo não é dar uma lista ordenada de leitura do Professor Olavo, mas sim fornecer uma apresentação mais clara de como o estudioso poderia ter um itinerário-ideal de leitura da Filosofia do Filósofo Olavo de Carvalho. É importante frisar que, particularmente, não acredito em listas de leituras, pois acho que elas petrificam a descoberta intelectual a caixinhas prontas – a ritos desnecessários.
A vida intelectual é a vida de curiosidade em busca de uma descoberta. Assim, por sua própria natureza, ela repugna conhecimentos doutrinários, estudos enciclopédicos. O estudo se faz na dificuldade do estudioso, na tentativa e erro – no esforço interrogativo. O leitor, então, poderia se perguntar: “ora, então qual a necessidade deste artigo?”. É simples: é comum vermos os ditos “alunos” darem uma fórmula de “como ler o Olavo”, que, não raras as vezes, o restringem a um comentarista político, ou mesmo deformam a sua pedagogia-filosófica. Este trabalho tenta opor-se a isto.
Pois bem, é preciso começar dividindo a obra do Professor Olavo em 4 níveis hierárquicos de discurso [1] Este artigo apenas resume a temática, à qual será trabalhada no artigo vindouro “Os 4 discursos e a hierarquia intelectual”. , a saber: I – Poético; II – Retórico; III – Dialético e IV – Lógico. Cada um desses níveis apresentam subníveis, como: crítica cultural, ciência política, filosofia política, filosofia da cultura, gnoseologia, ontologia, fenomenologia, filosofia da consciência, etc. Também é preciso dar duas advertências: I – Esses níveis de discursos não estão estanques, mas se interpenetram ao longo da obra, em – como chamaria o Professor – “dosagens” de discurso; II – este artigo irá trabalhar apenas as obras publicadas do Olavo, deixando, assim, de fora os cursos – antigos, avulsos e COF.
1§ Nível Poético
I – Diário Filosófico [2] Posteriormente denominado: diário
Acreditamos que, para o estudioso iniciante, esse deveria ser o livro de contato inicial com o Olavo. O diário filosófico é uma obra que condensa os comentários do Professor sobre os mais diversos assuntos. Ali, Olavo tece certos esboços e notas sobre vislumbres, lances e enlaces, que a sua consciência apreende do momento em questão. O Professor citava bastante a frase do Filósofo Benedetto Croce: “a expressão das impressões”. Não raras as vezes, temas que o Olavo comentava no facebook – ou seja: no diário – viravam, nas aulas do COF, análises mais profundas. Portanto, este livro pode ser tido como uma espécie de paralelo com o livro “reflexões autobiográficas” do Eric Voegelin.
2§ Nível Retórico
1) Crítica Cultural
I – O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota
As obras deste nível de discurso caracterizam-se por serem escritos jornalísticos, ou seja: são comentários que tentam compreender, mais detalhadamente, os acontecimentos diários, a partir de conceitos descritivos. Temos aqui a presença de artigos-ensaísticos. Olavo abre o livro com os seguintes dizeres: “Se você não é capaz de tirar de um livro consequências válidas para sua orientação moral no mundo, você não está pronto para ler este livro”, e complementa dizendo que o idiota é aquele ao qual “nada enxerga além dele mesmo”.
Neste livro, o estudioso encontrará a apresentação sintética de conceitos basilares do Olavo, tais como: mentalidade revolucionária, globalismo, guerra cultural, socialismo, democracia, vocação, personalidade, marxismo, etc.
II – Cartas de um Terráqueo ao Planeta Brasil
A coletânea busca, segundo os dizeres do próprio Professor Olavo, “conscientizar os brasileiros quanto ao fenômeno da existência do Foro de São Paulo”, colocando, assim, para o leitor, “conceitos de filosofia política apropriados à compreensão do fenômeno”. Ou seja: o estudioso já precisa ter, aqui, um contato anterior com alguns conceitos basilares do Olavo, como: Foro de São Paulo, guerra cultural, marxismo, etc. Nesta coletânea, Olavo explicita como a sua crítica cultural é, na verdade, a análise filosófica na busca de “elevar os homens acima das limitações da cultura ambiente” – sendo os artigos a “ilustração prática dos conceitos e métodos” que haviam sido expostos nos cursos dados na PUC do Paraná.