Capítulo I [1]Autoria: Ale Nagado
Inicialmente uma definição para qualquer manifestação vinda do povo e para o povo, o termo “cultura popular” evoluiu a partir do tempo. Tendo surgido no século XIX para definir a cultura, educação e arte das classes mais baixas e sem muita instrução, foi ganhando contornos de mercado. Com a expansão das tecnologias para a reprodução, a cultura foi se tornando também um produto de consumo, criando formas de entretenimento. Assim, foi se tornando cultura de massa, buscando agradar ao maior número de pessoas e encontrando segmentos de mercado. No século XX, a chamada cultura pop se tornou cada vez mais dominante, atingindo todas as classes sociais, ditando modas, comportamentos, e captando anseios do público.
Entretenimento de massas, mas também com segmentos de nichos bem específicos, a chamada cultura pop entrou no século XXI como arma de propaganda de ideais políticos, como negócio multimilionário e também um conjunto de mitologias modernas. É também um elemento importante na chamada guerra cultural e até na geopolítica, na medida em que influencia comportamentos e interesses ideológicos. Grandiosas sagas no cinema, desenhos animados consumidos por crianças, jovens e adultos, games, quadrinhos, séries feitas para a TV ou produzidas direto para streaming, uma infinidade de personagens disputam a atenção de um público cada vez mais ávido por consumo desenfreado.
Em todo o mundo ocidental, a cultura pop é majoritariamente formada por gigantescos grupos de comunicação, com interesses muito além do que simplesmente gerar lucro, mas ambiciona transformar a sociedade. Alheio a tudo isso, um pequeno país do extremo oriente se destaca como um dos maiores produtores de entretenimento global. O Japão, um arquipélago que por muitos períodos esteve isolado do resto do mundo, produz e consome uma enorme quantidade de quadrinhos, animações, séries, games e música – praticamente tudo criado visando apenas o consumo local.
A cultura pop japonesa é um conjunto de mídias com características únicas, sendo as mais importantes o mangá e o animê [2] https://www.blogsushipop.com/post/a-hist%C3%B3ria-do-anim%C3%AA . As histórias em quadrinhos japonesas são chamadas de mangá, um termo que significa “desenhos irresponsáveis”, e remete à sua origem como formas de cartum, charge e caricatura. A palavra foi cunhada pelo mestre das xilogravuras Katsushika Hokusai (1760~1849), mas os registros de desenhos cômicos no Japão são bem mais antigos, com registros famosos no século XII. Em termos arqueológicos, há caricaturas cuja produção é estimada em algum ponto do século VII. Já no século XIX, o contato com cartunistas ocidentais influenciou profundamente os artistas gráficos japoneses, que sofisticaram mais suas técnicas e passaram a criar tiras em quadrinhos.
O século XX viu a transição do mangá, de desenhos de humor, para histórias em quadrinhos, conseguindo cada vez mais sucesso de público. No pós-guerra, o artista Osamu Tezuka (1928~1988) começou a codificar técnicas e experimentações de autores mais antigos, criando histórias de enorme sucesso. Com um traçado expressivo e muita variedade, Tezuka formatou segmentos de mercado e se tornou o mais influente desenhista japonês de todos os tempos. Com um mercado de revistas impressas em preto-e-branco, que vende milhões de exemplares mensalmente, o universo do mangá invadiu o ocidente – derrubando, entre leitores de quadrinhos, até os super-heróis da Marvel e DC – tornando-se o estilo dominante em todo o mundo.
Ainda mais do que o mangá, o animê – desenho animado – conquistou o público mundial. Desde a década de 1960, séries animadas japonesas são exportadas para outros países, geralmente sofrendo adaptações de nomes, como o clássico Speed Racer (1967)- na verdade o nome ocidental para Mach Go Go Go. De lá para cá, cada vez mais obras foram sendo exibidas, e o advento da internet derrubou todas as barreiras. Em todo o mundo, é difícil encontrar um jovem que não conheça, ao menos um pouco, personagens de obras como Dragon Ball Z, Evangelion, Naruto, One Piece, Demon Slayer e tantas outras. No cinema, críticos já teceram os maiores elogios aos filmes animados de Katsuhiro Otomo, Hayao Miyazaki e Makoto Shinkai.