Podemos novamente retornar à história do Juiz bíblico Sansão. Nela, o papel actancial de S2 (Dalila) é determinado pela aplicação dos seus recursos, o que a dá o investimento modal querer-ser. Sabemos que foram os príncipes dos filisteus que pagaram a Dalila para descobrir, e revelar-lhes, a razão da força de Sansão – e como privá-lo dela. Há, portanto, uma modalização do ser, pelo valor da ambição. Depois de muito insistir com o Juiz, Dalila se apropria do segredo da força de Sansão – adquirindo assim um saber-fazer. Isto torna possível o poder-fazer, que refere-se ao ato de cortar as tranças de Sansão. Devido à modalização do fazer, o nazireu é privado de sua força.
Dalila é modalizada pelo querer-ser e o saber-fazer – conseguindo assim praticar a sua performance na narrativa. Ela cria uma transformação, no estado de conjunção entre Sansão e seu objeto de valor, para um estado de disjunção. Dessa forma, podemos criar o seguinte PN (programa narrativo) [1]É o sintagma elementar, uma espécie de fórmula matematizante, que constitui os estados e transformações da narrativa. Ela pode ser definida como um enunciado de fazer, ou seja: as ações que os … Continue reading , que no caso dessa história pode ser expresso como:
. PN = F (função) [S2 → (S1 U Ov)]
Para esse PN, a performance de Dalila (S2) tem mais domínio sobre a de Sansão (S1). Portanto, nesse caso, Dalila é chamada sujeito do fazer, enquanto Sansão é nomeado como sujeito do estado. Podemos fazer duas ressalvas a respeito das aplicações dos PNs. A primeira é que em um texto [2] Lembrando que o texto aqui é encarado em seu sentido semiótico. , onde há vários PNs, ocorrem numerosas modificações e transformações, e, simultaneamente, existem diversos objetos e valores – de modo que a história irá organizar as diversas partes que compõem a sua estrutura na ação, e nas modalizações, do fazer. Oposto a isso, um texto que contém poucas mudanças entre sujeitos e objetos, e que também tenha pouca ação, terá sua organização relacionada em torno do estado passional do ser.
Para Greimas, os discursos somente podem ser construídos se tiverem como base as estruturas narrativas – observadas pelo ponto de vista do sujeito, o que faz com que ele se torne a base das sustentações narrativas. As interações destas estruturas, que constroem o nível discursivo, está no narrativo – deste modo, deve a semântica criar padrões de normas para este nível.
References
↑1 | É o sintagma elementar, uma espécie de fórmula matematizante, que constitui os estados e transformações da narrativa. Ela pode ser definida como um enunciado de fazer, ou seja: as ações que os sujeitos tomam – que vão reger um enunciado de estado -, como serão as relações dos sujeitos com os valores. |
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↑2 | Lembrando que o texto aqui é encarado em seu sentido semiótico. |