Realidade e Simbolização – Parte II

  • Jorge Teixeira
  • 30 maio 2024

 

Não desprezem o princípio de identidade, pois ele é Deus”.

–  F.W.Shelling

Todos os seres têm uma essência que manifesta-se em uma forma de criar sua exequibilidade em relação a outras essências. Leibniz, no ensaio De rerum originatione radicali, escreveu: “Diz-se que algo exprime alguma [outra] coisa quando tem compleições que correspondem às compleições da coisa que há de ser expressa”. Esse raciocínio complementa o de Olavo, ao afirmar que “se o indivíduo não fosse capaz de distinguir forma e matéria, cada novo objeto seria alheio ao anterior e ele não conseguiria pegar a unidade”. [1] CARVALHO, Olavo de. Curso Online de Filosofia. 07 Nov. 2009, aula 31.  

 

4§ Princípio de identidade


Leibniz continua, no mesmo corpo de texto, dizendo que “a unidade é a razão fundamental das coisas”, ao passo que Carvalho acredita que “a razão é a busca pelo fundamento” [2] CARVALHO, Olavo de. Curso Online de Filosofia. 25 Abr. 2009, aula 05. - o qual pressupõe uma unidade, da qual virá a multiplicidade, e vice-versa -, mas a capacidade que o sujeito tem de percebê-la deriva de sua forma mesma. O ser (ontologia), cuja matéria forma o conhecer (gnoseologia), age pela potência do ato que possibilita a estrutura mesma da consciência daquele que conhece, e a vontade da forma em descobrir-se deve, portanto, ser preservada e estimulada.

A presença nos salva de dialogarmos com meras aparências desconectadas e recupera o sentido de um ser com o outro, isto é, a saída do ôntico para o ontológico, dando corpo – no linguajar heideggeriano – ao complexo do ser-no-mundo, do ser-em-si e do ser-com-outro. A tensão entre o ser e o conhecer, entre a essência e a forma manifestada por um fenômeno, merece que a consciência mire a sua atenção para ela própria, numa tentativa de descobrir como ela pode, no mesmo ato intuitivo, captar diferentes formas dos seres – através do giro rotatório -, sem que, inicialmente, seja preciso pensar. Esse assombro fenomenológico tenta buscar o ser presente analisando suas aparências, as quais fazem parte da sua essência. Nós temos essa possibilidade, assim como a coisa (ou o ser) também tem para mostrar-se de uma forma que é possível aprendê-la.

Portanto, as possibilidades e impossibilidades confluem entre si simultaneamente. Isso quer dizer que, se o sujeito consegue enxergar a cor azul, é porque a própria cor tem a capacidade de mostra-se a ele; logo as essências têm uma estrutura que tornam possível a sua apreensão em relação às outras. Toda teia construtiva que nós fazemos para raciocinar sobre algo contém processos: a tripla intuição (como a intuição da razão e a da comparação) são as possibilidade de conhecer; logo, o que Olavo de Carvalho pretende é, a partir delas, estruturar fatores da gnoseologia. As condições para essa estruturação, na filosofia de Carvalho, são rastreáveis desde 1992, quando ele ministrou um curso sobre as Investigações Lógicas de Edmund Husserl, mas cujo teor já ganhava forma desde 1990 com o curso de Astrocaracterologia.

Em Inteligência e Verdade [3] N.E. Faz-se necessário esclarecer que o livro “Inteligência e Verdade” (2021) é uma reedição de parte do livro “Ser e Conhecer” (2000) de Olavo de Carvalho. , seu pensamento irá amadurecer dando corpo aos textos O problema da verdade e a verdade do problema, A ideia pura de ciência, Ser e Conhecer, Conhecimento por presença e A metafísica e os fundamentos da objetualidade, sendo neste último a sua afirmação de que: “A forma é percebida de maneira instantânea e inseparável como conjunto articulado de possibilidades e impossibilidades. Essa instantaneidade, inerente à natureza do ato intuitivo, torna possível, no caso, a distinção kantiana entre o que é dado no objeto e o que é (segundo Kant) projeção nele pelas estruturas a priori do nosso modo de percepção ou da nossa razão[4] CARVALHO, Olavo de. Inteligência e Verdade: ensaios de filosofia. Campinas: Vide Editorial, 2021, p.277. Grifo nosso. Segundo Olavo, “uma pedra tem uma determinada forma, e esta forma emite informações sobre a pedra”. [5] CARVALHO, Olavo de. Edmund Husserl contra o psicologismo. Campinas: Vide Editorial, 2020, p.208. Grifo nosso. Assim, as possibilidades e impossibilidades não articulam as condições justamente por que não são objetos, mas estão no objeto mesmo como um “sistema articulado” [6] CARVALHO, Olavo de. Edmund Husserl contra o psicologismo. Campinas: Vide Editorial, 2020, p. 279. que nos permite conhecer.

Nos dias 13 e 14 de janeiro de 1993 [7] CARVALHO, Olavo de. Edmund Husserl contra o psicologismo. Campinas: Vide Editorial, 2020, p.136. , Olavo condensou essas condições nos seguintes termos:

(1) Condições práticas:

a) intuição

b) repetibilidade do ato intuitivo

c) dispositivos de registros

 

(2) Condições teóricas:

a) juízo

b) experiência

c) nexo

d) evidência

Intuir é a apreensão imediata de uma presença à consciência. Se, pela atenção, o foco muda de objeto, o que está presente, com isso,  é o ato de pensar. As cadeias entre proposições podem dialogar-se entre si dialeticamente, até gerar uma outra lógica. Mas, como disse Leibniz, as proposições podem ir ao infinito [8] ROBSON, Ronald. Conhecimento por presença: em torno da filosofia de Olavo de Carvalho. Campinas: Vide Editorial, 2020, p. 207. ou, como bem demonstrou Carvalho, podem fundir-se em intersecções lógicas perfeitas ( como o método a more geometrico de Spinoza ) criando, com isso, filosofias que se parecem com um diamante, mas um diamante que vive a afogar na tempestade do oceano da realidade. [9] CARVALHO, Olavo de. A longa marcha da vaca para o brejo. Campinas: Vide Editorial, 2019. Toda análise sobre algum objeto pressupõe sua conscientização através de um ato intuitivo inicial que deve se repetir, pois se as proposições são um acúmulo de intuições e nexos lógicos – intuicionismo radical [10] CARVALHO, Olavo de. Inteligência e Verdade: ensaios de filosofia. Campinas: Vide Editorial, 2021, p.253. logo, a repetição é parte integral das condições. A substância daquilo que se percebe permanece no verbus mentis e é identificada pelo princípio de identidade. Olavo não modificou esse princípio de Aristóteles, mas lhe deu um modo de conversar com outras formas de sua própria filosofia, como círculo de latência e giro rotatório. As três regras da (1) identidade (2) não contradição e (3) terceiro excluído formaram a base para os axiomas encontrados em Inteligência e Verdade [11] CARVALHO, Olavo de. Inteligência e Verdade: ensaios de filosofia. Campinas: Vide Editorial, 2021, p.86.

I) Proposição auto-evidente é aquela cuja contraditória não pode ser formulada numa proposição logicamente unívoca (axioma de número I )

II) Ação é mudança de estado no tempo e/ou espaço (axioma de número II )

II-A) Espaço é a possibilidade do fenômeno [12] CARVALHO, Olavo de. Curso Online de Filosofia. 15 Nov. 2014, aula 271.

III) Estado é etapa da mudança (axioma de número III )

IV) Só há três tipos de mudança: a mudança de estado ou as duas reduções (axioma de número IV)

V) A mudança de estado subentende a permanência do sujeito (axioma de número V)

VI) A redução analítica subentende que as partes pertencem a um mesmo sujeito (axioma de número VI)

VII) A redução sintética real subentende que aquele em que o sujeito foi absorvido não fosse ele (axioma de número VII)

VIII) A redução sintética hipotética ou subentende a possibilidade da redução sintética real ou é impossível (axioma de número VIII)

IX) Toda prova funda-se em princípios auto-evidentes (axioma de número IX)

X) Todo sujeito de uma proposição, na medida em que possa ser também sujeito de uma ação ou objeto de uma ação realizada por outro sujeito também capaz de ser objeto de ação, é um (axioma de número X)

É dever do aluno aplicar esses axiomas nos estudos de filosofia [13] CARVALHO, Olavo de. Inteligência e Verdade: ensaios de filosofia. Campinas: Vide Editorial, 2021, p.66. , assim como o fazemos nesta frase de Heráclito: “Nenhum homem pode banhar-se duas vezes no mesmo rio… pois na segunda vez o rio já não é o mesmo, tão pouco o homem”. Nela, temos três conclusões:

(1) o rio é outro

(2) o sujeito é outro

(3) ambos são outros 

O rio é outro porque as águas, a todo momento, são modificadas; o fluxo manda as águas antigas embora e nos apresentam águas novas, tornando o rio outro. Porém, como o sujeito sabe que trata-se do mesmo rio só que mudado? Como soube que o rio passou por essa transformação? Se o rio é outro, por que tratou como mudado e não como um outro em que nunca havia entrado antes? Se o sujeito o tratou como modificado, isso significa dizer que ele adquiriu uma imagem intuitiva que teve ao entrar no rio pela primeira vez, e que se repetiu ao entrar novamente. Essa repetição torna-se exequível graças ao princípio de identidade. Se o sujeito é outro, o rio também o seria imediatamente já que, se o rio mudou, foi porque permaneceu o sujeito – tanto que, como diz Olavo, “a mudança de estado subentende a permanência do sujeito” (axioma número V). Se ambos são diferentes, então ambos são novos. Logo, a mudança só se torna possível quando há a permanência do sujeito e a repetição da intuição. Todavia, todas essas transformações são incapazes de modificar o princípio de identidade, pois se isso fosse possível, tudo não seria novo e nada nos seria mudado.

A identidade se mantém mesmo que se tenha diferentes imanências psicológicas sobre o objeto, o qual acontece através de um registro: “se não existe o registro, não existe a repetibilidade do ato intuitivo e, não existindo isso, então não podemos nada em matéria de conhecimento”. [14] CARVALHO, Olavo de. Inteligência e Verdade: ensaios de filosofia. Campinas: Vide Editorial, 2021, p.69. Qualquer mudança só se torna cognoscível mediante um fundo de identidade que permanece ao longo das mudanças. Se não houvesse essa memória, o sujeito poderia entrar a todo momento no mesmo rio – intacto ou mudado -, mas só conseguiria percebê-lo como novo. Estando ausente o ente sobre o qual pensa o sujeito, sobrevive, portanto, sua imagem – reservada na memória e a sua própria possibilidade é garantida por uma teia de fatores que, quando organizada, forma um mapa gnoseológico da filosofia da consciência de Olavo: “É somente através da memória que nós percebemos a unidade da casa: quando vamos de um cômodo para o outro, ainda nos lembramos do anterior – se esquecermos, nunca formaremos a imagem da casa e guardaremos dela somente, talvez, este e aquele cômodo isolados”. [15] CARVALHO, Olavo de. O saber e o enigma: introdução ao estudo dos esoterismos. Campinas: Vide Editorial, 2021, p.37.

A unidade do real torna-se cognoscível e conhecível graças à capacidade do sujeito ter, a todo momento, intuições e atualizá-las mediante tanto ao giro rotatório, (potência do sujeito), quanto ao círculo de latência (característica das coisas) e esses processos demonstram que a forma dos acontecimentos, assim como os dados, vêm da própria realidade e é dever do ser humano atentar-se a ela e treinar o pensar a intuir através da contemplação amorosa; esta já não circunda somente pela gnoseologia, mas também faz parte da ontologia, por assim dizer. Logo, esses conceitos de Olavo estruturam e dão sentido à passagem do ato intuitivo para a sua identificação, atualização e verbalização; da aparência fenomenológica aos acidentes, quantidades e qualidades e, deles, às essências. Com a imagem gerada, é esperado que ela encontre seu representante tanto por intuição, quanto por imaginação.

O imaginatio mediatrix, de Hugo de São Vítor, é a possibilidade cognoscível que torna exequível a analogia e, posteriormente, os discursos e gêneros (separados por pólos e unidos por raios [16] CARVALHO, Olavo de. A dialética simbólica. Campinas: Vide Editorial, 2012 p. 96-97 e p.194.), os quais darão, mediante o treinamento da captação das latências, corpo às experiências: Não existe objeto físico e, separado dele, a interpretação inteiramente arbitrária que você faz dele; as latências que você percebe estão dadas no círculo de latência do qual a aparência física dos objetos é só mais um aspecto […] Cada palavra que usamos possui um estoque de conteúdos atualizáveis ou possíveis, que em determinado momento não vêm à tona por não os estarmos utilizando. Mas, se formos premidos a buscar na palavra sua correspondência com determinada coisa, é possível que esses conteúdos de fundo (círculo de latência) venham a se atualizar”. [17] CARVALHO, Olavo de. O saber e o enigma: introdução ao estudo dos esoterismos. Campinas: Vide Editorial, 2021, p.37-45. Grifos nossos.

Guardamos as intuições na memória e reconhecemos o objeto pelo princípio de identidade (A=A). O que parece complicar a descrição dos fenômenos é o seguinte: do mesmo modo em que Platão filosofa a respeito dos planos de realidade (não aqueles separados por graus de abstração,  mas àqueles que fundem-se no exato momento da percepção, como a realidade da visão biológica e a do raciocínio psicológico, por exemplo), escritores tentavam analisar como conseguimos perceber a essência das formas, ou seja, se elas só nos aparecem através de acidentes desconexos uns dos outros, mas que só fazem sentido se aqueles que os percebem, também percebem a sua forma. Olavo, na aula sobre Xavier Zubiri, dissertou que “na memória, você opera a separação entre a forma essencial e o acidente” [18] CARVALHO, Olavo de. Curso História essencial da Filosofia: Xavier Zubiri e a Escolástica. 2005, aula 16. , complementando, em Ser e Conhecer, que “a distinção e separação de essência e acidente é feita na nossa mente, mas a síntese da essência e acidente não somos nós que fazemos, porque ela é dada pela própria realidade” [19] CARVALHO, Olavo de. Ser e Conhecer. [s.l.]: [s.n.], 2000, p.218. , trocando a palavra “mente”, um pouco vaga, pela palavra “memória”, que é mais assertiva.

Disto, criamos uma imagem que pode ser tanto construída quanto percebida. Aquela se dá quando, por exemplo, o sujeito cria uma reta na mente através da intuição intelectual, enquanto esta ocorre quando, por exemplo,  percebe-se fluídos da realidade. Isso significa dizer que para o sujeito escrever a proposição “o cão late”, ele, primeiro, precisa intuir, repetir a intuição e atualizá-la em relação à sua imagem. Em vista disso, percebe-se que a proposição, assim como o juízo que a antecede, nada mais é do que um acúmulo de intuições e nexos lógicos (percebidos também intuitivamente pela intuição da razão [20] CARVALHO, Olavo de. Ser e Conhecer. [s.l.]: [s.n.], 2000, p.511. ) conectadas umas às outras. A esse conjunto, Olavo de Carvalho deu o nome de Intuicionismo Radical – uma teoria, como o próprio diz, “totalmente inédita na história da filosofia”. [21] CARVALHO, Olavo de. Ser e Conhecer. [s.l.]: [s.n.], 2000, p.513. Se o universo é um sistema total de latências, e as percebemos intuitivamente, logo toda construção dedutiva também tem de sê-la, tanto as por necessidade lógica quanto as por silogismos. Usaremos, portanto, o conceito de um cubo e de um cachorro para exemplificarmos a relação entre latências e intuições.

Um cubo é uma figura euclidiana formada por seis quadrados congruentes conectados tridimensionalmente por oito pontos. Para que haja, portanto, um cubo, é necessária a existência de seis quadrados e dos pontos que os ligam. Mas, para que haja apenas um quadrado, são necessárias quatro retas e quatro pontos e, por fim, a exequibilidade da reta dá-se pela necessidade de um acúmulo de pontos; ponto esse percebido intuitivamente. A circunferência é senão um acúmulo de pontos formando uma reta fechada. Percebemos que tudo começa com um ponto e todas as figuras geométricas, mesmo as mais complexas como os fractais (anel, prisma hexagonal e toroide), têm como base essa intuição. Nesse raciocínio, o ponto seria a intuição originária – a unidade – e sua composição – o encadeamento – forma todo o resto: “Um raciocínio ou dedução, portanto, não passa de um encadeamento de intuições coladas umas às outras por um nexo lógico também percebido intuitivamente”. [22] CARVALHO, Olavo de. Inteligência e Verdade: ensaios de filosofia. Campinas: Vide Editorial, 2021, p.254.

Por isso, para Olavo: “Toda geometria de Euclides é a prova de que mesmo uma figura puramente ideal como quadrado não pode ser reconhecida por inteiro e de maneira instantânea. O conceito mesmo de quadrado só se apresenta a mim no resumo compacto de um termo, e não no desdobramento completo de suas propriedades. Tudo que conhecemos são feixes de latência: conhecemos um aspecto, e este aspecto nos revela todo um feixe, toda uma constelação de latências”. [23] CARVALHO, Olavo de. O saber e o enigma: introdução ao estudo dos esoterismos. Campinas: Vide Editorial, 2021, p.41. Se nós agruparmos todo o conhecimento adquirido sobre o animal cachorro, não o criaríamos, já que, sem a sua essência, todas as suas propriedades, acidentes, qualidades e quantidades estariam desconexas das intuições atualizáveis.

Assim, Olavo indica que: “Tudo que existe, a menos que seja uma ideia, detém círculo de latência. O conceito de leão não tem círculo de latência, pois é apenas um esquema lógico que o sujeito percebe ser aplicável a todos os leões. No entanto, o leão de verdade, que existe concretamente, possui círculo de latência. Há uma gama de possibilidades que ele poderá atualizar ou não, e uma gama de impossibilidades que o definem”. [24] CARVALHO, Olavo de. O saber e o enigma: introdução ao estudo dos esoterismos. Campinas: Vide Editorial, 2021, p.53. Grifos nossos. A possibilidade do cachorro latir, e não voar, o forma como um ser, assim como forma também a sua incapacidade de ler Dante e Dostoiévski. Sua estrutura também permite que ele cave o chão (acidente) e corra rápido (qualidade).

Porém, para todos esses acidentes que, às vezes, podem decorrer da natureza dos animais mesmo, existem uma infinidade de outros acidentes de diversos outros seres ocorrendo simultaneamente, na qual cada um é peça essencial para todos os demais. A esse tipo de acontecimento, que define parte dos círculos de latências, Olavo chamou de Acidentes metafisicamente necessários. O filósofo já tratou desse assunto, através de um outro giro rotatório, quando discursou a respeito do sistema objetivo de divisão de realidade , dando corpo a sua teoria sobre fato concreto como o acontecimento “no qual se juntam todas as linhas de causas, as que estão ligadas entre si e que não estão e somente se juntam no acontecimento concreto”. [25] CARVALHO, Olavo de. Edmund Husserl contra o psicologismo. Campinas: Vide Editorial, 2020, p.78.

Para Olavo: “Absolutamente tudo o que conhecemos é constituído de fatos concretos […] e justamente porque somos almas imortais é que temos essa capacidade extraordinária de unificar, em um relance, o universo inteiro dos fatos concretos e dos seus determinantes acidentes metafisicamente necessários”. [26] CARVALHO, Olavo de. Curso Online de Filosofia. 26 Jun. 2010, aula 63. Essa teoria do acontecimento concreto compreende que “a natureza física que nos rodeia está cheia de acidentes. Se você suprimir a acidentalidade da natureza e conservar somente a essência da natureza, esta não vai se parecer nada com este mundo físico; será um conjunto de formar abstratas”. [27] CARVALHO, Olavo de. Edmund Husserl contra o psicologismo. Campinas: Vide Editorial, 2020, p.252.

Como as intuições nos aparecem na realidade, ou seja, temos a sensação de que estão desconexas e não nos explicam nada, dificilmente conseguimos (co)relacioná-las corretamente e, por isso, atribuímos mal os seus signos correspondentes: “Ora, como os dados com que você fez o primeiro raciocínio não foram criados pela sua mente, mas foram fornecidos pela realidade, esses dados não têm signos, eles não vêm com signos, mas como presenças reais e, por isso mesmo, são inexpressivos. Você só pode expressar o que você pensou valendo-se de signos, de palavras Isto quer dizer que a primeira percepção é muda: como não é feita através de signos, você não pode expressá-la, você não pode dizê-la. Ora, como você não pode dizer ela , você sente que não tem domínio da situação e, como não tem domínio da situação, você se sente inseguro”. [28] CARVALHO, Olavo de. Curso Online de Filosofia. 18 Jul. 2009, aula 15.

Em O Mundo dos Princípios, Olavo vai dizer que a transposição das percepções para a memória; da memória para (re)percepção e adaptação; desta para os conceitos e deles para os juízos e, por fim, para a verbalização, há uma infindável perca de intuiçẽs e nexos lógicos. Pois na esfera da presença real do momento, pois a realidade mescla os acontecimentos e lhes dão um sentido mesmo que é não-verbalizável e de dificílima explicação, já que a própria realidade flui para uma homogeneidade do real [29] CARVALHO, Olavo de. Edmund Husserl contra o psicologismo. Campinas: Vide Editorial, 2020, p.96.  que está nela mesma mas que, para o sujeito, é de difícil entendimento. Logo, deve haver uma harmonia de acontecimentos tanto na ordem, quanto no caos para que o sujeito pensante possa, desse oceano pavoroso da realidade, mesclar intuições e latências e organizá-las corretamente em juízos e essa ordem, por assim dizer, teve confluir tanto da própria realidade quando do próprio ser pensante.

 

References

References
1 CARVALHO, Olavo de. Curso Online de Filosofia. 07 Nov. 2009, aula 31.
2 CARVALHO, Olavo de. Curso Online de Filosofia. 25 Abr. 2009, aula 05.
3 N.E. Faz-se necessário esclarecer que o livro “Inteligência e Verdade” (2021) é uma reedição de parte do livro “Ser e Conhecer” (2000) de Olavo de Carvalho.
4 CARVALHO, Olavo de. Inteligência e Verdade: ensaios de filosofia. Campinas: Vide Editorial, 2021, p.277. Grifo nosso.
5 CARVALHO, Olavo de. Edmund Husserl contra o psicologismo. Campinas: Vide Editorial, 2020, p.208. Grifo nosso.
6 CARVALHO, Olavo de. Edmund Husserl contra o psicologismo. Campinas: Vide Editorial, 2020, p. 279.
7 CARVALHO, Olavo de. Edmund Husserl contra o psicologismo. Campinas: Vide Editorial, 2020, p.136.
8 ROBSON, Ronald. Conhecimento por presença: em torno da filosofia de Olavo de Carvalho. Campinas: Vide Editorial, 2020, p. 207.
9 CARVALHO, Olavo de. A longa marcha da vaca para o brejo. Campinas: Vide Editorial, 2019.
10 CARVALHO, Olavo de. Inteligência e Verdade: ensaios de filosofia. Campinas: Vide Editorial, 2021, p.253.
11 CARVALHO, Olavo de. Inteligência e Verdade: ensaios de filosofia. Campinas: Vide Editorial, 2021, p.86.
12 CARVALHO, Olavo de. Curso Online de Filosofia. 15 Nov. 2014, aula 271.
13 CARVALHO, Olavo de. Inteligência e Verdade: ensaios de filosofia. Campinas: Vide Editorial, 2021, p.66.
14 CARVALHO, Olavo de. Inteligência e Verdade: ensaios de filosofia. Campinas: Vide Editorial, 2021, p.69.
15 CARVALHO, Olavo de. O saber e o enigma: introdução ao estudo dos esoterismos. Campinas: Vide Editorial, 2021, p.37.
16 CARVALHO, Olavo de. A dialética simbólica. Campinas: Vide Editorial, 2012 p. 96-97 e p.194.
17 CARVALHO, Olavo de. O saber e o enigma: introdução ao estudo dos esoterismos. Campinas: Vide Editorial, 2021, p.37-45. Grifos nossos.
18 CARVALHO, Olavo de. Curso História essencial da Filosofia: Xavier Zubiri e a Escolástica. 2005, aula 16.
19 CARVALHO, Olavo de. Ser e Conhecer. [s.l.]: [s.n.], 2000, p.218.
20 CARVALHO, Olavo de. Ser e Conhecer. [s.l.]: [s.n.], 2000, p.511.
21 CARVALHO, Olavo de. Ser e Conhecer. [s.l.]: [s.n.], 2000, p.513.
22 CARVALHO, Olavo de. Inteligência e Verdade: ensaios de filosofia. Campinas: Vide Editorial, 2021, p.254.
23 CARVALHO, Olavo de. O saber e o enigma: introdução ao estudo dos esoterismos. Campinas: Vide Editorial, 2021, p.41.
24 CARVALHO, Olavo de. O saber e o enigma: introdução ao estudo dos esoterismos. Campinas: Vide Editorial, 2021, p.53. Grifos nossos.
25 CARVALHO, Olavo de. Edmund Husserl contra o psicologismo. Campinas: Vide Editorial, 2020, p.78.
26 CARVALHO, Olavo de. Curso Online de Filosofia. 26 Jun. 2010, aula 63.
27 CARVALHO, Olavo de. Edmund Husserl contra o psicologismo. Campinas: Vide Editorial, 2020, p.252.
28 CARVALHO, Olavo de. Curso Online de Filosofia. 18 Jul. 2009, aula 15.
29 CARVALHO, Olavo de. Edmund Husserl contra o psicologismo. Campinas: Vide Editorial, 2020, p.96.
Jorge Teixeira

Jorge Teixeira nasceu em Guaratinguetá, SP, mora em Campinas. É aluno do COF desde 2020. Em setembro de 2021, tornou-se aluno da deputada estadual Ana Campagnolo. Protestante, nutre gosto por história e filosofia.

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