“A mão de Deus” é a mais nova obra italiana de Paolo Sorrentino, lançada em 2021. Trata-se de uma obra reflexiva de difícil verbalização. Há um encanto visual que leva nossa imaginação por águas quase indescritíveis. Por isso, quiçá as linhas que se seguem não satisfaçam o leitor ao qual me exige uma descrição analítica, mas, por acaso, satisfaça o leitor que deseja apenas encontrar – em linhas de outrem – algumas impressões e sentimentos pessoais – até então indescritíveis a si mesmo. Logo no início do filme, um plano aberto mostra a vastidão do mar e de Nápoles. Segue-se um plano médio que expõe aquilo ao qual sobrevive nessa vastidão de possibilidades: as vidas humanas. A câmera volta ao plano aberto da realidade representada pela vastidão do mar. Vidas marcadas por intempéries e ânsias questionam-se sobre a liberdade e a felicidade.
Maradona é uma divindade que permeia tudo como uma teia. O próprio diretor se inspirou ao vê-lo dividir o mesmo ambiente que o presépio – a virgem e seu castíssimo esposo. [1] Documentary The Hand of the good. Pelos olhos de Sorrentino. 2021. Netflix. A dicotomia entre o sagrado e o profano se faz presente no padre Pio – ao qual divide o balde com a água suja, no mongezinho que cumprimenta a impureza, e na teia que permeia a obra. O Cinema e Nápoles exercem o papel de reinventar essa realidade – na qual essas vidas se locomovem. A cidade de Nápoles foi mesmo escolhida, nas palavras do diretor, por ser onde constantemente reinventa-se a realidade. [2] Ibidem