“Sleepers – a vingança adormecida” (para não ignorar a lei brasileira de obrigatoriedade de insatisfação com títulos originais sem sensacionalismos) é um filme de 1996, dirigido por Barry Levinson e recheado por um elenco formidável, onde encontramos Robert de Niro, Brad Pitt e espetáculos que fazem jus ao enredo envolvente e perturbador. Trata-se de um retrato de ações humanas em situações perturbadoras e suas consequências. Padre Bobby é um retrato do sujeito que possui características maduras, as quais coexistem com sua aparente falta de devoção à sua religião. Trata-se de um homem maduro e caridoso. Ele tenta sempre tomar o controle da situação – exerce suas ações com seriedade e ajuda os garotos no que precisam. Esforça-se para que eles também se tornem homens maduros e tenham um futuro promissor.
É precisa a cena a qual o sacerdote diz ao garoto que ele deve enfrentar as consequências do erro, ao invés de fugir delas. “Você tem que lidar com isso” – assim como a cena ao qual ele diz que “aquilo que fizerdes a um desses meus pequeninos, a mim o fizerdes”, é uma de suas passagens favoritas dos textos bíblicos. Mas como se trata de um Padre, faz-se interessante olhar a relação dele com sua religião. O narrador nos diz que o padre tenta persuadir o garoto a sair do caminho criminoso – ao qual começava a traçar -, mas não motivado pelo dinheiro ilícito que estava adquirindo, e sim pelo próximo passo que teria de tomar naquele ramo: pegar em armas.
O padre não os disse que era pecado adquirir dinheiro daquela forma, e sim que aquilo iria prejudicar o futuro deles. O narrador diz achar que o padre contaria a história do leproso – a narrativa bíblica -, mas acaba por contar a história de Michelangelo. Uma história de determinação. Por vezes a roupa não evidencia que ele é um sacerdote. De forma cômica, o filme parece pôr em xeque a devoção do personagem – quando a prescrição é que o coroinha coloque bastante vinho e pouca água; além disso, refere-se aos fiéis da missa como “plateia” e à missa como “show”. Não digo que o fez com indiferença, mas com aquela comicidade típica de quem quer dar leveza a uma ação difícil – a qual deve ser desempenhada com coragem e responsabilidade. Ele trata sua profissão com seriedade, mas como isso mesmo: uma profissão.
Trata-se da figura de um padre secularizado, e um bom homem. O personagem, descrito acima, é uma figura dentro desse emaranhado de ações difíceis. A sua decisão final de defender os garotos é imoral, na perspectiva do catolicismo, e sustenta outras ações imorais daqueles – desde vingarem-se até mentirem para livrarem-se das consequências da vingança. A profusão da personalidade, e a devoção do padre, torna sua ação final totalmente verossímil, coerente e até esperada. A complexidade da narrativa nos afasta do julgamento e nos aproxima da compreensão.