1930: István Mészáros nasceu em 19 de dezembro na Hungria, durante a ditadura de Miklós Horthy. Foi criado por sua mãe, que trabalhava em uma fábrica de aviões montando motores, com a ajuda da avó materna.
1942: Aos doze anos, Mészáros começou a trabalhar na mesma fábrica em que sua mãe trabalhava, após falsificar sua data de nascimento; ele fazia roscas em parafusos para aviões de madeira.
1946: Com dezesseis anos, foi classificado como trabalhador masculino adulto e passou a ganhar um salário maior do que o de sua mãe, o que o levou a refletir sobre a desigualdade de gênero, dedicando-se a essa causa ao longo de sua vida. As condições na fábrica eram brutais, e, em certa ocasião, quando não recebeu seu salário, foi pago com um pedaço de embutido de porco cheio de pelos, que ele vomitou na neve. A partir desse momento, decidiu dedicar sua vida a combater a injustiça e a desigualdade.
1949: Com a ascensão de um estado de tipo soviético na Hungria, Mészáros obteve uma bolsa de estudos na Universidade Eötvös Loránd, em Budapeste, onde estudou estética com György Lukács. Poucos meses depois, quase foi expulso da universidade por defender Lukács, que havia caído em desgraça durante o governo stalinista de Mátyás Rákosi, mas foi salvo pela rejeição da moção de expulsão.
1950: Mészáros escreveu uma crítica ao banimento da peça húngara “Congor és Tünde” (Csongor e Tünde), de Mihály Vörösmarty, publicada na revista literária Gilleg em duas edições consecutivas. Sua defesa meticulosa resultou na reincorporação da peça ao repertório do Teatro Nacional, e levou à sua nomeação como assistente de Lukács no Instituto de Estética da Universidade de Budapeste. Neste ano, Mészáros estreita relações com Lukács, com o qual manterá vastíssima correspondência até o falecimento de seu mestre.
1951: Recebeu o prestigiado Prêmio Attila József por sua crítica da peça “Congor és Tünde”.
1955: Defendeu sua tese de doutorado intitulada “Sátira e realidade: contribuição para a teoria da sátira” (Szatira és valóság. Budapeste, Szépirodalmi Kiadó), orientada por Lukács. No mesmo ano, encontrou-se com a italiana Donatella Morisi em Paris, com quem se casou em 14 de fevereiro de 1956. Eles tiveram três filhos: Laura (nascida em 1956), Susie (1960) e Giorgio (1962).
1956: Participou ativamente da Associação dos Escritores Húngaros e foi uma figura central nos debates culturais do país. Seu ensaio “O caráter nacional de arte e literatura” foi tema de debate no Círculo de Petöfi, presidido pelo compositor Zoltán Kodály, considerado um dos impulsionadores intelectuais da revolta húngara de 1956. Também editou a revista Eszmélet [Consciência], cofundada por Kodály e Lukács. Após a invasão soviética à Hungria, Mészáros foi forçado a deixar o país com sua família e levar poucos de seus pertences. Conta-se que, de livros, Mészáros levou apenas a sua própria obra sobre estética e o Fausto de Goethe. É o começo de um exílio que durará a vida inteira.
1956: Mészáros se estabeleceu na Itália, onde lecionou na Universidade de Turim até por volta de 1959.
1958: Publica “La rivolta degli intellettuali in Ungheria: dai dibattiti su Lukács e su Tibor Déry al Circolo Petöfi”, onde relata para o mundo os ocorridos do levante de 1956. [1] Ed. bras.: “A Revolta dos Intelectuais na Hungria: dos Debates Sobre Lukács e Tibor Déry ao Círculo Petöfi”, Boitempo, 2018.
1959: Mudou-se para o Reino Unido, onde foi professor no Bedford College de Londres até 1961.
1961: Passa a lecionar na Universidade de St. Andrews, na Escócia, até 1966.
1964: Publica, desta vez pela Lerici de Milão, “Attila Jószef e l’arte moderna” (Attila József e a arte moderna).
1966: Tornou-se professor de filosofia na Universidade de Sussex, em Manchester, até 1972.
1970: É lançado, em Londres, o célebre estudo sobre os manuscritos de 1844 de Marx, intitulado “Marx’s Theory of Alienation”. [2] Ed. bras.: Marx: a teoria da alienação. Zahar, 1979; A teoria da alienação em Marx, Boitempo, 2006. Em sua conferência em memória de Isaac Deutscher intitulada “A necessidade do controle social” (mais tarde editada em livro), Mészáros suscitou, pela primeira vez, a ideia de uma crise estrutural do capital.
1971: É premiado com o Deutscher Memorial Prize por sua obra “Marx’s Theory of Alienation”. No ano seguinte, assumiu o cargo de professor sênior de filosofia na Universidade de York, em Toronto, Canadá, onde ficou por três anos. Com o falecimento de Lukács, Mészáros edita e organiza uma coleção em memória de seu mestre, a “Aspects of history and class consciouness” e publica “The Necessity Of Social Control”. [3] Ed. bras.: “A necessidade do controle social”, Ensaio, 1996.
1972: Publica o ensaio “Lukács Concept of Dialectic”. [4] Ed. bras.: “O conceito de dialética em Lukács”, Boitempo, 2013.
1975: Após retornar ao Reino Unido, voltou à Universidade de Sussex e lecionou até sua aposentadoria em 1995.
1978: Escreve uma introdução ao livro “Neocolonial identity and counter-consciousness”, do historiador filipino Renato Constantino.
1979: Publica “The Work of Sartre: Search for Freedom”. [5] Ed. bras.: “A obra de Sartre: busca da liberdade”, Ensaio, 1991; Ed. amp.; “A obra de Sartre: busca da liberdade e desafio da história”, Boitempo, 2012.
1983: Primeira visita ao Brasil.
1986: Publica “Philosophy, Ideology and Social Science: Essays in Negation and Affirmation”. [6] (Ed. bras.: “Filosofia, ideologia e ciência social: Ensaios de Negação e Afirmação”, Ensaio, 1996; Boitempo, 2008.
1989: Publica “The Power of Ideology”. [7] Ed. bras.: “O poder da ideologia”, Ensaio, 1996; Boitempo, 2004.
1992: Em abril, concede entrevista ao periódico trimestral Radical Philosophy, edição de número 62, intitulada “Marxism today: An Interview with István Mészáros”, onde dirá que “Sempre senti que os marxistas deviam muito a Sartre”; no que resultou em seu livro sobre o filósofo francês.
1995: Aposenta-se da vida docente na Universidade de Sussex, onde ainda recebe o título de Professor Emérito de Filosofia, e publica sua obra monumental “Beyond Capital: Toward a Theory of Transition” [8] Ed. bras.: “Para além do capital: Rumo a uma teoria da transição”, Boitempo, 2002. , com a poderosa mensagem de que “o que deve ser abolido não é a sociedade capitalista clássica, mas o império do capital como tal”. Além disso, é eleito membro da Academia Húngara de Ciências.
1996: Publica “Produção destrutiva e Estado capitalista” (Ensaio).
1999: Em 19 de outubro, Mészáros apresenta em Atenas uma conferência intitulada “Socialismo ou barbárie”, a qual foi, posteriormente, transformada em livro.
2001: Publica “Socialism Or Barbarism: Alternative To Capital’s Social Order: From The American Century To The Crossroads” [9] Ed. bras.: “O Século XXI: Socialismo ou Barbárie?”, Boitempo, 2004.
2002: Vem ao Brasil e, em virtude do lançamento da tradução de “Para além do capital”, palestra, no dia 5 de junho, na UNICAMP. Durante sua fala, anuncia a doação de sua biblioteca pessoal para a universidade, quando viesse a falecer. Dá também entrevista ao programa de TV Roda Viva.
2004: No dia 28 de Julho, vem ao Brasil para dar uma conferência de abertura ao Fórum Mundial da Educação, em Porto Alegre, com o lema “a educação não é uma mercadoria”.
2005: É publicada sua palestra sobre educação proferida um ano antes sob o nome de “Educação para além do capital” (Boitempo).
2007: Donatella, sua esposa, faleceu de câncer após 52 anos de casamento. Mészáros dedicou a maior parte de seus livros a ela. Publica “O desafio e o fardo do tempo histórico: O socialismo no século XXI” (Boitempo), e a edição em inglês sai um ano depois sob o título “The Challenge and Burden of Historical Time: Socialism in the Twenty-First Century”.
2008: Foi diagnosticado com câncer de bexiga “grau 3 agressivo”, uma batalha que o acompanhou até o fim da vida.
2009: Recebeu o cobiçado Prêmio Libertador ao Pensamento Crítico, apresentado por Hugo Chávez, que o chamou de “um dos mais brilhantes pensadores deste planeta”, pela sua obra “O desafio e o fardo do tempo histórico”. É publicada sua correspondência com Ricardo Antunes com o título de “The Structural Crisis of Capital”. [10] Ed. bras.: “A crise estrutural do capital”, Boitempo, 2009. Também vem à luz “Social Structure and Forms of Consciousness, Volume I: The Social Determination of Method” [11] Ed. bras.: “Estrutura social e formas de consciência I”, Boitempo, 2009.
2010: Publica “Historical Actuality of The Socialist Offensive: Alternative to parlamentarism”. [12] Ed. bras.: “Atualidade histórica da ofensiva socialista”, Boitempo, 2010.
2011: Em junho, vem ao Brasil para a palestra: “Crise estrutural necessita de mudança estrutural” (Mais tarde essa palestra transcrita ocuparia o capítulo quarto de seu “Para além do Leviatã”), e visita a sede da Editora Boitempo, onde menciona pela primeira vez a ideia de escrever sobre o Estado à editora-chefe Ivana Jinkings. Publica “Social Structure and Forms of Consciousness, Volume II: The Dialectic of Structure and History”. [13] Ed. bras.: “Estrutura social e formas de consciência”, Boitempo, 2011.
2013: Visita o Brasil, passa em São Paulo, Belo Horizonte e Fortaleza. Ministra, na Faculdade de Filosofia e Ciências da Unesp (Marília), a conferência “A dialética em Lukács e o enigma do Estado”.
2014: Publica edição ampliada de “A necessidade do controle social”.
2015: Vem ao Brasil para ciclo de conferências em torno de sua nova publicação, parte de sua aguardada crítica do Estado, um livro chamado “A montanha que devemos conquistar” (Boitempo). Mészáros passou por São Paulo, Marília, Belo Horizonte e Goiânia, aproveitou também para lançar a edição brasileira de seu clássico “O conceito de dialética em Lukács”, junto com a aguardada edição brasileira do segundo volume de “Para uma ontologia do ser social”, de seu mestre György Lukács. Concede entrevista ao programa Circuito, da TV UFMG.
2017: Em 25 de julho, dois meses antes de sua morte, Mészáros escreveu sobre a boa notícia da publicação da tradução italiana de “Para além do capital”, esperançoso de que muitas outras traduções seguissem. Ele faleceu em primeiro de outubro de 2017, deixando sua última obra, “Para além do Leviatã”, inacabada.
2021: É publicada a obra “Para além do Leviatã”, primeira parte do seu projeto de crítica do Estado, começado e interrompido pelo seu falecimento. Inaugura-se o Acervo István Mészáros na UNICAMP, um conjunto de quase 10 mil obras da biblioteca pessoal de Mészáros, além de cartas, manuscritos, planos de aula, anotações, discos e móveis. [14]N.E. De acordo com Ricardo Antunes, discípulo e amigo pessoal de István Mészáros, a obra meszariana é “uma das mais originais e críticas em relação ao mundo do nosso tempo”. Antunes … Continue reading
2024: No dia 1 de outubro, completam-se sete anos do falecimento de Mészáros.
Fontes primordiais: “Foster, J. B. Notes from the Editors, Monthly Review – István Mészáros (1930-2017), v. 69, n.7, dez. 2017”. “Mészáros, I. “Tempos de Lukács e nossos Tempos. Socialismo e Barbárie”. In: Ensaio, n.13. São Paulo: Editora Ensaio, 1984”, além de dados coligidos dos mais diferentes meios de informação.
References
↑1 | Ed. bras.: “A Revolta dos Intelectuais na Hungria: dos Debates Sobre Lukács e Tibor Déry ao Círculo Petöfi”, Boitempo, 2018. |
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↑2 | Ed. bras.: Marx: a teoria da alienação. Zahar, 1979; A teoria da alienação em Marx, Boitempo, 2006. |
↑3 | Ed. bras.: “A necessidade do controle social”, Ensaio, 1996. |
↑4 | Ed. bras.: “O conceito de dialética em Lukács”, Boitempo, 2013. |
↑5 | Ed. bras.: “A obra de Sartre: busca da liberdade”, Ensaio, 1991; Ed. amp.; “A obra de Sartre: busca da liberdade e desafio da história”, Boitempo, 2012. |
↑6 | (Ed. bras.: “Filosofia, ideologia e ciência social: Ensaios de Negação e Afirmação”, Ensaio, 1996; Boitempo, 2008. |
↑7 | Ed. bras.: “O poder da ideologia”, Ensaio, 1996; Boitempo, 2004. |
↑8 | Ed. bras.: “Para além do capital: Rumo a uma teoria da transição”, Boitempo, 2002. |
↑9 | Ed. bras.: “O Século XXI: Socialismo ou Barbárie?”, Boitempo, 2004. |
↑10 | Ed. bras.: “A crise estrutural do capital”, Boitempo, 2009. |
↑11 | Ed. bras.: “Estrutura social e formas de consciência I”, Boitempo, 2009. |
↑12 | Ed. bras.: “Atualidade histórica da ofensiva socialista”, Boitempo, 2010. |
↑13 | Ed. bras.: “Estrutura social e formas de consciência”, Boitempo, 2011. |
↑14 | N.E. De acordo com Ricardo Antunes, discípulo e amigo pessoal de István Mészáros, a obra meszariana é “uma das mais originais e críticas em relação ao mundo do nosso tempo”. Antunes descreve Mészáros como um autor “de erudição enciclopédica” que “domina, como poucos, Economia Política, Filosofia, Teoria Social e Literatura”. Segundo Antunes: “A biblioteca de Mészáros já está na UNICAMP. São aproximadamente cerca de dez mil livros. Ele [Mészáros] doou esta biblioteca publicamente a UNICAMP, sem nenhum custo, e me pediu para fazer a intermediação entre a UNICAMP e a Inglaterra para que esses livros fossem, depois da sua morte, doados para o Brasil”. (ANTUNES, Ricardo Luiz Coutro. In: Introdução à István Mészáros: Para além do Capital. Boitempo, 02 Abr. 2021. Disponível em: https://youtu.be/VXSUSREEytQ?si=SH-V2GH2NoqcLYqk). |