Ver Robert Eggers, no cinema, é sempre uma experiência formidável. Por se tratar de um épico, “O homem do norte” (2022) possui uma trilha sonora com alta intensidade, o que torna essa experiência sensorial positivamente gritante. Também é uma trilha longa a qual combina com o estilo geral do filme. Com isso, podemos aprender algo sobre cinema: um filme deve manter uma coerência com o objetivo geral da obra – que envolve tanto a narrativa, propriamente dita, quanto o contexto histórico, o gênero no qual essa narrativa está inserida, assim como os aspectos estéticos da produção.
As imagens são verdadeiras pinturas: tons ora iluminados como o céu, ora escuros como a noite, figuras carregadas de símbolos, referências históricas e culturais. Eis o poder do cinema de ser pictórico. A junção disso, com o som, produz um êxtase sóbrio. Incomodou-me o que me pareceu ser um exagero de misticismo que tornou a experiência um pouco confusa e penosa: ficamos perdidos entre a fantasia e a realidade por tempo demais. Tive uma experiência semelhante com a série “Vikings”, o que só piorou meu diálogo com Egerrs. Por outro lado, há um retrato da magia: vemos como um grupo pode acreditar em algo – e como alguém pode se utilizar disso para gerar eventos com aparência de misticismo -, deixando uma reflexão sobre até que ponto o natural e o sobrenatural se cruzam.
Um bom filme deve ser verossímil, e retratar aspectos relevantes da vida humana. Neste filme, são demonstradas as consequências da vingança, e com o ótimo uso de “Plost Twist” – na cena em que a mãe de Amlet revela algo – vemos como podemos nos enganar com as pessoas e com nossa interpretação dos acontecimentos – o que torna ações extremas, como a vingança, ainda mais complicadas. Por exemplo: Imagine que um homem vai matar o estuprador de sua filha, e acaba matando uma pessoa inocente. A possibilidade de corrupção – pela busca de poder – está presente, assim como a capacidade de uma cultura intensificar isso.
Mas essa possibilidade não está distante da nossa realidade, e o filme tenta, justamente, nos aproximar dos personagens – para não os vermos como algo distante de nós, mas encontrá-los dentro de nós. Ele faz isso através da verossimilhança criada com a realidade do cenário, figurino, sentimentos etc. Olhe para si e lembre que você também se vingou do vizinho jogando fezes de cachorro em sua porta, ou coisa assim. O poder de ser algo possível, belo, útil e artístico: eis o cinema.