Todas estas leis são simultâneas no seu atuar sobre todas as coisas, quer delas tomemos ou não consciência, quer as compreendamos ou não; tudo no universo é regido por estas leis.”^[1] Mário Ferreira dos Santos – A Sabedoria das Leis Eternas – Pág.: 72

“O discurso humano é uma potência única, que se atualiza de quatro maneiras diversas: a poética, a retórica, a dialética e a analítica (lógica).” ^[2] Olavo de Carvalho – Aristóteles em nova Perspectiva – pág.: 16

Caro leitor, em artigo escrito neste jornal ^[3] https://jornalcidadaniapopular.com.br/a-lei-da-tetractys-e-os-4-discursos-um-paralelo-entre-mario-ferreira-e-olavo-de-carvalho-parte-ii/ , buscamos expor a atuação das cinco primeiras leis nos quatro discursos; porém, observamos a necessidade de retornamos para a base do discurso, (a poética, a retórica, a dialética e a lógica), aquilo que Olavo nomeou como sendo a potência única que é capaz de “se atualizar de quatro maneiras diversas”: o discurso humano. Como dito por Mário Ferreira, as “leis são simultâneas no seu atuar sobre todas as coisas”. No entanto, o seu livro Sabedoria das Leis Eternas abrange somente a descrição das leis, e não as aplica a nenhum ente concreto – aplicando apenas a apresentação e descrição precisa das leis, e a forma como elas atuam.

Neste artigo, faremos algo que foi intuído por muitos, mas que provavelmente nunca foi estruturado, e sistematizado, por quem conhece ambas as teorias. Acreditamos que as leis podem ser utilizadas como metodologia para analisar, e descrever, um objeto de estudo. Com isso, entenderemos melhor não só a atuação das leis, mas o objeto que estamos estudando. Usando essas premissas, colocaremos o discurso humano – e as suas quatro potências – nos conceitos dados por Carvalho, e descrevemos a atuação das Leis Eternas, os Lógoi, dentro desses cinco objetos. Por esse processo, poderemos corrigir possíveis erros que tenhamos feito nos escritos anteriores. Poderemos observar com maior precisão como ocorrem as potências, e como elas atuam no discurso humano.

Será que as potências ocorrem em todos os discursos de forma simultânea, apenas com um discurso tendo maior intensidade que o outro? Será que pode haver a possibilidade de realização de “discursos puros”, discursos que são puramente poéticos, retóricos, dialéticos ou lógicos, sem que essas potências se misturem com outros? A nossa hipótese é que todos os discursos possuem, em maior ou menor medida, todas as suas quatro formas de manifestação, afinal: estamos falando que o discurso humano é uma única potência. Devido a isso, poderíamos afirmar que desde a prova lógica, até a poesia – da qual mais se utiliza de figuras de linguagem -, todos os discursos possuem – em maior ou menor medida – às quatro maneiras pelas quais o discurso humano se atualiza. Caso usemos os números do livro “A Sabedoria das Leis Eternas”, isso quer dizer que todas as manifestações do discurso humano – tendo seu início pela poética e finalizando com a lógica – possuem a sua unidade individual e, em simultâneo, tem a sua conexão na sua Unidade Transcendente.

Para demonstrarmos a nossa tese, usaremos as obras de Mário Ferreira dos Santos, além da obra que trabalha os conceitos base de discurso dado por Olavo de Carvalho – Aristóteles em Nova Perspectiva -, e analisaremos tanto a definição discursiva como os quatro discursos segundo os Lógoi de 1 a 10 – os quais foram transcritos por Mário Ferreira. Com isso, o nosso trabalho apresentará tanto as 10 leis do discurso humano, como as 40 leis somadas das suas potências, sendo: 10 da poética, 10 da retórica, 10 da dialética e 10 da lógica.

Primeiro, precisamos destacar as duas categorias de números os quais podemos representar. O Arithmoi Mathematikoi são os números matemáticos; esses diferem dos Arithmoi Arkhai, as “formas” no sentido de Platão, também chamadas “ideias exemplares” por Santo Agostinho. São realidades arquetípicas que representam o primeiro modelo de estruturas objetivas da realidade, e não apenas esquemas cognitivos ou estruturas de processamento de informações – aos quais organizam os estímulos e percepções de um indivíduo sobre uma determinada situação, com base em suas experiências e aprendizados anteriores. A segunda distinção é a dos níveis. Podemos dizer que existem duas tríades: uma tríade superior e uma tríade inferior. Na primeira é onde estão os Arkhai, ou números arquetípicos. São eles que expressam princípios supremos, as estruturas do ser real, e as formas que também são chamadas arithmoi eidetikoi. Na segunda, os Mathematikoi, representam os números matemáticos, as formas geométricas e as coisas sensíveis.

Essa divisão cria uma distinção chamada Lógoi, ou princípios. A nomenclatura dada pela escolástica torna-se interessante, pura possibilia, — puras possibilidades — e, por outro lado, os Arithmoi Arkhai podem ser considerados como leis ou normas reais, que regem todas as coisas existentes. Os Lógoi são, portanto, normas na fronteira entre ontologia e cosmologia. Essas leis governam todas as coisas, razão pela qual os pitagóricos a chamavam “Tétrada Sagrada”. ^[4] SANTOS, Mário Ferreira dos. A Sabedoria das Leis Eternas. São Paulo: É Realizações, 2001   Temos então os contextos Alfa e Beta. O importante de conhecermos é que as Leis agem de maneira separada em cada um. No contexto Alfa, são as coisas absolutamente simples, aquilo que Tomás de Aquino escreveu sobre Deus, onde o ente e a essência coincidem. Nesse contexto, ainda podemos dizer que ele não possui parte, sucessão, está fora do tempo, e é eterno. Já no contexto Beta, as coisas são relativamente simples: elas possuem partes, está sujeito a sucessão do tempo, e é temporal.