Um intelectual instagramico e um intelectual pé no saco, os dois a 80 km

  • Willian Santos
  • 12 jun 2022

Nunca gostei da ideia de se fechar em bolhas; só de pensar o que se perde olhando para o outro grupo – sem ao menos tentar entendê-lo – faz-me querer jogar uma Crocs na cabeça de alguém. Subindo em pedestais – de superioridade moral, intelectual e de influência -, eis aí os julgadores de tudo e de todos, eis aí os dois grupos mais chatos e caga regras das atualidades “intelectuais” brasileira. De um lado, seguidores e carrinhos da Hotmart são autoridade intelectual, assim como, do outro lado, um rostinho de virgem aos 40 com uma camisa mal passada – igual a um Pastor da Petencostal -, também pode ser fonte de autoridade intelectual. Um vive de vender e vende para parecer ser; o outro reclama do sucesso alheio, e reclama mais um pouco da imagem “não intelectual” para também parecer ser.

Vivemos na época do parecer ser, onde não se encaixa mais o pertencer – como os jovens do Imbecil Juvenil -, e, muito menos, querer ser, como aquela bela citação do professor Olavo que deixo aqui embaixo: “Tudo em volta induz à loucura, ao infantilismo, à exasperação imaginativa. Contra isso o estudo não basta. Tomem consciência da infecção moral e lutem, lutem, lutem pelo seu equilíbrio, pela sua maturidade, pela sua lucidez. Tenham a normalidade, a sanidade, a centralidade da psique como um ideal. Prometam a vocês mesmos ser personalidades fortes, bem estruturadas, serenas no meio da tempestade, prontas a vencer todos os obstáculos com a ajuda de Deus e de mais ninguém. Prometam SER e não apenas pedir, obter, sentir, desfrutar. Prometam SER“. [1]  Disponível em: https://olavodecarvalhofb.wordpress.com/?s=prometam+ser  Esse “Prometam Ser” é o que precisamos levar a sério, e não parecer ser – não vestir uma fantasia de intelectual serião chato pra baralho, e, muito menos, esconder-se atrás de estratégias de marketing digital.

 

O intelectual pé no saco:


O Intelectual pé no saco sempre está pronto para apontar o dedo para o sucesso financeiro do coleguinha – acha um absurdo o outro ganhar o seu dinheiro através de curso. Vejam bem, não estou dizendo que não tenham charlatões que vendem cursos daquilo no qual não tem nenhum domínio, mas o pior do intelectual pé no saco é reclamar, e fofocar, feito a Dona Gertrudes – na janela de sua casa – enquanto observa a chegada de uma TV LED 345 polegadas 4k última geração na casa do vizinho. “É um absurdo, onde ele tira tanto dinheiro?”, “A Tv nem é tão boa assim”, diz a Dona Gertrudes, olhando pela janela de sua casa. Eu já vi um intelectual pé no saco calculando quanto o Italo Marsili ganha por mês, reclamar do modo de se vestir – e até mesmo fofocas absurdas -, mas um debate sério ou uma publicação de algum artigo sério apontando os erros do pensamento? Nenhum!

Nos anos 90, um certo filósofo que conhecemos, e admiramos, percebeu toda a falsidade das universidades brasileiras, e o que ele fez? Escreveu um livro – aliás, com pegadas super cômicas, apontando o erro dos pensamentos de cada um daqueles intelectuais. Olavo de Carvalho não ficou fazendo fofoquinhas e/ou reclamando como aqueles intelectuais universitários ganhavam tanto dinheiro e como eles se preocupavam somente com dinheiro; ele deu nome aos bois, apontou o dedo e disse o por quê estava apontando o dedo. O que temos hoje – por parte dos intelectuais pé no saco – é um bando de reclamões que não podem ver o outro ganhar dinheiro. Falsos franciscanos – que não conseguem nem se vestir sozinhos sem parecer uma caricatura mal feita de homem dos anos 40 – com o seu modo de falar todo pomposo.

Em entrevista ao Instituto Borborema, Italo Marsili falou algo ao qual muito me marcou: “O rico não tem uma alma para ser salva também não?”. Ele argumenta demonstrando como os mesmos católicos, que dizem abominar a Teologia da Libertação, usam de mesmo discurso dela de que a salvação é só para pobres: “A partir da Teologia da Libertação começa a aparecer uma ideia, opção preferencial pelos pobres então, o apostolado vai ser feito preferencialmente com os pobres, mas e o rico? Porque ao que me consta o rico também tem uma alma para ser salva”. [2] Entrevista Italo Marsili para o Instituto Borborema. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=ZLpdsk9EoGY&t=16451s

O intelectual pé no saco acha que para ter uma vida de estudos, para ser uma pessoa boa e comprometida com a vida intelectual, precisa ser um pobre fracassado sem nenhum dinheiro no bolso.  Esquece de olhar para essa parte dos trabalhos feitos no instagram com sinceridade e humildade, ou será que ele só enxerga o ganho de dinheiro? Será que ele vê as conversões que acontecem a partir dos trabalhos de muitos influencers que eles tanto criticam? Na entrevista, Italo Marsili diz o seguinte: “Alguém fala da abertura a vida? Alguém fala dos atos de generosidade? Alguém fala da austeridade da vida cotidiana e material? Não. Falam somente disso ( do ganho de dinheiro) porque é onde o coração deles estão“. [3] Entrevista Italo Marsili para o Instituto Borborema. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=ZLpdsk9EoGY&t=16451s

Sabemos que parte dos grandes intelectuais foram fracassados financeiramente, mas estamos em outra época onde – graças às facilidades da internet – não se é necessário escolher entre a vida intelectual e a vida financeira. Hoje em dia temos grandes exemplos de pessoas que ganharam dinheiro através da vida intelectual, e não há nenhum pecado nisso. Como o Italo Marsili disse na entrevista ao Instituto Borborema: “Por um lado foi uma conversa muito franca com esses católicos de dente podre: Vocês são ridículos com a família de vocês. Vocês acham que a santidade e a vida intelectual é essa pobreza caricata, perceba como é possível você dar uma boa condição a sua família e ao mesmo tempo mantendo a austeridade, a educação e os valores dessa mesma família“. [4] Ibidem

A vida intelectual sem a preocupação com tudo o que disse anteriormente é pura afetação e falta de senso da realidade. Do que adianta uma vida intelectual preso no quarto lendo São Tomás de Aquino sem olhar para o mundo e o momento histórico no qual você vive? E ainda, sem olhar para as boas ações feitas graças a tecnologia atual, como disse o Pedro Sette Câmara em entrevista para o Instituto Borborema: “Tem uma coisa que eu falo em relação ao Italo Marsili. As pessoas que… Muita gente não gosta do Italo, tem uma rejeição estética pelo Italo (…) O cara hoje joga vídeo game o dia inteiro, viciado em pornografia. Aí o cara, sei lá, conhece o Italo Marsili, larga tudo isso, vai para a academia, muda de vida. Pô, isso é bom“. [5] Entrevista Pedro Sette Câmara para o Instituto Borborema. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=b46Uf3KJ3Ys&t=5930s

Isso deve sim ser considerado um progresso, senão o que seria a vida intelectual sem a preocupação com a vida espiritual?  A busca pela erudição, a busca por uma vida intelectual sem uma vida espiritual é querer se entregar a vaidades que te levam direto para a decadência da alma.

 

Sim. Há charlatões no meio instagramico


Não podemos negar que, no meio da intelectualidade instagramica, há aqueles que comem Brasil Paralelo e arrotam Mario Ferreira dos Santos (nada contra o trabalho da Brasil Paralelo, mas devemos considerar a hierarquia das coisas). Há verdadeiros charlatões – que não aguentariam 10 minutos de debate com o Leandro Karnal -, cursos de assuntos que já estão em livros, cópias mal feitas do COF – do professor Olavo -, dos cursos do Padre Paulo Ricardo, e do Italo Marsili. É o famoso jeito brasileiro de, ao ver alguém ganhando dinheiro, seguir a corrente; acham que é fácil e tentam fazer igual – sem que tenham o mesmo preparo e dedicação aos estudos. Ao ver esses charlatões, ao percebê-los, o que o intelectual pé no saco faz? Escreve um artigo demonstrando os erros do charlatão? Publica um livro sobre a atualidade incultural instagramica? Não.

Ele reclama feito uma velha chata e faz fofoca sobre a conta bancária do influencer A ou B. O intelectual pé no saco é como a tia chata do Natal que reclama do tempero da comida, reclama da temperatura do lugar, reclama do barulho do som alto, mas não ajuda em nada e fica sentada em um banquinho observando tudo e apontando o dedo. No alto de sua soberba e arrogância o intelectual pé no saco – ao ser contestado sobre escrever um artigo ou alguma crítica com bons argumentos sobre os influencers de vida intelectual de instagram – enche o peito e diz:  “Eu não vou perder o meu tempo com essas pessoas”, “Essas pessoas não merecem um artigo”.  Ao apontar o dedo para a vaidade do outro, o intelectual pé no saco acaba sendo ainda mais vaidoso.

A verdade que o intelectual pé no saco não quer engolir é que muitos desses influencers, e intelectuais, de instagram – que ganham dinheiro com a tal “vida intelectual” – foram responsáveis por várias conversões ao catolicismo, responsáveis por divulgações de muitos autores desconhecidos fora da bolha “alunos e admiradores do Olavo”, responsáveis por fazer muitas pessoas a iniciarem projetos de caridade, grupos de estudos, atendimentos terapêuticos para pessoas sem condições de pagar, etc. Como dizia o professor Olavo, querer analisar quem você não concorda é também ter a humildade e a sinceridade de aceitar quando o outro estiver certo em determinados pontos. A meu ver muitos se esqueceram disso e só querem apontar o dedo com um ar de superioridade. 

 

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References

References
1  Disponível em: https://olavodecarvalhofb.wordpress.com/?s=prometam+ser 
2, 3 Entrevista Italo Marsili para o Instituto Borborema. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=ZLpdsk9EoGY&t=16451s
4 Ibidem
5 Entrevista Pedro Sette Câmara para o Instituto Borborema. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=b46Uf3KJ3Ys&t=5930s
Willian Santos

Formado em Moda, trabalhei com Moda por 8 anos; depois, dediquei-me a estudar sobre a adolescência como um fator cultural e social. Formação em Psicoterapia. Estudei Psicologia da Adolescência na Fundación Centro Psicoanalítico Argentino; aluno da Certificação Italo Marsili. Mentor do Núcleo de Formação de Jovens.

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