Seguindo a proposta de nosso estudo marxólogo, exporemos, neste artigo, as discussões marxianas sobre a problemática filosófica de Marx, ou seja: da ontologia marxiana. Trataremos, então, do curso “Dia M 2022” da Boitempo, ao qual conta com 5 aulas, sendo estas: “Marx: dialética para principiantes”, “Karl Marx e a guerra”, “A ideia de história em Marx”, “Marxismo no século XXI” e “Golpe e bonapartismo: 170 anos da obra o 18 de brumário de Luís Bonaparte”. Porém, como este é um curso anual em comemoração ao aniversário de Marx, achamos por bem acrescentar certas aulas que, embora não sejam propriamente deste curso, são pertinentes ao tema. Quanto ao título deste artigo, o leitor encontrará as devidas explicações na última parte de nossa propedêutica marxóloga [1] Disponível em: https://jornalcidadaniapopular.com.br/uma-teoria-critica-a-importancia-de-lermos-os-marxistas-o-problema-da-intelectualidade-conservadora-parte-v/ , a qual, como dissemos, é o ponto de partida de nossas ponderações. Pois bem, passemos para a aula inaugural do curso, que tem como palestrante o grande marxiano José Paulo Netto.
Como sempre fazemos, vamos mostrar um pouco de seu currículo. José Paulo é graduado em Serviço Social pela Universidade Federal de Juiz de Fora, tendo graduação em Letras neolatinas pela Universidade Federal de Juiz de Fora, mestrado em Teoria literária pela Universidade de São Paulo, e doutorado em Serviço Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Atualmente, é professor titular da PUC de São Paulo, professor titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro, membro do Conselho Editorial da Universidade Federal de Pernambuco e professor titular da Universidade Federal de Alagoas.
Participou de diversos eventos, entre os quais: “Marx e o marxismo. De O Capital à Revolução de Outubro.O capital? no século XXI: permanente incômodo. 2017”; “II Congresso Internacional Marx em Maio. Marx em Maio. 2014”; “III Seminário Científico:Teoria Política do Socialismo – G. Lukács e a emancipação humana.Lukács e a razão dialética. 2009”; “XI Congresso Estadual de Sociólogos do Estado de São Paulo. Marxismo e ciência social. 2001”; “Seminário O Manifesto do Partido Comunista Hoje.Mesa-redonda A atualidade do socialismo.. 1998”, etc.
Fez parte da banca de diversos alunos, desde Mestrado em Serviço Social, Mestrado em Mestrado em Ciências Jurídicas e Sociais, Mestrado em Educação, Mestrado em Sociologia, Mestrado em Ciência Política, Doutorado em Serviço Social, Doutorado em Sociologia, etc. Escreveu uma vastidão de artigos e livros, desde “Razão, ontologia e práxis”, “Socialismo real e socialização do poder político”, “Crise do socialismo, teoria marxiana e alternativa comunista”, “Lukács e a sociologia”, “Economia política: uma introdução crítica”, “Karl Marx: Uma biografia”, “Introdução ao Estudo do Método de Marx”, etc. [2] Todas essas informações estão disponíveis em: https://www.escavador.com/sobre/4024770/jose-paulo-netto
Pois bem, José Paulo começa sua aula – Marx: dialética para principiantes – dizendo que a palavra dialética “virou meio que uma palavra mágica”, onde, quando “você não entende muito bem um processo”, diz-se que esse é um “processo dialético”. Assim, ele diz que fará o possível para fugir disso. Para o José Paulo, a dialética é uma palavra “muito velha na filosofia”, chegando a “remontar a filosofia clássica grega”, pois Parmênides, Platão, e até, um pouco depois, os neoplatônicos – na idade média -, “tratavam da dialética”. Segundo José Paulo, a dialética era, quase sempre, entendida como “uma forma de discurso dialogico”, e “essa não é a concepção de Marx”.
Posicionando a dialética de Marx na história, José Paulo nos diz: “A dialética que Marx vai analisar, criticar e refundar, começa com um pensador da tradição árabe, desenvolve-se com um pós renascentista, que é Vico, mas vai encontrar o seu representante clássico em Hegel. Eu diria que Hegel é o moderno elaborador da dialética, e esse “moderno” implica condições sócio-históricas que outros não viveram”.
José Paulo tem, então, a preocupação de colocar a dialética como um dos pilares centrais das categorias de Marx, sendo a questão do método o “problema central (e mais polêmico)” da teoria social: “Em Marx, questões como reificação, fetiche e alienação, são questões centrais que só podem ser apreendidas, compreendidas e desenvolvidas, teórica e analiticamente, por quem tem o mínimo de informações sobre a dialética. Sem uma boa compreensão do método dialético de Marx, a leitura do Capital torna-se frequentemente, multilada”.
Para explicarmos um pouco da visão do José Paulo sobre o método de Marx, temos de recorrer a sua obra. Nela, José Paulo posiciona-se contra a “literatura manualesca” a qual reduz a dialética a meras leis, a uma teoria geral. Segundo ele, Engels, em sua carta de 5 de Agosto de 1890, já protestava contra esse tipo de procedimento. Para Engels, a concepção histórica (dele e de Marx) é, sobretudo, “um guia para o estudo”, sendo necessário “voltar a estudar toda a história”, devendo-se examinar, em todos os detalhes, as ações que condicionam – nos seus diversos veículos de ações sociais [3] Engels fala em “diversas formas sociais”, no que preferimos reconceitualizar como veículo, ou seja: nos seus diversos meios de transportar, meios de levar, carregar, essa ação social. – a existência, antes de “deduzir delas as ideias políticas, jurídicas, estéticas, filosóficas, religiosas, que lhes correspondem”. [4] Paulo Netto, 2011, p.11
Para José Paulo, Marx, nos registros dos manuais, “aparece como um teórico fatorialista”, “aquele que, na análise da história e da sociedade, situou o “fator econômico” como determinante em relação aos “fatores” sociais, culturais e etc”. Citando novamente a carta de Engels, José Paulo diz que “ele já advertira contra essa deformação”.
References
↑1 | Disponível em: https://jornalcidadaniapopular.com.br/uma-teoria-critica-a-importancia-de-lermos-os-marxistas-o-problema-da-intelectualidade-conservadora-parte-v/ |
---|---|
↑2 | Todas essas informações estão disponíveis em: https://www.escavador.com/sobre/4024770/jose-paulo-netto |
↑3 | Engels fala em “diversas formas sociais”, no que preferimos reconceitualizar como veículo, ou seja: nos seus diversos meios de transportar, meios de levar, carregar, essa ação social. |
↑4 | Paulo Netto, 2011, p.11 |