Este texto será o primeiro de uma série de quatro artigos onde irei analisar alguns problemas atuais na vida de adolescentes em relação à família, sociedade e educação. Não sei quanto a vocês, mas eu fui criado desde muito cedo com a plena consciência de algo – do qual, aliás, meu pai deixava bem claro: “Eu não sou seu amigo, eu sou o seu pai”. Assim, desde pequeno, eu entendi qual era a hierarquia de autoridade dentro da minha casa. Por mais que eu tenha sido um adolescente rebelde, eu nunca levantei a voz para o meu pai, senão uma vez e me arrependi muito por isso – sentindo literalmente na pele o arrependimento. O que vemos hoje são os pais moderninhos que tiveram a sua adolescência nos anos 90 ou 80 – década de liberdade e era inicial da Malhação, com todos os valores corrompidos e a tal “liberdade sexual juvenil”, novidade nas telas da TV brasileira, e seriados teens. Os anos 80 foram o início dos seriados e filmes voltados para adolescentes.
Os filmes do diretor Jhon Hughes [1] John Hughes foi um diretor americano que iniciou o tema de filmes que se passam em colégios e universidades com os dramas da adolescência. dominavam as telas, filmes esses que mostravam todo o “poder” dos adolescentes e como ser adulto era chato. Esses adolescentes dos anos 80/90 cresceram e tiveram seus filhos; começaram a educá-los com aquilo que tinham em seus imaginários. Adultos que odeiam a maturidade, adultos que ainda vivem os velhos tempos, como se fossem hoje, e veem nos seus filhos aqueles amigos dos “tempos dourados”; veem em seus filhos aquele espírito juvenil – para mostrar a “boa música” de sua época, e ser confidente de seus segredos amorosos.
Com isso, os pais acabam tirando sua própria autoridade de pai e mãe, rebaixando-se a simples amiguinho de colégio do filho – e estes, sem a autoridade paterna, acabam vendo eles próprios como autoridades. Já presenciei situações onde o filho de 14 anos colocava o próprio horário para permanecer em um jogo online, enquanto o pai simplesmente dizia: “ Está bem, depois você desliga”. Com isso, os pais acabam criando filhos arrogantes, preguiçosos, que se acham a autoridade máxima não somente de suas vidas, mas da vida dos outros. Para essa geração de adolescentes, todos são iguais e todos podem opinar sobre o que quiserem, tentar tudo o que quiserem.
Esses jovens não são mais como os adolescentes do século XX, aos quais desprezavam totalmente os seus pais, porque viam neles aquela autoridade a qual desprezavam. Hoje em dia, eles colocam os pais em patamar igual aos deles, e , às vezes, colocam-se , até mesmo, acima dos próprios pais. Para estes jovens, o que importa é a imagem nas redes sociais, assim como o número de seguidores; o que importa é parecer ser. Eles não querem mais aprender com os mais velhos, porque os mais velhos não entendem de redes sociais igual; os mais velhos se colocaram em um patamar de amigo divertido e compreensivo dos filhos.
Os mais velhos se colocaram em um patamar de amigo divertido e compreensivo dos filhos. Não existe mais hierarquia. O que temos hoje em dia são filhos mandando nos pais, filhos que colocam os pais no patamar de amigos, e pais que deixam isso acontecer, porque, afinal: “o que podemos fazer? A internet acaba os estragando”, “ o que podemos fazer? Eles já nascem sabendo tudo através da internet”. O que eles podem fazer? Que tal ser pais de seus filhos? Que tal cumprir o seu papel social de pai e mãe? Que tal se a autoridade do seu lar for você, pai e mãe, e não o seu filho?
O professor Olavo de Carvalho já tinha avisado o efeito disso em seu artigo “Jovens paraenses”. Olavo diz o seguinte: “O efeito disso é que milhões de jovens, incapacitados para perceber as mais óbvias realidades, se creem investidos do direito divino de julgar todas as coisas, homens e fatos”. [2] Olavo de Carvalho. Jovens paranaenses. Disponível em: https://olavodecarvalho.org/jovens-paranaenses/ Esse “direito divino”, dado muito das vezes pelos próprios pais, acaba gerando filhos que mandam e pais que obedecem. Uma geração toda formada por adolescentes que sabem de tudo, simplesmente por ter acesso a internet, e pais fracos – que deixaram a sua autoridade de pais de lado para tentarem ser amigos daqueles aos quais deveriam ser tratados como filhos.
Sem a autoridade acabamos sem ordem, pois é da formação da autoridade que percebemos a ordem. Filhos obedecem aos pais e pais corrigem os filhos. Um lar saudável é um lar onde predomina a autoridade dos pais e o ensinamento das virtudes para os filhos, pois: “sem orientação e correção, crescem as crianças estragadas e viciosas; enquanto os frutos de virtudes sazonam nas que tiveram o cultivo dos educadores“. [3] Monsenhor Álvaro Negromonte. Corrija seu filho – A Formação do Homem. Pagina 12. Calvariae Editorial. São Paulo. 2019 Esses frutos de virtudes só podem aparecer se os pais entenderem o seu papel social, e também começarem a entender a seguinte coisa: nada daquilo que foi bom pode ser deixado para trás, esquecido no passado. Assim, podemos perguntar a esses pais se eles tornaram-se adultos com os seus pais sendo amigos deles.
Os pais de hoje, em sua grande maioria, tiveram pais que entendiam a autoridade – sabiam a importância da hierarquia dentro de uma casa -, mas que, ao mesmo tempo, estavam consumindo o tipo de entretenimento ao qual mencionei no início do artigo. Isso fez com que prevalecesse, em seu imaginário, a visão de estarem consumindo apenas entretenimento, e não o exemplo da autoridade dos pais. O adolescente, por mais que não demonstre, pede, e sempre irá pedir, por autoridade – é uma questão natural. Quando essa autoridade desaparece o que esses jovens fazem é tentar achar um bode expiatório – e nisso surge o bullying, o cyberbullyng, e todos esses fenômenos aos quais tanto se fala na atualidade e pouco se sabe de suas origens. [4] Mas isso é tema para outro artigo.
References
↑1 | John Hughes foi um diretor americano que iniciou o tema de filmes que se passam em colégios e universidades com os dramas da adolescência. |
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↑2 | Olavo de Carvalho. Jovens paranaenses. Disponível em: https://olavodecarvalho.org/jovens-paranaenses/ |
↑3 | Monsenhor Álvaro Negromonte. Corrija seu filho – A Formação do Homem. Pagina 12. Calvariae Editorial. São Paulo. 2019 |
↑4 | Mas isso é tema para outro artigo. |