Passando para a aula 03 da nossa exposição sobre o Salão do livro político, a nossa palestrante da vez será a Virgínia Fontes. [1] Da qual trabalhamos, também, no artigo: https://jornalcidadaniapopular.com.br/o-feminismo-e-a-praxis-marxiana-parte-i/ Vamos, como fizemos nos demais artigos, destacar o seu currículo. Virgínia é Historiadora, com mestrado na UFF (1985) e doutorado em Filosofia – Université de Paris X, Nanterre (1992). Atua na Pós-Graduação em História da UFF. Integra o NIEP-MARX – Núcleo Interdisciplinar de Estudos e Pesquisas sobre Marx e o marxismo. Coordena o Grupo de Trabalho e Orientação-GTO. É autora de “Reflexões Im-pertinentes” (2005), de “O Brasil e o capital-imperialismo: teoria e história” (2010), co-autora de “Hegemonia Burguesa na Educação Pública” (EPSJV, 2018) e de inúmeros artigos em periódicos nacionais e internacionais. Também é docente da Escola Nacional Florestan Fernandes-MST.
Participou de diversos eventos, entre os quais: FONTES, V. . Colóquio Internacional Marx e o Marxismo 2019: Marxismo sem tabus ? enfrentando opressões. 2019. (Outro); FONTES, V. Comissão Científica-Comissão Científica do X Simpósio Nacional Estado e Poder: Estado Ampliado.. 2018. (Outro); FONTES, V. ; MEDEIROS, J. L. . Marx e o Marxismo 2016: Capital e Poder (curso); FONTES, V. ; Coelho, E. T. ; SILVA, Carla Luciana Sousa ; CALIL, Gilberto Grassi ; ALMEIDA, Gelsom Rozentino de . Marxismo e História: lugares temáticos, desafios teóricos. 2015. (Congresso); FONTES, V. . Simpósio Temático História e lutas de classes: imperialismo e hegemonia, crítica e conflito social. 2011. (Outro); I Seminário do Núcleo de Estudos Marxista.Sociedade, subjetividade e Educação. 2017. (Seminário); I Seminário Internacional e IV Seminário Nacional de Estudos e Pesquisas no Campo ? Políticas Educacionais para meio rural na América Latina.Dominação de classes e educação para o campo. 2017. (Seminário), etc.
Participou da banca de inúmeros alunos desde Mestrado em História, Mestrado em Trabalho, Saúde, Ambiente e Movimentos Sociais, Mestrado em Políticas Públicas e Formação Humana, Mestrado em Filosofia, Mestrado em Sociologia, Mestrado em Sociologia e Direito, Mestrado em Programa de Pós Graduação Em História, Mestrado em Mestrado Acadêmico em Serviço Social, etc. Escreveu uma vastidão de artigos e livros, desde “Lutas de classes vistas pelo seu avesso. Práxis e hegemonia popular”, “Enfrentando Tempos Sombrios”, “Capitalismo em tempos de uberização: do emprego ao trabalho. Marx e o Marxismo”, “A incorporação subalterna brasileira ao capital-imperialismo”, “Carlos Nelson Coutinho, democracia e contrarreforma”, “Determinação, história e materialidade. Trabalho, Educação e Saúde”, “Capitalismo, imperialismo, movimentos sociais e lutas de classes”, etc. [2] Todas essas informações estão disponíveis em: https://www.escavador.com/sobre/3770141/virginia-maria-gomes-de-mattos-fontes
Pois bem, a Virgínia começa sua aula dizendo que fez uma abordagem bem ampla para lembrar que a “extrema-direita” não nasce agora, não emerge do nada, e para relembrar os “traços históricos dessa extrema-direita, especificamente o caso brasileiro”. Segundo a Virgínia, a “extrema-direita” começaria, então, pela “tradição escravista e colonial brasileira, a tradição da truculência, e da autocracia das classes dominantes e de seus apaniguados”, que atuariam contra, especificamente, “negros, indígenas, pobres, e suas tentativas de auto-organização popular”. Essas classes dominantes, segundo ela, tem um machismo característico, e uma permanente “dúvida sobre a sua sexualidade” – o que as levariam a serem “truculentas com todas as questões de gênero”.
A Virgínia, então, diz: “Ao lado dessa característica geral, nós podemos colocar uma segunda característica bastante geral – e que perdura até hoje: a seletividade da ampliação do Estado no Brasil. O Antonio Gramsci, na década de 30, trabalhou bastante a questão das lutas sociais, das lutas políticas, que ocorrem nas diversas formas organizativas da vida social, e a sua imbricação com o Estado ou com a sociedade politica”. Segundo ela, desde o início do século XX, há uma “crescente organicidade, e expansão, de entidades associativas – portanto: sociedade civil, burguesas -, organizadas por setores das classes dominantes”. Essas classes, então, organizam-se de modo a terem uma “ação permanente dentro do Estado”.
Para explicar a questão da “seletividade do Estado” e as “formas organizativas”, temos de recorrer ao artigo da Virgínia sobre “Gramsci, Estado e sociedade civil”. A Virgínia vai dizer que Gramsci faz uma análise de como o Estado capitalista se organiza numa totalidade não mecânica, mas sim orgânica. Para ela, Gramsci explica a ação capitalista dominante não apenas pelo predomínio econômico, mas sim por sua ação de domínio correlacional entre o político-ideológico e a luta de classes. Isso quer dizer – usando a linguagem do nosso Mário Ferreira dos Santos – que a existência de uma depende da existência da outra, e vice-versa.
Assim, as classes sociais estariam numa permanente tensão – resultante das visões de mundo, e aparelhos de consciência, rígidos e, ao mesmo tempo, instáveis. Segundo a Virgínia, a consciência está ligada ao aparelho da vida social, e é nessa vida social – a começar pelo processo executante da ação – que se moldam as formas de ser, pensar e sentir. [3] Ver: Fontes, “Gramsci, Estado e Sociedade civil”, p.4-5
Gramsci, segundo Virgínia, buscará a resposta concreta para os aparelhos executantes que associam a sua ação na luta anti-capitalista, porque aí também residem as modalidades de ação, as quais se consolidam, sistematizam-se, difundem-se, e se socializam, conforme a ação dominante – o domínio da ação do capital. A Virgínia vai introduzir o que ela chama de “aparelhos privados de hegemonia”. [4] Doravante chamado de APHs
Esses APHs ligam-se ao “solo” do processo executante da ação, permitindo compreender como as diferentes tendências – e as ações que se contradizem – são traduzidas em aparelhos, dos quais, mais ou menos, vinculam-se à cultura e à consciência – chegando a se condensar como projetos políticos. Segundo a Virgínia, pelo processo conflitante das ações dos aparelhos privados, as suas ações se agregam, e se cristalizam, numa ação direcionada, mais ou menos, definida; ela, então, penetra e empolga o Estado e, a partir dele, expande-se – através de suas agências – como política pública.
Retomando a palestra da Virgínia, ela vai dizer que: “Nós acompanhamos uma repressão constante, uma criminalização permanente, das formas organizativas de origem popular e, em especial, das classes trabalhadoras. Isso fica bastante evidente quando olhamos a repressão direta aos partidos diretamente populares – como o partido comunista brasileiro -, aos sindicatos, e a todas as formas de lutas e associações populares”.
Para explicar isso, voltemos ao artigo da Virgínia. Ela dirá que, para Gramsci, o Estado capitalista integra, amplia e penetra, espaços crescentes da vida social – da mesma maneira que as entidades associativas não estão apenas do lado de fora do Estado, mas as suas ações são também incorporadas às ações políticas definidas. Isso acabaria contendo os impulsos revolucionários dos subalternos – modificando-os, e conformando-os, através de revoluções passivas -, assegurando, assim, a ação à qual os condicionam a re-executar, e acumular, a ação capitalista – cada vez mais extensa, complexa e dinâmica. [5] Ibidem
References
↑1 | Da qual trabalhamos, também, no artigo: https://jornalcidadaniapopular.com.br/o-feminismo-e-a-praxis-marxiana-parte-i/ |
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↑2 | Todas essas informações estão disponíveis em: https://www.escavador.com/sobre/3770141/virginia-maria-gomes-de-mattos-fontes |
↑3 | Ver: Fontes, “Gramsci, Estado e Sociedade civil”, p.4-5 |
↑4 | Doravante chamado de APHs |
↑5 | Ibidem |