A palavra revolução vem do latim revolutio/revolvere, que significa “dar voltas”. Dar voltas porque Copérnico, em 1543, a definiu quando a usou para descrever as voltas que os planetas davam em torno do Sol – pois havia, na época, gravitando em torno das ciências, a possibilidade do Sol dar voltas em torno da Terra. Ou seja: Copérnico propôs uma forma de raciocínio contrária à reinante. Essa essência de “mudança” radical é a essência à qual banha a palavra “revolução”. Sólidos de Revolução são corpos gerados através da rotação do eixo do seu ponto médio. Ou seja: se giro um triângulo, ele se transformará num cone; se giro um retângulo, ele se transformará num cilindro – de triângulo para cone. Assim, houve uma transformação não só na aparência, mas também na área, e no volume, de ambos os corpos. Não existe um exemplo maior de revolução do que este.
As palavras são símbolos usados para tentar descrever a realidade, assim como as imagens são símbolos a priori das palavras. Ou seja: quando não se tinha uma palavra para descrever um movimento, uma ação ou um tipo de mentalidade, usava-se as imagens. Porém, o fato de não haver uma palavra para descrever um fenômeno, não torna o fenômeno inexistente – a gravidade, por exemplo, já existia antes que Isaac Newton a descobrisse e a nomeasse. Debatendo com Aleksandr Dugin, cientista político russo, Olavo de Carvalho – rebatendo sua argumentação de que a realidade fora criação do Ocidente, alegando não haver essa palavra em outras culturas – escreveu: “A inexistência de uma palavra em determinada língua não torna automaticamente impensável para os falantes dessa língua o conceito correspondente, que pode ser expresso por paráfrases, símbolos ou fórmulas […] Se o estoque de palavras limitasse o estoque de percepções e idéias, cada cidadão só poderia perceber as coisas cujo nomes já conhecesse de antemão […]”. [1] Olavo de Carvalho: O EUA e a Nova Ordem Mundial. Página 158-159
Só que, verdadeiramente ligado a essa lógica, uma outra – de mesma raiz – é atribuída a símbolos aos quais traduzem mentalidades mais complexas e refinadas; tal percepção é demonstrada quando o historiador polonês Leszek Kolakowski escreveu que “mesmo as correntes intelectuais que se originam de uma determinada pessoa têm uma pré-história própria, corporificada numa variedade de questões que se tornaram influentes, ou numa série de respostas isoladas que são reunidas numa única totalidade por alguma mente excepcional”. [2] Leszek Kolakowski: Principais Correntes do marxismo. Volume I- Página 21 Pois então, tanto a palavra “corporificada” quanto “totalidade”, traduzem esse complexo de reflexos em um símbolo prático – assim aconteceu com as palavras autoritarismo, conservadorismo, gnosticismo e assim aconteceu com a palavra “revolução”.
A primeira revolução de destaque – mesmo que toda revolução, por definição, seja de um contraste relevante – foi a Revolução Cognitiva [3] Estou, aqui, usando a expressão do historiador israelense Yuval Harari que foi a mudança da pré-história para a história mediante à descoberta da escrita. Outras revoluções posteriores aconteceram: Revolução Agrícola, Revolução Puritana, Gloriosa, Industrial, Mexicana, Russa etc, etc. Aquilo que irei decorrer, neste artigo, diz respeito à mudança na qual o sexo, aqui empregado como prática sexual, transmutou-se ao longo das décadas – ora causada por alucinações de origens friorentas [4] Alusão à prisão de Marquês de Sade , ora gerada por finalidades políticas e religiosas.
Quando Aristóteles escreveu que “[…] o homem é um animal político por natureza […]”, assim o fez analisando o que nós fazemos naturalmente, e, assim, esperamos de todos os outros seres humanos. Uma dessas ações é a construção da família – um homem, naturalmente, tende, junto de uma mulher, gerar uma prole; um conjunto dessas ações geram, mutatis mutandis, uma vila, ao qual gera uma cidade – assim se faz continuamente até gerar uma Nação na qual, por equilíbrio, necessita de regras e leis. Ou seja: por uma ação natural, uma situação na qual a política de terceiro grau – corporificada através de mandamentos e leis – tornou-se necessária. Por via de regra, uma ação natural gerou uma situação politicamente ativa; por isso, “ o homem é um animal político por natureza”.
Só que, além desta frase emblemática, Aristóteles também descreveu seis tipos de governos, em que três deles são consideravelmente ruins; são eles: Tirania, Oligarquia e Democracia. Em vista disso, percebe-se que esses regimes são politicamente construídos e, com isso, que as ações políticas podem ser boas ou ruins – provando, por a+b, que as comunidades, às quais as formaram, eram ou estruturadas ou desestruturadas. Como uma revolução abrange – dependendo da finalidade dos revolucionários – um grau político de alto nível, os resultados de tal mudança podem ser, nacionalmente, bons ou ruins, como bem disse Aristóteles: “Assim como o homem é o melhor dos animais, quando aperfeiçoado, separado do direito e da justiça, ele é o pior de todos. Porque a injustiça é mais severa quando é aparelhada com armas[…] esta é a razão pela qual, sem virtude, ele é o menos sagrado e o mais selvagem[…]”. [5] Aristóteles: A política
1§ Marquês de Sade (1740-1814), o pai do Sadismo
Marquês de Sade, mesmo que não tenha muita relevância na Revolução Sexual, assim o teve a partir do momento no qual quis escrever aquilo que ele mesmo fazia, transcendendo-se em seus livros. Sade nasceu em 1740 no Palácio de La Coste, em Paris. Aos 16 anos, lutou na Guerra dos Sete Anos. Voltando da guerra, casou-se com Renée Pélagie de Montreuil. Em 1963, 5 meses após o casamento, a esposa de Sade começou a relatar comportamentos problemáticos do marido. Sade a obrigava a cometer sacrilégios – através de objetos de fé cristã – enquanto tinham relação.
Mediante ações libertinas – às quais variam desde intoxicar prostitutas com doces envenenados, à cortes em braços e pernas, na qual Sade, após abrir um ferimento, derramava cera quente no corte, passava pomada, deixava cicatrizar o corte e, quando cicatrizava, recortava o lugar novamente até as mulheres não aguentarem mais – , Sade foi preso, mas conseguiu sair da prisão, ora com a ajuda de sua sogra, ora literalmente fugindo. Em 1775, o Marquês, ao se relacionar com um empregado do castelo juntamente com quatro mulheres, provocou uma balbúrdia.
Sade conseguiu escapar até que, em 1777, quando sua sogra, através de uma carta nominada lettre de cachet, conseguiu emitir um mandado de prisão. Em 1784, Sade foi mandado para a Bastilha onde, pelo frio do lugar, começou a ter alucinações ao ponto de escrever “Os 120 dias de Sodoma”, obra que deu origem ao Sadismo. Nem a própria aristocracia francesa nem Napoleão Bonaparte suportavam o Marquês de Sade – e não o suportavam porque, para a época, as idéias do Marquês eram absurdas.
References