A consciência intelectual não significa exatamente um intelecto voltado para ciência, filosofia, ou seja: não constitui atividades intelectuais direcionadas a ofícios específicos – algo relacionado ao eu social. Trata-se, aqui, do atributo que constitui a nossa consciência, independentemente de sua ocupação. A consciência intelectual é a percepção da realidade intelectual – não se tratando, então, de uma percepção intelectual para outros, com uma finalidade específica que visasse atender a certos grupos sociais ou econômicos. A consciência intelectual manifesta sua intelectualidade para si mesma, apesar de si – e, até contra si mesma -, pois um dos principais atributos da consciência intelectual é a honestidade consigo mesma.
As primazias da realidade e da verdade fundamentam e regulamentam toda a atividade intelectiva da consciência intelectual, e, portanto, todos que sujeitam a sua consciência intelectual à realidade e a verdade, obedecem a uma vocação. Hoje em dia, o que temos em demasia são intelectuais sem intelectualidade, que confundem seus “talentos” com “vocação”. O homem tem endeusado a razão, depositando toda a sua fé na inteligência humana, como se ela fosse a mais absoluta solução para os problemas da existência. Mas quanto mais a humanidade avança no progresso tecnológico, científico, econômico, mais fracassa e regride espiritual, social, emocional e moralmente. A humanidade se afogou no próprio vômito e tenta respirar pelo regurgito que a sufoca, pois a condição humana é ambivalente: está sufocada e perdida nas próprias ideias que ela mesma produz, e não sabe o que com elas fazer.
A inteligência é um atributo da consciência intelectual cuja função é vislumbrar a verdade – as essências da existência que estão fundamentadas na realidade. A razão humana não pode se fundamentar em suas próprias ideias, pois elas são invenções humanas – e, portanto, não estão fundamentadas na realidade, sendo como castelos ao ar, casas construídas sobre areias. A consciência intelectual não busca criar invenções para si mesma, pois suas ideias nunca corresponderão a autenticidade da existência, mas sim o que busca na existência – e sempre que se propuser a investigá-la, sempre se deparará com ocultações, mistérios e dissimulações. A realidade deve ser garimpada, buscada, desvelada, pois sempre estará ocultada – mascarada por todo nosso derredor.