Outra mentalidade progressista é a de que as relações humanas, assim como as Nações e as Religiões, são construções sociais – como, por exemplo, diz Judith Butler [1]Filósofa pós-estruturalista americana, Judith Butler escreve que o mundo em que vivemos, onde o homem tinha seus papéis sociais e a mulher os dela, é, na verdade, uma prisão falocêntrica – um … Continue reading , que tal “construção” estendeu-se até a relação homem e mulher.
“As ciências, as letras e as artes [longe de libertarem e elevarem a humanidade] estendem guirlandas de flores sobre as correntes de ferro que os homens carregam, sufocam neles o sentido dessa liberdade original para a qual parecem ter nascido, fazendo-os amar sua escravidão, e os convertem no que chamamos de povos civilizados“. [2]Jean Jacques Rousseau, Discurso sobre as Ciências e as Artes, 2018, Página 36. Apêndice: “Os príncipes sempre veem com prazer a difusão, entre seus súditos, do gosto pelas artes do … Continue reading
Esta citação não só despreza as Grandes Artes, mas também é um retrato do seu criador. Jean Jacques Rousseau (1712-1788) foi um contra iluminista e contratualista francês. [3] Rousseau não é um anti-iluminista, como foi Kant, mas era terrivelmente contra o iluminismo em todos os seus aspectos. Famoso na França, tinha inúmeros alunos jacobinos. O livro que condensa melhor a sua filosofia contratualista é o “Discurso sobre a Origem e os Fundamentos da Desigualdade entre Homens”. Para Rousseau, a razão humana cria uma sociedade com leis complexas, artes clássicas difíceis de contemplar, e conhecimentos difíceis de apreender. Muita sofisticação leva, a longo prazo, à degradação moral de uma sociedade.
Para o francês, há uma relação inversamente proporcional entre moral e razão: quanto mais razão, menos moral, e quanto mais moral, menos razão. A razão é o pecado original. Antes do pecado, éramos irracionais, não sabíamos o que era o bem e o mal; logo, nada nos era injusto, tudo poderia ser conquistado mediante à força, e ninguém – exatamente por não ter a razão – perceberia a sociedade em que vivia, de maneira que tudo teria sido muito mais fácil e simples. Assim, o filósofo amava Esparta (militarizada) tanto quanto desprezava Atenas (política, racional e clássica). Rousseau escreveu que “todo o progresso subsequente foi, aparentemente, rumo ao aperfeiçoamento do indivíduo, porém levou à decadência moral da espécie”.
References
↑1 | Filósofa pós-estruturalista americana, Judith Butler escreve que o mundo em que vivemos, onde o homem tinha seus papéis sociais e a mulher os dela, é, na verdade, uma prisão falocêntrica – um mundo falso, paralelo ao real, onde o macho oprime sexual, econômica e politicamente, a fêmea. |
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↑2 | Jean Jacques Rousseau, Discurso sobre as Ciências e as Artes, 2018, Página 36. Apêndice: “Os príncipes sempre veem com prazer a difusão, entre seus súditos, do gosto pelas artes do entretenimento e do supérfluo”. |
↑3 | Rousseau não é um anti-iluminista, como foi Kant, mas era terrivelmente contra o iluminismo em todos os seus aspectos. |