As Camadas da Personalidade como modelo integrativo da vida intelectual – Parte I

  • Isaac Denyon Fonseca
  • 16 maio 2022

Todo ser humano possui vontade – a qual faz com que nos movamos com um fim de adquirir algo; ela é a causa do movimento, de uma tendência, para chegar a um determinado fim. A vontade de adquirir algum bem, tem o seu início antes de sequer haver consciência humana para distingui-la – ela nasce na hierarquia dos seres. Do mesmo modo ao qual tudo o que há de material é atraído para a terra, a vontade é aquilo que faz os seres serem atraídos para algo; a esse algo damos o nome de bem. Caro leitor, decidimos começar esse artigo com uma breve introdução – baseada no livro de Étienne Gilson, “Juan Duns Escoto Introducción A Sus Posiciones Fundamentales” – devido às ações as quais observamos em diversas redes sociais.

Pessoas, aproveitando-se do desejo natural que todo ser humano possui de buscar o bem – nesse caso, relacionado ao conhecimento intelectual -, usam de técnicas de manipulação comportamental – os chamados estímulos contraditórios – para divulgarem seus cursos, e, com isso, aumentar o seu público. Aproveitam-se – assim como os antigos sofistas nos tempos gregos – do uso de técnicas que os fazem parecer profundos conhecedores; porém, quando os vemos a partir de um ponto de vista mais amplo, vemos apenas o amor ao dinheiro como guia de suas ações; e, para piorar, valem-se do uso de técnicas de incentivos, com fins unicamente comerciais, aos quais comprometem a inteligência de seu público.

Diante dessa situação, acreditamos que devemos não apenas fazer uma denúncia sobre o que está ocorrendo, mas também trabalhar a situação atual como um objeto de estudo – usando, para isso, dos mais variados meios. Aplicaremos, neste objeto de estudo, análises baseadas na Teoria das Doze Camadas, e os estudos sobre estímulos contraditórios – práticas que estão tão em voga em nossos dias. Ainda usaremos as críticas de Adorno e Horkheimer sobre a indústria cultural, com a justificativa de que tal ambiente lembra, sobre certos aspectos, as críticas que eles produziram sobre o ambiente cultural. Daremos início a nossa exposição com a questão da personalidade.

Constatamos, ao ver a crescente moda de cursos sendo colocada nas redes sociais, que estes, em sua maioria, são centrados na questão da vida intelectual, nas questões as quais a alta cultura oferece, mas, principalmente, em aspectos da vida moral – considerando a formação de famílias e a formação religiosa. Nada temos contra tais fins; contudo, em vez de justificarmos nossa posição, afirmando que elas são essenciais, preferimos ir a um dos pontos mais altos produzidos a esse respeito: a Teoria das Doze Camadas. É por esta que poderemos ter uma noção bem mais delimitada, e hierarquizada, de onde se deve dar cada preocupação quando vemos cursos sendo ofertados.

Olavo define a camada como sendo a síntese da personalidade; dentro desse conceito, somos apresentados a algumas constantes: a primeira é que a mudança de personalidade é equivalente a afirmar a mudança de uma camada para outra – e isso significa dizer que o conjunto adquiriu uma nova forma, sem haver alguma mutação nas partes constituintes. Toda mudança ocorre relativa a algo, e esse algo são as preocupações dos objetivos de vida – postas como sendo o ponto de concentração das energias, a meta a ser alcançada em determinada fase da vida. “É a camada, portanto, que vai dar a finalidade do ato, e este só pode ser explicado através de sua finalidade”. Outra importante observação a se fazer é que a Teoria das Camadas apenas pode ser compreendida como autoconsciência; logo, todas as camadas são padrões de como essa autoconsciência se dá. “Consciência: Só se entende a consciência se entendê-la como um valor, que é uma possibilidade humana que não se realiza automaticamente; quando se a aceita como um valor e a persegue, busca e deseja — então ela se desenvolve”. [1]Iremos explicar as 12 camadas da forma mais sucinta e especifica possível, baseado unicamente no PDF escrito por Carvalho, disponível em: http://olavodecarvalho.org/wp-content/uploads/2017/06/As- … Continue reading

As camadas não separam o ser em partes, pois ela se trata de um ideal de divisão cronológica, mas ela é conexionada no tempo e no espaço. Por fim, Carvalho afirma haver duas formas de classificar as camadas: Integrativas ou Divisivas. As primeiras são as que se fecham em um quadro definido, sendo elas a 1 – 2 – 5 – 6 – 8 – 11; já as segundas: “abrem a personalidade para o ingresso de influências externas, rompendo o equilíbrio anterior e desencadeando a luta por uma nova e superior integração. São elas: 3 – 4 – 7 – 9 – 10 – 12”. Um ser humano normal possui o seu desenvolvimento completo até a camada 8. [2]Sabemos que essa temática pode ser aprofundada de maneira mais assertiva, contudo, esse não é o foco dessa pesquisa, quem desejar conhecer mais sobre questões de personalidade, pessoa e camada, … Continue reading 

 

1ª camada da personalidade: o corpo é o primeiro elemento que permite a existência no mundo; ele é anterior a própria personalidade e será através dele, devido às influências que dele receber, que a psique começará a ser formada. 

2ª camada da personalidade: o recém-nascido começará a receber as influências do seu corpo, advindas da hereditariedade, ou de impactos providos de condições físicas externas.

3ª camada da personalidade: nesta camada, inicia-se o processo de aprendizagem do indivíduo. Os fracassos e as conquistas que ele adquire são todas consideradas no campo de aprimoramento da aprendizagem.

4ª camada da personalidade: nesta camada, o indivíduo já possui a sua história afetiva – ele se importa com que outros acham dele, e se coloca como alguém muito especial. 

5ª camada da personalidade: ocorre quando a pessoa abandona o ideal de ser amada pelos outros, e esse desejo é substituído pela visão de conquista de algo com as suas próprias forças. Nesta camada, a pessoa experimenta o seu próprio poder.

6ª camada da personalidade: camada responsável por identificar as aptidões que uma pessoa possui. Nela, há o abandono do simples fato de demonstrar que pode realizar algo, pelo fim ao qual esse esforço é exercido. A pessoa que trabalha em um emprego, e se encontra nesta camada, não o faz para receber méritos ou ser orgulhoso que possui um emprego, mas o faz em vista do salário que receberá.

Nesta camada o indivíduo se esforça para manter ou alterar a organização de sua vida, visando prioritariamente interesses e necessidades pessoais. Tal atitude pode criar um conflito com o papel social que o indivíduo ocupa, revelando sua incapacidade de corresponder a esse papel“. [3] Op.cit  

7ª camada da personalidade: todas as pessoas adéquam a sua personalidade conforme o papel social que estão exercendo, afinal: não se pode falar com o chefe da empresa com a mesma intimidade com que se fala com a sua avó ou esposa. A convivência humana é marcada por papéis sociais, e muitas vezes torna-se quase impossível qual o papel que deve ser exercido em cada ocasião.

Quando um sujeito assume um papel social, isto significa que ele nasceu, teve tendências hereditárias, passou por um aprendizado, vivenciou uma história e conquistou seu espaço vital, onde selecionou certas áreas sobre as quais adquiriu um poder específico que lhe permite desempenhar um papel social e ser reconhecido através dele. Assim podemos delinear uma vida“. [4] Op.cit Aqui, também, o que interessa é o cumprimento do dever, pois esse trata-se de uma demonstração de amor – e a aceitação por todos é vista apenas como em um nível comum e normal.

8ª camada da personalidade: A sétima é a síntese da formação de uma pessoa; é até onde a maioria deve chegar, onde um indivíduo pode olhar para o seu passado e avaliar a sua vida, a trajetória dela; porém, pode ocorrer de que, nessa avaliação, a pessoa perceba que possui tudo aquilo ao qual uma pessoa comum conseguiria, mas, ainda sim, desejar algo mais. É um sofrimento de se perguntar o que foi que ele realizou da vida. Não se questiona o seu papel social, mas o curso da sua existência. 

9ª camada da personalidade: em tese, todo ser humano possui a capacidade de alcançar todas as 12 camadas; porém, existem determinados empecilhos aos quais favorecem o bloqueio a algo que vá para além da camada 8. Existe um “órgão” nos grandes filósofos, artistas, literatos e músicos, que não há em outras pessoas – algo que Croce chama personalidade poética. Essa personalidade intelectual, tem o seu nascimento quando o centro, para se entender o comportamento de um sujeito, é a realização de fins determinados – aos quais beneficie a sociedade e a cultura humana. A personalidade intelectual é, portanto, um aspecto que ultrapassa a própria personalidade, embora não se expresse necessariamente numa atividade dita cultural“. [5] Op.cit

O fundamento das ações da camada 7 é corresponder às exigências que o cargo exige; já na 8, é a satisfação de algo possuir sentido; porém, para o 9, esses critérios jamais bastariam – ela deve realizar, no papel social a qual ela exerce, mais do que dela era esperado. São nessas questões, as quais a sua própria inteligência lhe impõe, que se manifesta a camada 9, onde o indivíduo tem a oportunidade de realizar a solução de problemas com algo mais do que a simples condução exigida – acrescentando aquele toque pessoal que apenas ele possui.

10ª camada da personalidade: no momento em que um sujeito possui a sua personalidade intelectual, ela pode dar-lhe a capacidade de distinguir aspectos morais que estão para além de qualquer ser humano. A camada 10 então representa a pessoa que conseguiu conquistar um papel definido na hierarquia humana. O seu papel, as suas ações, são um reflexo do bem que deve ser exercido por todos os homens. Os atos adquirem, então, uma significação universal, embora não um alcance universal”. 

11ª camada da personalidade: o indivíduo que atinge a camada 11 é aquele ao qual possui consciência das suas ações ao nível histórico; é aquele que, ao experimentar a moral universal, deseja modificá-la de alguma forma, ou produzir alguma mudança de impacto global. São pessoas que se movimentam na história, sendo julgadas por si mesmas. Na camada anterior, ações morais de amplitude humanamente global, estavam limitadas a ações locais. Já nessa camada, a pessoa tem capacidade de observar os rumos da história, e direcioná-la para fins específicos. 

12ª camada da personalidade: o indivíduo que está nessa camada tem as suas ações centradas na seguinte regra: o que Deus achará disso? Esse sujeito não presta satisfação apenas a Deus e a nenhum outro; nem mesmo a história pode explicar as suas ações – elas seriam as mesmas, mesmo que não houvesse mundo, já que a Divindade é transcendente a esse mundo. Quando analisadas na clave de camadas inferiores, as suas ações são enigmáticas, mas tornam-se entendíveis quando vistas pela real prioridade a qual eles dão. 

Apesar de não citarmos isso diretamente, cada camada possui uma preocupação própria, algo o qual valora mais do que outros, e que, por isso – quando é prejudicado ou quando há a ausência dela -, é sentido como dor. Para Lavelle, há valor onde há ruptura de indiferença ou igualdade entre as coisas – onde uma deve ser colocada antes da outra, ou acima da outra, onde é considerada superior e digna de preferência. Encontramo-lo no contraste natural ao qual estabelecemos entre o importante e o auxiliar – o principal e o secundário, o importante e o insignificante, o substancial e o acidental, o justificado e o injustificado. Esse valor nunca se encontra nas coisas, mas na atividade a elas aplicada – que as transforma, e as íntegra, no desenvolvimento humano; já se manifesta em uma expressão como: confirmar.

Vemos, então, que o valor apenas pode ser considerado quando praticado, quando está em ato. Na teoria das doze camadas, podemos identificar três categorias de valores: morais, intelectuais e espirituais. Na infância, são dados os valores morais da quarta camada – sendo eles os primeiros aos quais a personalidade possui contato, quando o indivíduo passa a se preocupar com o que os outros pensarão dele. A pessoa já possui uma história a ser contada, e quando exibida ao conhecimento de outros, pode ser motivo de vergonha ou orgulho. Uma medição valorativa está presente, racional ou intuitivamente. Indo para a camada 5, observamos a superação dessa classificação valorativa por outra, por assim dizer, mais refinada.

O que antes era colocado a julgamento externo, agora é interno; a pessoa precisa se provar, colocar à prova aquilo que sabe conseguir realizar com as suas próprias forças. Passada a alegria e a euforia da realização de algo, passa-se a necessidade de fazer as coisas visando conseguir algo específico, e não mais como um teste de aptidão para que a pessoa tenha orgulho de si. Através de mais um aprimoramento, passa-se a executar os chamados papéis sociais; a pessoa efetua determinadas ações para cumprir bem a sua função na família, sociedade e comunidade. Temos, na camada 7, o ápice de uma moral a qual vem sendo refinada desde seu aparecimento na 4. É a mesma moral que antes se preocupava com o que outros julgavam de si, mas com o refinamento da maturidade – e a visão da qual determinadas ações precisam ser colocadas em prática para o benefício de outros.

Isso faz-nos lembrar dos Lógoi de Mário Ferreira; nele, a estabilidade de uma forma é dada em leis harmônicas, e estas são simbolizadas pelo número 6. Por ser uma entidade finita, a personalidade humana é uma unidade, composta por partes – em que há relações, interatuações e proporções, dadas dentro de uma forma; porém, tudo isso ocorre em determinações e especificações harmônicas. A moral é construída e refinada dentro desses critérios, aos quais imperam sobre todas as coisas. A harmonia da moral humana somente se completa na sétima camada. Essa moral, porém, é algo pertencente ao contexto Beta; nela, há mutações, e apesar de serem regidas pelo 6, sempre deverá haver a quebra dessa harmonia – e a sua integração em algo maior.

A lei do sete sempre está presente em todas as camadas, pois cada camada possui a sua unidade – e, com o desenvolvimento normal de um indivíduo, há sempre a integração deste em camadas superiores. A moral, porém, permanece a mesma, sendo a presente na sétima a mesma da 4 – contudo, refinada e aperfeiçoada pelo amor ao próximo. O próximo valor a ser considerado é uma consequência da quebra da moral completamente desenvolvida na camada 7. Mesmo com tudo realizado plenamente, muitos não encontram a satisfação que desejavam apenas por terem uma casa, emprego e família – são pessoas que querem, e aspiram, a algo mais.

Essa tendência começa a se manifestar na camada 8, onde a personalidade humana está em sua forma completamente sintetizada, onde ela é concretizada em sua forma final. Aqui, há um abalo nas estruturas as quais mantinham o desenvolvimento até então; às vezes isso ocorre de uma maneira até um tanto brusca – quando a pessoa olha para trás, e constata que ela nada realizou de relevante na vida, nada do qual seja digno de carregar a sua marca, o seu legado; mas isso não convém a todos – pois, há ainda aqueles aos quais são “convidados” a integrar a sua moral completamente desenvolvida em algo que é maior.  Lavelle afirma que o verbo valere significa ser forte e também ter boa saúde – como observamos na fórmula vale, que expressa o desejo mais simples ao qual podemos dirigir a qualquer ser que goza a vida.

Ora, esse primeiro significado já é caracterizado por um caráter de extrema positividade; sugere, ao nível da natureza, a ideia da participação mais plena possível na existência e na vida, assegurando o nosso equilíbrio interior – e permite-nos exercer mais livremente as funções superiores da consciência, ao vez de as impedir. Quando aplicamos essas ideias à teoria das 12 camadas, vemos que a personalidade mais bem completada, a sua forma final, a síntese dela, é a fonte dos questionamentos da moral. Isso leva a atuação da lei do 7. A moral passa a ser questionada, e esta – que antes possui uma harmonia própria – é integrada em outra harmonia. A moral passa a ser integrante de algo maior. Isso ocorre, pois, na camada 8 há uma avaliação da vida na totalidade, é algo que o indivíduo possui rasteiramente na camada 4 – porém, pela sofisticação e maturidade a qual a personalidade está sujeita, aqui isso é considerado consciência, uma ciência de si que analisa as suas próprias ações, e que, nisso, cria condições de evoluir para algo além da moral a qual se desenvolvia até então.

Ao adentrar na camada 8, o indivíduo tem a oportunidade de observar toda a sua história, e constatar se isso é algo digno de carregar o título de ser valoroso, ou se há a necessidade de algo mais a ser acrescentado. Mário Ferreira, em seu Filosofia Concreta dos Valores, afirma que em cada eventualidade do universal há uma preferência, porque cada acontecimento faz predileções, ou seja: somos sempre apresentados a integrar a novas harmonias; porém, nessa camada, a situação é invertida, já que é a nossa moral – a qual cultivamos desde quando adentramos na camada 4 – que está sendo convidada a ser um utensílio de uma superior. A moral, que antes era o centro das nossas preocupações, passa a se tornar, neste período de avaliação, um meio para a integração de outra harmonia.

Lavelle salienta, então, que usamos tanto as palavras Valor quanto os valores, e ninguém duvida que existe de fato uma substância comum de todos os valores – embora isso seja realizado de maneiras muito diferentes, e não vejamos, pelo menos à primeira vista, qual é o princípio ao qual conduz a discriminação e, ainda, a sua harmonização. É o caso do bem, que se sente igualmente bom e cujas formas parecem heterogêneas e independentes. Podemos, também, dizer da personalidade, que – apesar de cultivar diferentes valores no decorrer de uma camada a outra – sempre possui um valor central a ser cultivado – valor esse ao qual pode, e deve, ser hierarquizado para a manutenção da ideia daquilo que é mais e menos importante.

No plano psicológico, destaca Mário Ferreira, escolhemos sempre entre diferentes estímulos, tomando apenas aqueles aos quais correspondem a padrões sensório-motores e padrões mentais – mentais ou emocionais – já formados pelo homem, ou que estão em processo de formação. A teoria das doze camadas afirma ser mais natural que uma pessoa siga a sua jornada até a camada 8, onde ela possui a sua personalidade completa, e, com isso, possa contemplar toda a vida –  podendo, assim, julgar o seu próprio valor; porém, quando levamos em consideração a afirmação do Mário, vemos que certas pessoas possuem uma tendência natural a serem algo mais – a abdicarem do seu desenvolvimento moral, e colocarem a sua harmonia para ser parte de outra. Podemos constatar que em questões valorativas, axiológicas, na teoria das doze camadas, as questões de vida moral são inferiores às pendências da vida intelectual: elas são o material necessário do qual o indivíduo necessita para adentrar na camada 9.

A camada 9 é superior à camada 7 – apesar de haver nobreza nas ações de pessoas de camada 7, ações admiráveis como: sustentar os pais idosos, a família, ajudar pessoas que passam por necessidade, executar bem um trabalho que lhe foi designado, etc. A camada 9 necessita que a fonte moral seja trocada. Na 7, as ações são fundamentadas nas exigências que uma atividade requer para poder ser cumprida; na 8, a pessoa deseja buscar o sentido dela realizar tal tarefa; a pessoa na camada 9 demanda critérios mais elevados: ela requer a intelecção profunda de tal ou qual ação moral deve ser realizada. Por estar mais próximo da camada 12 – onde a pessoa dedica incondicionalmente as suas ações ao julgamento, e a aprovação, da divindade -, os critérios da camada 9 são mais elevados, e, por consequência, mais próximos da transcendência do que as das camadas anteriores.

Portanto, podemos inferir que a personalidade intelectual possui uma nobreza maior do que a personalidade moral – já que a pessoa dedicada à intelectualidade, além de praticar a ação moral, conhece o seu fundamento, e , principalmente, as bases necessárias para que uma determinada ação seja julgada como boa. A intelectualidade está, portanto, acima da moralidade – enquanto uma pratica a ação, a outra conhece o fundamento mais íntimo. Deve-se, antes do cultivo de uma vida intelectual, haver a vida moral; a personalidade intelectual, não pode surgir sem uma vida moral bem estabelecida, pois será esta que sofrerá uma crise, e, desta, surgirá a possibilidade de aderir uma personalidade intelectual – algo que pode ser negado, pois ninguém é obrigado a seguir esse trajeto. Na jornada do herói, uma das fases chama-se “o chamado a aventura”. A possibilidade de negar existe; pode-se viver sem que a crise da camada 8 seja resolvida – apesar disso prejudicar o sentido da vida de uma pessoa.

Destacamos que – apesar de todos poderem, em potencial, alcançar até a décima segunda camada – nem todos receberam este convite – a maioria não deseja que a sua vida moral, cultivada durante tanto tempo, seja objeto de sua vida intelectual. Mário Ferreira, na questão dos valores , nos diz que onde houver a possibilidade para escolher algo, em detrimento de outro, haverá a criação de rupturas – e escolhas favoritas são feitas em detrimento de outras. Isso gera o Valor; e como valores, segundo Lavelle, implicam ações ontológicas, o valor da vida intelectual é mais nobre ontologicamente do que o da vida moral; porém, não são todos que escolheram isso, e nem são obrigados a escolher. A diferença entre Vida Intelectual e Vida Moral é, portanto, algo ao qual só pode ser distinguido intelectivamente, e que terá como consequência ações ontologicamente distintas – pois a Intelectualidade é uma evolução, no sentido dado por Mário Ferreira, da Vida Moral plenamente estabelecida.

Portanto, valores intelectuais e morais podem ser aplicados à palavra Valor, pois, há uma diferença entre ambos, há entre eles uma violação da igualdade – e, por serem considerados valores, podemos, segundo Lavelle, dar-lhes um julgamento de superioridade de um sobre o outro, e reivindicar qual vale a pena preferir. Seguindo este raciocínio, Ferreira escreveu que onde houver o simples fato de existir a possibilidade de uma escolha, e de tais escolhas serem distintas em algo, então haverá o surgimento do valor – onde um será mais valioso que o outro, e portanto, haverá o surgimento das preferências. Dessa forma, como a Vida Espiritual, segundo a teoria das doze camadas, é o maior valor que a personalidade humana pode carregar – e como a personalidade Intelectual está mais próxima dela que a Moral -, podemos dizer que a Vida Intelectual é mais valiosa que a Vida Moral.

A partir do nível 9, são criadas as perspectivas morais universais. Existe uma unidade entre todas as morais que existem em todas as pessoas? A ética kantiana aborda essa questão; Olavo chama a camada 10 a introspecção dessa ética universal dentro de um indivíduo. Nesse momento, a pessoa realiza ações não porque são boas ou más, mas sim porque é a coisa humanamente correta a fazer, e recusar-se a fazê-lo é ferir a moralidade humana; são as pessoas as quais desenvolvem, perante o tribunal da moral humana, uma camada superior ao mero cumprimento do dever. Existem indivíduos que criam a capacidade de modificar essa moral de acordo com seus desejos. Na camada 11, encontramos pessoas que conseguem mudar a história, costumes e situações. Então, caso fôssemos criar uma linha do tempo, poderíamos distinguir uma cultura antes dessa pessoa, e outra depois dela.

Devido à influência a qual exercem, não há espaço para todas as pessoas, já que o exercício do poder é algo que se limita a um determinado grupo ou elite. É interessante que nos níveis 10 e 11 também temos uma moralidade – uma moralidade superior, algo que pode ser aplicado a toda a humanidade, e não apenas a um indivíduo e a ações locais; sua manipulação envolve modificar o destino da história humana. A teoria termina quando o homem vê suas ações julgadas por Deus. A mentalidade intelectual da camada 9, e a moralidade superior das 10 e 11, são combinadas para dar a uma pessoa uma imagem não apenas de uma conquista – devido às ações serem importantes ou o resultado apresentado -, mas pelo modo como a Divindade as julgará. Todas as ações são realizadas tendo este fim como seu centro de convergência – e somente a partir deste ponto se entende porque certas ações foram realizadas.

 

References

References
1 Iremos explicar as 12 camadas da forma mais sucinta e especifica possível, baseado unicamente no
PDF escrito por Carvalho, disponível em: http://olavodecarvalho.org/wp-content/uploads/2017/06/As- 12-Camadas-da-Personalidade.pdf. Sabemos que há psicólogos brasileiros extremamente competentes que deram contribuições, a sua maneira, a essa teoria, mas não é nisso que estamos interessados neste artigo.
2 Sabemos que essa temática pode ser aprofundada de maneira mais assertiva, contudo, esse não é o foco dessa pesquisa, quem desejar conhecer mais sobre questões de personalidade, pessoa e camada, pode consultar: https://www.brasilparalelo.com.br/artigos/12-camadas-da-personalidade. Além de se aprofundar nessas temáticas, possui excelentes contribuições do psiquiatra Italo Marsili.
3, 4, 5 Op.cit
Isaac Denyon Fonseca

Isaac Denyon Fonseca, natural de Teresina, Piauí. Bacharel em Jornalismo e Licenciando em Língua Portuguesa/Inglesa. Estudante da obra de Mário Ferreira dos Santos e Louis Lavelle.

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