Ao mestre Olavo de Carvalho, sempre e eternamente, a quem devo tudo o que sou e que serei um dia”.
Introduzir a obra filosófica de Olavo de Carvalho é uma tarefa complexa, árdua e problemática não somente pela fragmentariedade, dispersão, densidade e caoticidade difusa, como também pela riqueza e profundidade das questões que foram metodologizadas por sua experiência filosófica. Carvalho não foi somente um filósofo brasileiro, mas também, assim como Mário Ferreira dos Santos, foi o maior de seu século, uma vez que se debruçou e confrontou as certezas e tensões dos horizontes fundamentais do filosofar, aos quais o debate filosófico moderno havia esquecido ou mesmo deixado de lado. Por isso, o legado filosófico de Carvalho deixa como contribuição para o debate moderno as atualizações e descobertas fundamentais e cruciais para a própria continuidade do projeto filosófico enquanto tal (entendido, pois, desde a perspectiva de uma tradição socrática).
1§ INTRODUÇÃO
Neste sentido, vê-se como uma mera introdução sintética, condensada e resumida, jamais poderia dar conta de explicar e dimensionar, de modo suficiente, a integralidade e completude de sua prática filosófica. Some-se a isso o fato do estudante brasileiro, acostumado com ensinos “apostilares” [1] Espírito que, já em 1973, foi tão bem denunciado pelo filósofo Miguel Reale. Ver: REALE, Miguel. Lições preliminares de direito. 20.ed. São Paulo: Saraiva, 2002, p.XVI. (agravados pelo consumo desenfreado das plataformas de produtos-informacionais, tais como posts e caixinhas de respostas do instagram, cursos onlines, vídeos recortados do youtube, etc), possuir uma compreensão incorreta e banal de qual seria a finalidade dos trabalhos que comentam ou introduzem autores e/ou pesquisas.
Consequentemente, a visão corrente da sociedade brasileira é que uma introdução é uma facilitação (no sentido de permitir o estudo de dado conteúdo que, sendo mais extenso, requer maior esforço), uma espécie de treino pelo qual o estudante tem de, necessariamente, passar para se capacitar e participar do verdadeiro jogo, quando, na verdade, ela é o exato oposto, isto é, uma problematização, cada vez mais formal, das metodologias, critérios e análises existentes na obra. Sendo assim, uma introdução não facilita certo autor ou obra, mas, pelo contrário, adentra, puxando os parâmetros presentes e tematizados na obra, em novos horizontes formais de investigação, de modo a aprimorar e estruturar, então, as linhas que estavam confusas, misturadas e fundidas, na mesclagem difusa e indeterminada [2] Tomada aqui no sentido aristotélico do termo, ou seja, uma matéria sem uma forma específica pela qual ela se distingue de outra. de seus elementos.
Nesse contexto, introduzir a filosofia de Carvalho não é, ao contrário do que parece, uma iniciação ao seu filosofar, mas sim uma tentativa de formalizar e depurar a estrutura geral e orgânica dos campos de problemas que foram despertados pela sua metodologia e vivência filosófica, mas que, como não poderia deixar de ser, permaneceram insolúveis, não classificados [3]Para o filósofo Mário Ferreira dos Santos, classificar é consagrar a explicação, posto que a classificação é “a coordenação, a redução dos conhecimentos” e das explicações aceitas. … Continue reading e abertos.
References
↑1 | Espírito que, já em 1973, foi tão bem denunciado pelo filósofo Miguel Reale. Ver: REALE, Miguel. Lições preliminares de direito. 20.ed. São Paulo: Saraiva, 2002, p.XVI. |
---|---|
↑2 | Tomada aqui no sentido aristotélico do termo, ou seja, uma matéria sem uma forma específica pela qual ela se distingue de outra. |
↑3 | Para o filósofo Mário Ferreira dos Santos, classificar é consagrar a explicação, posto que a classificação é “a coordenação, a redução dos conhecimentos” e das explicações aceitas. Ainda de acordo com Santos, “classificar é dominar, é distinguir, é comparar, é juntar os semelhantes, os iguais com os iguais, é ordenar, coordenar”, estabelecendo, pois, uma “relação causal” ao “encaixar os conceitos uns nos outros”, tendo em vista que “ao tirá-los, fazemos com que uns produzam os outros”. Ver: SANTOS, Mário Ferreira dos. Filosofia e cosmovisão. São Paulo: É Realizações, 2018, p.159-166. |