O sentido da vida – da fluidez imaginária ao transcendente que tange a realidade

  • Jorge Teixeira
  • 28 maio 2022

Sempre que o ser humano se pergunta sobre qual é, de fato, o sentido da vida, ele tende a transmutar – para si mesmo – tanto a responsabilidade de não só saber a resposta de tal pergunta, como, também, de ser o responsável pela sua conquista ou derrota. 

 

1. O motivo pelo qual devemos reconhecer o sentido da vida e não criá-lo


Pois bem, como o homem pode saber, definitivamente, sobre algo que ainda está em andamento? Ele só pode refletir sobre esse algo através da mentalidade reinante – e esta situação implica que o algo pode mudar de sentido, de valor e de foco mediante, ipso facto, às mudanças às quais o ser humano também tende a sofrer ao longo da vida. Caso este algo seja o sentido da vida, então há um problema – tanto semântico quanto interpretativo – para quem adere à prática de tentar procurá-lo sem a espiritualidade de que tal ação necessita. Esse problema se manifesta de quatro maneiras:

I – O sentido já implica um conhecimento sobre seu início e fim, para, assim, tornar possível que tal pessoa dite o sentido da vida. Pois, caso não haja esse conhecimento, não haverá a noção de lógica entre uma ação e outra, ou seja: não haverá como fazer tal julgamento.

II – O único que pode ditá-lo a nós é Deus, pois Este sim nos conhece por completo – conhece o nosso destino do início ao fim -, e, como conhece o nosso futuro, pode ditar se o caminho – pelo qual estamos passando – está sendo assertivo ou não em relação ao seu desfecho.

III- Quando tentamos, por conta própria, ditá-lo, nos tornamos juízes da nossa própria vida – não no sentido de termos o livre arbítrio de escolhermos cada passo e arcar, por isso, com as devidas consequências, mas sim em termos o poder de controlar tanto nossas ações quanto as suas consequências – de acharmos que podemos controlar aquilo que ainda não se conheceu de fato. Ou seja: quem tenta procurar o sentido da vida, de modo completo, coloca-se como seu próprio Deus na Terra. Muitas das vezes, tal mentalidade se faz inconscientemente nas pessoas – causando desespero em quem não consegue alcançar aquilo que jurava obter ao longo da vida – pois, como é o seu próprio Deus, torna-se seu próprio criador e destruidor, seu próprio acusador e defensor; torna-se o alfa e o ômega de sua própria vida.

IV – Todo ser humano tem esse instinto: o de procurar um sentido para sua vida; só que, como o ser humano está em constante mudança – tanto na forma de agir quanto na forma de pensar -, tal sentido também pode mudar. Entretanto, ele assim o faz somente quando o tenta interpretar – até porque quem, um dia, tente estudar a vida de outra pessoa, irá ver apenas um percurso muito bem claro e definido, muitas das vezes, com várias mudanças ao longo dele. Mas veja, o percurso é o mesmo, o que mudou foram as decisões feitas pela pessoa. Não obstante, a própria pessoa que o vivenciou não consegue enxergar dessa maneira, pois sua vida ainda estava incompleta – gerando vários pontos de vista sobre um mesmo acontecimento. Para esclarecer melhor a situação, citarei um exemplo concreto:

§1° Caso, neste momento, eu seja cristão, sei que se eu for à Igreja regularmente – buscando ser caridoso, e buscando a Santidade -, estarei andando corretamente no que viria a ser o sentido da vida.

§2° Uma vez que, meses depois, viro ateu, irei achar que toda a minha vida – como cristão – foi um desperdício de tempo, e mudarei meu sentido de vida.

§3° Na hipótese de que, dias depois, eu me torne adepto ao Islamismo, acharei uma perca de tempo tanto a minha vida cristã, quanto à ateia e, mais uma vez, meu sentido de vida mudará.

§4° No caso de – depois de idas e vindas, como à de Odisseu – eu voltar a ser cristão, o sentido da minha vida – embora possa ser, essencialmente, o mesmo que na época a qual eu era cristão – mudará, pois serei um religioso muito mais experiente e, mediante a isso, poderei ter outros planos de vida.

Entretanto, independente de que momento estamos na vida, e no que acreditamos, cada um de nós tem, por definição, apenas um sentido de vida – é exatamente àquele que o observador consegue ver com clareza. Pois, no caso de que eu seja cristão, e venha a morrer como um, não importa se, nas entrelinhas da minha existência, eu tenha tido inúmeras outras crenças – pois todas elas, no final das contas, tornaram-se irrelevantes em relação ao meu desfecho; mesmo que eu tenha servido a Alá, serei julgado pelo Deus cristão.

Todo esse mistifório faz-se presente quando tentamos nos colocar como Deus, e tentamos, por conta própria, descobrir e ditar nossos próprios caminhos – aos quais podem mudar inúmeras vezes conforme a nossa mentalidade muda. Prova disto é que tudo aquilo ao qual escrevo será interpretado da maneira pela qual o leitor pensa – na condição de que este seja conservador, pode concordar com o que escrevo; já, talvez não, na condição de progressista. Porém, a faculdade de concordar ou discordar de algo, não torna o algo verdadeiro ou falso.

Ou seja, uma mesma pessoa pode, ao longo da vida, convergir e divergir de um mesmo algo; esta noção de que algo – ao qual um dia foi verdadeiro – possa vir a ser falso, ao longo do tempo, pode causar, em uma pessoa desprendida do senso de totalidade, não mais essa dualidade, mas sim uma relação de novo e antigo – já que o novo não necessariamente é verdadeiro, nem o antigo falso, mas apenas válido ou inválido, em relação à mentalidade que o julga.

No livro “ Cartas de um diabo a seu aprendiz” de C.S.Lewis, já na primeira carta, é dito, pelo diabo, o quanto era necessário fazer os homens não mais acreditarem no falso e no verdadeiro – como essências em si -, mas acreditarem no novo e antigo. Ele não classifica as doutrinas essencialmente em ‘verdadeiras’ ou ‘falsas’, mas como ‘acadêmicas’ ou ‘práticas’; ‘ultrapassadas’ ou ‘contemporâneas’; ‘convencionais’ ou ‘opressoras’”. [1] Lewis, Cartas de um diabo a seu aprendiz,- 1942 – Pág.:18

Pois bem, toda essa confusão faz-se presente quando agimos somente no plano da experiência pessoal – sem nos atentarmos para a realidade que a gravita; uma realidade que não muda conforme nossas ideias mudam, e mais ainda: uma realidade que não muda conforme nós próprios a enxergamos. A realidade é o fundamento das coisas, e coisa é tudo aquilo que não é pensamento. Ou seja, de maneira nenhuma podemos definir a realidade mediante aquilo ao qual achamos que ela seja – pois, ela não fica à mercê da transmutação de nossas ideias, mas,  pelo contrário, somos nós que, através do famigerado sentido da vida, ficamos a mercê dela; esse sentido da vida é indelevelmente inescapável a todos nós, mas encontrados por muitos poucos.

 

 

2. O sentido da vida como fluidez imaginária e suas causas


O problema de encontrar o sentido da vida, portanto, pode ser diagnosticado através de nomes:

a) Relativismo

b) Sofismo 

O relativismo – os sofistas já eram seus portadores – é um conditio sine qua non para a aflição humana. No caso de acreditar hoje em algo, e, amanhã, já não acreditar mais, a relação – de verdadeiro e falso – torna-se relativa àquele que o pensa. Pois veja, o relativismo só se torna possível se aquele que o detém, assim o faz atribuindo-o a seu pensamento e não a realidade em si. Tal prática torna-se possível pela ausência tanto do discurso dialético, quanto do discurso lógico.

Para que o leitor tenha um entendimento melhor do que venha a ser os tais discursos, irei apresentar um trecho do livro: “ Edmund Husserl contra o psicologismo” de O.de.C na qual o autor – para a introdução do estudo do discurso lógico em si – explica, resumidamente, o que vem a ser os quatro discursos de Aristóteles: “ […] podemos comparar os Quatro Discursos a uma árvore da qual o Discurso Poético constitui a raiz, uma raiz que mergulha no mundo da realidade mesma, no mundo dos cinco sentidos, no mundo da experiência mais direta, e dessa experiência, desse fundo, se destacam diferentes orientações humanas, que entram em luta através do Discurso Retórico[…]”. [2] Carvalho, Edmund Husserl contra o psicologismo,- 2020 – Pág.:15

Como escreveu o autor, existem diferentes orientações criadas mediante o contato do homem com a realidade, a qual se mostra presente; nesse sentido, através das relações do dia a dia, ou seja: do cotidiano. O erro de tentar buscar, no discurso retórico, a chave para o sentido da vida é que, pela própria definição do discurso, o sentido da vida se torna tão relativo quanto fluído; aliás, a sua fluidez o torna relativo.

Assim o seria se não fosse pelo discurso dialético e lógico: “Confrontar discursos retóricos, reduzi-los a um denominador comum, encontrar um princípio de base no qual eles possam ser julgados, essa é a função do Discurso Dialético.[…] Mas não estamos querendo conhecer somente princípios gerais, estamos querendo um conhecimento efetivo sobre determinadas particularidades, a fim de estender nosso conhecimento do real efetivo (não de meras generalidades lógicas), e nesse sentido é que tiramos consequências mais particularizadas dos princípios colocados, estabelecendo assim critérios para que os princípios possam se transformar em meios de julgamento das várias opiniões, de uma maneira apodítica, infalível, indestrutível. E isso é exatamente o que se chama o Discurso Lógico”. [3] Carvalho, Edmund Husserl contra o psicologismo, – 2020 – Pág.:17

É o discurso lógico que torna o sentido da vida algo real, único, constante e indestrutível. Acontece que, como a maiorias das pessoas não passa do discurso retórico, acabam achando que a vida é, senão, o sentimento e o modo como vivem no momento – e, quando esses sentimentos já não fazem mais lógica e o modo como estão não compactua com o ideia imaginado, essas pessoas ficam, ipso facto, desguarnecidas e perdidas. Por não ter a devida consciência de imortalidade, elas acabam esquecendo que existe algo ao qual transcende essa vida. Muitas pessoas se perguntam, ou já se perguntaram, como agiria um psicólogo ou um terapeuta, caso estivessem em um campo de concentração – já que dar conselhos para os sofrimentos alheios, aos quais eles mesmos não têm, parece ser muito fácil.

Pois bem, Viktor Frankl foi um exemplo de um psicólogo que sobreviveu à tortura. Frankl nasceu em Viena( Áustria) em 1905. Desde criança, interessava-se por filosofia, sociologia e psicologia – tanto é que, ainda jovem, já trocava correspondências com Sigmund Freud para concluir sua finalização de curso. Viktor começou a trabalhar em escritórios onde ajudava a prevenir casos de suicídio. Em 1942, Viktor Frankl e sua família foram capturados pelos nazistas, e levados para o campo de concentração Theresienstadt. Nessa atmosfera de sofrimento, ele percebeu que as pessoas – as quais tinham um propósito de vida superior às circunstâncias circundantes – toleravam o sofrimento de uma maneira muito melhor do que aquelas que não tinham a quem recorrer, exceto ao ambiente no qual os rodeavam.

Reconhecer o sentido da vida – ao invés de determiná-lo – é a chave para começar a entender como as circunstâncias, que nos rodeiam, podem ser tanto os fatores decisivos – pelos quais iremos nos influenciar -, ou como esses fatores podem ser usados como ferramentas para um sentido maior de nossas vidas – àquele que tudo transcende. Tanto que, para Frankl, o desespero é o sofrimento sem sentido, pois o ser humano pode suportar tudo, menos a falta de sentido.

Ao analisar a vida do logoterapeuta, o filósofo Olavo de Carvalho já chegou a escrever, no jornal Bravo!, em 1997, que: “O sentido da vida, concluiu Frankl, era o segredo da força de alguns homens, enquanto outros, privados de uma razão para suportar o sofrimento exterior, eram acossados desde dentro por um tirano ainda mais pérfido que Hitler – o sentimento de viver uma futilidade absurda[…]nenhum homem inventa o sentido da sua vida: cada um é, por assim dizer, cercado e encurralado pelo sentido da própria vida. Este demarca e fixa num ponto determinado do espaço e do tempo o centro de sua realidade pessoal, de cuja visão emerge, límpido e inexorável, mas só visível desde dentro, o dever a cumprir“. [4] Carvalho, Revista Bravo!, A mensagem de Viktor Frankl, – novembro de 1997. Dostoiévski escreveu que: “O mistério da essência humana não reside apenas em permanecer vivo, mas encontrar algo por que vale a pena viver”. [5] Fiódor Dostoiévski, Os Irmãos Karamázov, São Paulo: Editora 34, 2008.

 

 

3. O sentido da vida por um senso mais coletivo


A partir do século XX, muitos dos jovens começaram a vivenciar uma crise de identidade nunca antes vista. Tal assombro pode ser diagnosticado pelo fato dos jovens aderirem a uma visão de mundo mais progressista – aquela cuja finalidade sempre está com o foco em um futuro hipotético -, já que esta visão materialista, oriunda da mentalidade iluminista, trás como sentido da vida não a conquista pessoal de um homem particular no presente momento de sua vida, mas sim da vitória de um futuro igualmente igualitário; os jovens, aderindo à essa prática, transmutam toda sua vida para uma filosofia que, pela paralaxe cognitiva, já é, por lógica, tanto irreal quanto impossível.

As literaturas progressistas – que banham o ensino atual – querem remover todo o passado, assim como descrito na distopia de George Orwell “1984”, ou, mediante ao que lhes convém, transformá-lo em:

a) opressivo, autoritário e obsoleto

b) causa para a mudança do mundo em um lugar melhor.

O problema maior do que esse, é a existência de apenas uma relação lógica, e sólida, entre passado, presente e futuro – ao qual dar-se-á quando todos os tempos estão em sintonia, ou seja: quando as pessoas estão cientes de sua existência e, a partir dela, valorizam o que deu certo. Porém, quando se tenta apagar o passado da existência – alegando que este foi tão cruel, ao ponto de ter de ser removido – essa relação não só se quebra, como cria uma outra: “futuro, futuro e futuro”. Pois o passado só se faz através daquilo ao qual fora feito no presente; o passado não se faz através do futuro, já que este nem mesmo existiu. Ou seja, o futuro, ainda que os jovens só nele pensem, é o único ao qual não se danifica.

Esses jovens, – agindo para “o bem do mundo”, agindo para “o bem da humanidade”, fazendo propagandas daquilo que nem conhecem em prol da “sobrevivência” dos animais, da água, das plantas, das focas e das geleiras -, ao mesmo tempo que ficam horas no celular, não estudam, não fazem exercícios físicos, não investem na bolsa e não leem. Eles acabam entrando em contradição consigo mesmo, pois se amarram em uma causa que é fluida, a qual não tange a realidade em si, e somente se faz presente a partir de um estado mental.

Esses jovens – aos quais não tendo a percepção de como é, de fato, a realidade e as relações sociais – agrupam-se em grupos já pré-definidos, aos quais são baseados em algum sofrimento coletivo. São esses mesmos jovens que não sabem escrever, mas querem mudar o idioma, ou seja: a transmutação do sentido de vida, para o “sentido da causa”, deu abertura para que o ser pensante se transforma-se no “idiota, de Fiódor Dostoiévski. Normalmente, o ser humano se baseava no passado – naquilo ao qual fora construído para o bem da nação, nos povos que foram se desenvolvendo, nas histórias as quais serviam como bastião de uma motivação diária.

Agora, qual motivação posso ganhar tendo, como espelho, um futuro do qual ainda nem existiu? Vou me basear no quê? Vou me basear em qual história? Em quais pessoas? Em quais conquistas? O jovem, não tendo respostas para nenhuma dessas conquistas, amarra-se no processo ao qual ele acha que resultará no tal futuro perfeito – atrelando-se, junto ao processo, às causas: na condição de homem, devo ser contra o machismo; já na de mulher, devo ser feminista; caso eu seja gay, devo ser simpatizante da causa LGBTQ; na condição de negro, devo ser contra o racismo estrutural; na hipótese de uma descendência indígena, devo ser parte do movimento indigenista.

Caso o futuro tenha como sustentáculo a igualdade total entre as classes, então, o jovem – perdido em referências – irá se juntar à causa que melhor provenha os resultados nos quais ele acredita. O problema é: como esses resultados nunca chegam, já que as causas são falsas, o jovem se chateia – transmutando tal sentimento em ódio pelo passado, e apostando, assim, ainda mais no futuro. Como este nunca chega, o jovem acaba se esgotando e entrando num processo de crise; como ele desvaloriza o passado, não tem onde se apoiar – nem mesmo quando está desmotivado.

 

4. O sentido da vida que tange a realidade


C.S.Lewis já escreveu que o presente é o único tempo ao qual tange a eternidade. Em umas das cartas do livro: “Cartas de um diabo a seu aprendiz”, Maldanado, o diabo, está ensinando seu sobrinho, Vermelindo, que é necessário ao ser humano viver no passado, remoendo-se nas suas fétidas lembranças ruins da vida – e imaginado vinganças as quais ele mesmo sabe que nunca irá cumprir -, ou viver preso no futuro – através da aflição, e do medo, daquilo que possa a vir e nunca vem.

Qualquer um dos dois tempos pode ser usado de forma radical, exceto o presente – pois é somente nele que o ser humano pode ter o sentimento mais real e verdadeiro de sua existência; é no presente que se faz possível a intuição, e na qual o inteligível faz-se presente; nele, o homem pode se converter a Deus, podendo perceber que o sentido da vida é, senão, fazer o amor – praticar a caridade para aqueles que, nesse exato momento, estão do seu lado (seja em casa, no trabalho, na igreja ou, até mesmo, em um campo de concentração).

O que tange a realidade, então, só pode ser um fundamento percebido no presente da ação. O sentido da vida se percebe através das intuições mais naturais, e verdadeiras, do dia a dia de qualquer pessoa comum. Porém, o que diferencia a pessoa a qual vive sua vida de uma forma mais simples daquela que consegue perceber uma atmosfera maior, é a capacidade de enxergar, e transcender, o mundo através de um filtro muito maior e mais amplo – que só é inferior ao filtro dos Anjos. Quando o homem descobre ter pensado aquilo ao qual já fora pensado por algum outro – que tudo aquilo ao qual ele viveu, sentiu, ou venha a sentir, já fora vivido, e sentido, por outro alguém -, começará a se preocupar com aquilo ao qual , indelevelmente, sobrevive mesmo com o passar dos anos, a saber: o amor.

Assim, a definição de amor dada por Santo Tomás de Aquino não se faz a toa: “ Amor é o desejo de imortalidade do ser amado”, ou seja: sendo o belo e amor o desejo de imortalidade, podemos, por silogismo, dizer que o amor é conservar o belo; assim, como o próprio Davi canta no Salmo de número vinte e seis, o mais belo de todos é Deus: “Uma só coisa peço ao Senhor: O que desejo é habitar na Casa do Senhor todos os dias de minha vida para contemplar a beleza do Senhor”. Como Deus é, por essência eterno – pois sempre existiu e sempre existirá -, podemos dizer também que Deus, o belo, o amor, e o sentido da vida, estão – para a mesma finalidade – interminavelmente interligados.

Tanto é assim que Viktor Frankl, no seu livro Man’s Search for Meaning, relata uma de suas experiências, a qual o permitiu perceber, e definir, o sentido da vida: “Um pensamento me traspassou: pela primeira vez em minha vida enxerguei a verdade tal como fora cantada por tantos poetas, proclamada como verdade derradeira por tantos pensadores. A verdade de que o amor é o derradeiro e mais alto objetivo a que o homem pode aspirar. Então captei o sentido do maior segredo que a poesia humana e o pensamento humano têm a transmitir: a salvação do homem é através do amor e no amor. Compreendi como um homem a quem nada foi deixado neste mundo pode ainda conhecer a bem-aventurança, ainda que seja apenas por um breve momento, na contemplação da sua bem-amada. Numa condição de profunda desolação, quando um homem não pode mais se expressar em ação positiva, quando sua única realização pode consistir em suportar seus sofrimentos da maneira correta – de uma maneira honrada -, em tal condição o homem pode, através da contemplação amorosa da imagem que ele traz de sua bem-amada, encontrar a plenitude. Pela primeira vez em minha vida, eu era capaz de compreender as palavras: ‘Os anjos estão imersos na perpétua contemplação de uma glória infinita“.

Portanto, cabe ressaltar que de todos esses tópicos, o mais importante é aquele ao qual está diretamente relacionado à realidade, e não ao que achamos dela – o que, em prol de um futuro alternativo, pensamos, e desprezamos, dessa realidade.

 

References

References
1 Lewis, Cartas de um diabo a seu aprendiz,- 1942 – Pág.:18
2 Carvalho, Edmund Husserl contra o psicologismo,- 2020 – Pág.:15
3 Carvalho, Edmund Husserl contra o psicologismo, – 2020 – Pág.:17
4 Carvalho, Revista Bravo!, A mensagem de Viktor Frankl, – novembro de 1997.
5 Fiódor Dostoiévski, Os Irmãos Karamázov, São Paulo: Editora 34, 2008.
Jorge Teixeira

Jorge Teixeira nasceu em Guaratinguetá, SP, mora em Campinas. É aluno do COF desde 2020. Em setembro de 2021, tornou-se aluno da deputada estadual Ana Campagnolo. Protestante, nutre gosto por história e filosofia.

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