A devoção ativa à suprema ciência, à sabedoria infinita, é, em última instância, a essência de toda verdadeira filosofia e de toda verdadeira religião. [1] Carvalho, Olavo de. Aristóteles em Nova Perspectiva. Topbooks Editora, 1996, p. 133.
Pela primeira vez na história do mundo a humanidade vive o perigo de uma ruptura completa com o Espírito, de uma total imersão no “historicismo absoluto”, de um total fechamento da porta dos céus. [2]Carvalho, Olavo de. O Jardim das Aflições. Vide Editorial, 2015, p. 277.
No primoroso livro O Jardim das Aflições, o professor Olavo de Carvalho nos alertou para o inédito perigo do fechamento total da consciência humana na esfera terrestre, na esfera do puramente material. [3] Ironicamente, numa era em que a novidade é considerada por si mesma algo bom, corremos a mais inédita e mais perigosa das ameaças. Aqueles que subestimam este risco o fazem por já pensarem na religião em seu sentido deturpado e vulgar que circula em nosso tempo, isto é, por verem nela apenas as manifestações corrompidas e degradadas a que as formas religiosas se reduziram. O que no geral se chama modernamente de religião não passa, na melhor das hipóteses, de uma imitação, e, na pior, de uma total falsificação do verdadeiro espírito religioso.
1§ Notas de Sociologia Espiritual
Vindo da tradição moderna de subjetivismo e do encapsulamento da realidade na mente humana, e alimentado pela absurda queda da inteligência geral, a religião reduziu-se a expressões puramente verbais e a manifestações fenomênicas, sem substancialidade. Ora, não há palavra humana com significado unívoco, especialmente aquelas vindas de um livro cheio de narrativas, poemas, aforismas e símbolos vagamente elusivos como a Bíblia. Tudo isto somado gera um mundo em que as pessoas acreditam cegamente em suas opiniões, e ainda projetam nelas a autoridade divina, meramente pelo fato de citarem uma passagem bíblica ou de algum santo, fato enormemente amplificado caso esta opinião tenha vindo de algum “pregador” famoso ou tenha uma grande aceitação entre os membros de sua comunidade.
Cada pessoa agora, por mais estúpida, imatura e caótica que seja, se arroga da autoridade de ser o intérprete infalível divino. O inocente fiel, que malmente consegue descrever os fenômenos mais básicos de sua vida diária e que quase não possui uma vida da inteligência, ao receber numerosos conceitos teológicos e incontáveis citações bíblicas tentará as usar para descrever o mundo que o cerca, dando-as o primeiro significado que vier a sua mente e o atribuindo a uma inspiração divina. Assim, por exemplo, todo o mal do mundo e os vícios pessoais são atribuídos ao inimigo de Deus e seus correligionários, deixando pouca ou nenhuma brecha para a liberdade humana que, como é necessária para a existência do pecado mesmo, fica aí negada e afirmada ao mesmo tempo. [4]Nestes casos, sempre há uma sombra gnóstica da maldade imutável do mundo e o sentimento de desespero, vindo da impotência de agir e modificá-lo. Assim, fugindo da liberdade, livram-se também da … Continue reading
Uma contradição, entre as várias encontradas neste tipo de indivíduo, em que a “cultura religiosa” não só não o aproxima da religião, como o deixa frequentemente num estado de “esquizofrenia induzida”. Como as pessoas não conseguem reconhecer as coisas, elas se apegam aos seus símbolos. Consolo emocional para adolescentes fracassados e rituais grupais de autoafirmação, isto é tudo que o fiel receberá caso se aventure nas igrejas brasileiras. Isso, é claro, nos remete à crítica de Nietzsche ao cristianismo. De fato, é ridícula se a considerarmos em relação ao cristianismo como tal, mas se a remetermos à religião como um fato social – a como o cristianismo é reconhecido socialmente, tanto por aqueles que supostamente o praticam como pelos de fora -, ela se torna, então, extremamente aguda e certeira, profética, como todas as intuições certeiras o são. O cristianismo se tornou a religião dos ressentidos e dos fracassados, o culto à fraqueza e à inferioridade de todos os tipos.
O filósofo Olavo de Carvalho costumava enfatizar a necessidade de uma formação básica antes de adentrar no terreno da filosofia – em especial a educação linguística através da literatura. Costumo dizer que sem a base não existe topo, e sem uma sólida fundação o aventureiro que quiser adentrar nos assuntos superiores não conseguirá nada além de provar sua arrogância e falta de autoconsciência, além de uma confusão mental e uma série de erros pueris para si e para os incautos que por ventura o seguirem. Sem uma aguda capacidade interpretativa, adquirida através de uma educação rigorosa e de ensinamentos iniciáticos, as religiões se tornam meramente ideologias, ilusões coletivas e um conjunto de signos de auto-identificação de grupos políticos. Tudo o que sobra são projeções de experiências subjetivas, assim, por exemplo, o desprezo ao mundo vira ode à mediocridade e o fim dos tempos vira o fim do sistema político preferido. Chega-se ao nível de ignorância terminal que a intelectualidade passa a ser considerada uma peculiaridade, uma idiossincrasia de um sujeito excêntrico, não possuindo nenhuma relevância real. [5]A semelhança disso com a organização social islâmica é notável. (cf. Carvalho, Olavo de. História Essencial da Filosofia, aula 12: Filosofia Islâmica. É Realizações, 2005.) É interessante … Continue reading
Crenças apocalípticas começam a florescer, especialmente em pessoas mais velhas que, vivendo suas vidas baseando-se em ilusões, chegam ao seu fim sem nada além de arrependimentos e frustrações – velhos frustrados e desiludidos, aliás, compõem a maioria da população dos movimentos pseudo-religiosos e apocalípticos desde a década de 60. Renegar os bens desta terra significa reconhecer neles seu valor real, como manifestações de um bem maior, de um bem supremo; é vê-los como o são: meios para um fim. Aquele que está tão baixo a ponto de não reconhecer o valor desses bens não poderia estar mais distante de Deus. Quem renega os bens individuais, a beleza, a força, a riqueza; renega o ser supremo e perfeito, o sumo bem, gerador de todos eles. O professor Olavo costumava dizer que sem símbolo não há religião, o que me inspirou a analisar o símbolo fundamental do cristianismo, a cruz, sob o olhar de dois intelectuais bastante distintos: santa Edith Stein e René Guénon.
2§ Edith Stein e a Ciência da Cruz
No livro Ciência da Cruz, a santa Edith Stein busca compreender outro santo, são João da Cruz, na integridade de seu ser a partir de seus escritos místicos. Partindo de sua biografia e de seus escritos, busca-se compreender a unidade da experiência deste místico centrado, desde cedo, na cruz de Cristo. A cruz é o centro da vida de todo discípulo de Cristo, pois ela é o ponto culminante de sua jornada na terra. Mas, ainda ela, não é o fim da jornada, apenas o caminho para a vida plena em Deus: “Travaram luta feroz contra as inclinações da natureza para que o pecado morresse neles e desse lugar à vida do Espírito. Esta última é o que importa: a cruz não é um fim em si mesma. Ela se ergue e aponta para o alto. Não é somente sinal, é a arma forte de Cristo”. [6] Stein, Edith. A Ciência da Cruz. Edições Loyola, 1988, p. 24.
A arma forte de Cristo – pois assim como Jesus não é um mero homem na história, mas deus encarnado, e, portanto, continua igualmente presente em qualquer época -, a cruz não é um mero símbolo para algo, mas o meio real que deus se utilizou para mudar e redimir todos os homens. Todo o seu significado deriva deste fato histórico de consequências universais. No entanto, a sua interpretação simbólica é ainda mais marcante na vida do cristão, pois ela representa “todos os fardos e sofrimentos que a vida traz consigo. Tudo deve ser considerado ao falarmos em mensagem da cruz, porque nos leva ao mais profundo conhecimento da ciência da cruz”. [7] Stein, Edith. A Ciência da Cruz… Op.cit, p.28.
Portanto, a ciência da cruz não é um conhecimento puramente teórico que se deva aprender, mas um ensinamento vivo que deve ser incorporado na personalidade, na medida em que é vivido e, através da vida, compreendido.Foi para isso que Cristo veio à terra: para elevar e redimir o homem. Seguindo seu exemplo, foi isso que a Igreja Católica fez ao longo dos séculos: elevar e redimir as manifestações naturais dos homens.
3§ O Símbolo da Cruz em René Guénon
No livro “O Simbolismo da Cruz”, René Guénon nos oferece a explicação dos diferentes significados que esta imagem recebe. Cada ente existente existe em um plano do ser e se relaciona com outros entes do mesmo nível ou de níveis diferentes, de acordo com as regras de seus planos – e tudo isso pode ser representado esquematicamente na cruz. A linha vertical representando a ação do ente de um plano superior e as horizontais representando as relações com entes de um mesmo plano. Assim como cada parte pode ser tomada como um todo, cada todo pode ser tomado como uma parte, e, subindo na escala ontológica, podemos chegar ao Ser e a Potencialidade Universal, da qual os entes individuais não passam de manifestações particulares.
Na escala do universal podemos visualizar a plenitude do símbolo da cruz, da qual suas aplicações particulares não passam de analogias locais. A linha vertical é o Ato e a horizontal é a Potencialidade Universal que, quando se encontram, geram tudo o que existe. Os processos microcósmicos sempre são análogos aos macrocósmicos, pois são suas manifestações locais, e toda manifestação é símbolo do que manifesta. No ápice de sua plenitude a cruz é a união total dos estados do ser conformemente hierarquizados. Ela é a realização do Homem Universal. Somando-se a isso, podemos considerar também a cruz de seis pontas, símbolo máximo do mundo físico, pois ela representa o espaço e tudo que existe fisicamente está nele, de uma forma ou de outra. O espaço, por ser o receptáculo dos entes físicos, se torna, portanto, o símbolo do conjunto de todas as possibilidades.
4§ O Eixo do Mundo: a Ordem e o Caos
Um símbolo análogo ao da cruz, porém resumido às manifestações, é o yin-yang. O yang é o princípio ativo, o ato, a ordem; e o yin o princípio passivo, a potência, o caos. Ordem e caos, portanto, são conceitos puramente relativos, usados para a compreensão de entes e manifestações específicas em um plano, e que se transformam em verdadeiros monstros quando tomados em absoluto por algum incauto. Se a Torre de Babel foi real ou não é irrelevante, porque o que realmente importa é sua significação simbólica: toda vez que uma ordem arbitrária e mecânica tentar tomar o controle total do real automaticamente surgirá, como resposta e contraponto, um caos absolutamente corrosivo e destrutivo – e esta dança demoníaca de Leviatã e Behemot não poderá terminar em outra coisa que não a total e completa aniquilação da humanidade. O ser humano que tentar fazer o impossível será punido pelo irremediável.
Na realidade, a ordem e o caos, ou a forma e a matéria, estão sempre entremesclados. A matéria evolui pela ação ascendente do Ato puro, que a eleva do inferior ao superior, formando entes cada vez mais perfeitos, que agem de maneira dialética com outros entes do mesmo nível de ser, e que, quando se encontram com entes de níveis inferiores, realizam no microcosmo uma ação análoga à ação macrocósmica do Ato puro na potencialidade universal – é a causalidade vertical do Wolfgang Smith, ou, como diriam os escolásticos, algo em potência necessita do intermédio de algo em ato para se atualizar. Claro, potência e ato aqui são termos relativos, já que os entes são sempre feitos de partes de ambos.
A dialética só existe entre determinações que estão no mesmo estado do ser. Toda oposição se harmoniza na complementariedade central da cruz, ponto de ligação com o eixo vertical, que unifica todos os mundos ao mesmo tempo que os guia para a ascensão, para uma síntese superior que é a única forma de transcender os conflitos e as oposições entre os entes. A dialética dos opostos é harmonizada na suprassunção. A contradição, portanto, é um fator constitutivo e necessário da ordem, do cosmos.
5§ De Anima Mundi
Cada coisa ao mesmo tempo que revela o uno por ser sua manifestação também o oculta pela sua imperfeição. Tudo o que existe é símbolo do uno. As coisas são símbolos do uno enquanto são, mas ocultam o ilimitado por sua limitação. Focar-se apenas nas coisas seria restringir-se aos seus limites, esquecendo o ilimitado que as criou e as mantém; por outro lado, ignora-las seria fechar-se em si mesmo. A maneira correta de com elas se relacionar é vendo-as como são: meios para um fim. O mundo pode até mesmo não ter um fim temporal, mas sua finalidade última é expressar seu criador. O ser humano é um ser que foi criado para que a realidade se conhecesse e para que a criatura retornasse ao criador.
Porém, esse retorno nunca é realizado pela mera contemplação passiva dos entes, por mais elevados que sejam, e nem dos atributos de Deus; a manifestação de Deus na vida humana começa sempre, é verdade, com uma mudança interior, uma ascensão do foco espiritual, mas depois ela se manifesta fisicamente, através de ações. A fé e a caridade são os dois eixos da vida espiritual. A fé nos informa de Deus, mas é a caridade que nos leva até ele, por razão de semelhança. A ação motivada pelo amor nos torna mais próximos do amor criador. Assim como o ser flui através da estrutura da potencialidade, que atua como um filtro para sua atividade, criando os seres determinados, a vontade humana é o polo central e primeiro do ser humano, do qual flui o impulso filtrado pela razão que vem a constituir a estrutura da alma.
O Ato puro cria, por sua própria essência, a possibilidade universal, e a puxa lentamente ao ser através de sua vontade criadora. De forma análoga, cada ato particular cria por sua essência e existência um círculo de potências que, sendo criadas quase que por uma resposta a um ser consciente, aguardam a vontade criadora humana para se atualizar, como nos diz Lavelle: “A potência preenche o intervalo que separa o Acto puro do acto de participação. E não há potências no mundo senão para um ser particular que, de acordo com o centro de perspectiva que ocupa, as faz surgir, por assim dizer, dentro do Ser total como a própria condição de sua realização”. [8] Lavelle, Louis. “Princípios Gerais de Toda Filosofia da Participação”,. In: https://helkein.com.br/principios-gerais-de-toda-filosofia-da-participacao/.
No mundo físico, o espaço é a possibilidade da existência dos entes corpóreos e o tempo é a substância do movimento, o catalizador da atualização. A realidade não é estática, mas um incessante fluxo de atualização da possibilidade universal; o ser não é mera razão imóvel, mas vontade criadora. O ser humano, como coroa da criação, é o único ente capaz de selecionar as potencialidades que irá atualizar, e nisto consiste sua liberdade. Mas a cada possibilidade escolhida, sua essência individual se modifica, trazendo com isso novas possibilidades; neste fluxo reside toda a possibilidade de elevação ou corrupção da personalidade humana – e, através da liberdade humana, toda a criação é redimida.
6§ As Três Faces de Janus
A curiosa aliança do assombrado católico Descartes, dos ocultistas artífices da ciência moderna e dos protestantes, com sua sola scriptura, foram os responsáveis pela “dessacralização do mundo”, reduzindo a religião à esfera mental e individual humana. [9]A negação da divindade do mundo vinda com o cristianismo pode ir em duas direções: na negação do mundo como um fim, vendo, atrás dele, o Deus transcendente e fim último, do qual o mundo é … Continue reading A epítome, e, portanto, a essência totalmente manifesta, deste movimento é a prisão total da humanidade neste mundo, que fora alertada pelo filósofo Olavo de Carvalho n’O Jardim das Aflições, e a completa corrupção das religiões em ideologias políticas. Com o advento do protestantismo, que, lembre-se, vem de correntes nominalistas e voluntaristas, a religião se tornou algo arbitrário em cuja autoridade vinha unicamente de palavras escritas em um livro, sem nenhuma necessidade essencial ou conexão com a experiência racional da realidade.
Pois, se a religião é algo arbitrário e mais ou menos individual, é preciso algo universal que regule as diferentes comunidades religiosas – e disto surge o estado moderno e seu constitucionalismo -, e um livro humano toma de vez a posição do livro da natureza, a política toma primazia sobre a religião, a ideologia substitui a realidade, a humanidade toma rumo ao confinamento no reino da matéria e da quantidade. Ora, no momento mesmo em que o divino é suprimido e esquecido, a própria essência humana é corrompida, o homem perde-se inexoravelmente em sua nova condição, desespera-se com o silêncio deixado pelo antigo trono – hoje vago -, e tenta, em vão, substitui-lo por ídolos tão passageiros quanto maliciosos. O homem, ao tentar matar Deus, não consegue nada além de sua própria morte.
Muito se tem falado sobre ciclos históricos e a decadência “civilizacional” que estamos “enfrentando”. A verdade é que nossa situação é anômala e não encontra análoga em nenhuma outra sociedade em toda a história humana, e isso se dá pelo fato de que a tecnologia deu a possibilidade, para uma sociedade que antes seria extinta, de prosperar materialmente e espalhar sua corrupção para outras – dando-a uma sobrevida artificial. Acredito que o termo “sociedade” não seja o adequado para descrever as organizações humanas que existem no mundo de hoje. Se olharmos, por um lado, para a religião como o centro e ápice da vida social, e, por outro, para a família como sua base, seremos obrigados a concluir que não há mais sociedades propriamente humanas.
Podemos chamar de humano apenas por seu componente material, isto é, é composto por seres humanos, mas as relações existentes hodiernamente se reduzem quase que completamente a exigências econômicas e burocráticas, sendo incomparáveis as relações existentes em uma sociedade natural. Eric Voegelin uma vez observou que “uma filosofia da mitologia e do dogma é uma condição essencial para a efetividade social das igrejas continuar existindo; caso contrário elas não vão conseguir competir no novo nível em que esses problemas são cientificamente estudados”. [10]“A philosophy of mythology and of dogma is an essential condition for the continued existence of the churches’s social effectiveness; otherwise they will not be able to compete at the new level … Continue reading Eu iria mais longe: uma filosofia em seu sentido pleno é absolutamente necessária para restabelecer a conexão do ser humano com o divino e re-estruturar as grandes religiões, e esta é a maior missão dos nossos tempos.
O que virá no futuro não será nem algo moderno nem algo pré-moderno, mas algo que reinterprete completamente as influências passadas de acordo com um novo posicionamento noético em relação ao ser. Alguns podem olhar para o mundo e encontrar uma visão aterradora, mas os que só veem a espuma do mar jamais suspeitarão da profundidade abissal dos movimentos do espírito.
References
↑1 | Carvalho, Olavo de. Aristóteles em Nova Perspectiva. Topbooks Editora, 1996, p. 133. |
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↑2 | Carvalho, Olavo de. O Jardim das Aflições. Vide Editorial, 2015, p. 277. |
↑3 | Ironicamente, numa era em que a novidade é considerada por si mesma algo bom, corremos a mais inédita e mais perigosa das ameaças. |
↑4 | Nestes casos, sempre há uma sombra gnóstica da maldade imutável do mundo e o sentimento de desespero, vindo da impotência de agir e modificá-lo. Assim, fugindo da liberdade, livram-se também da responsabilidade de o redimir. Para esquivar-se da culpa recorrem a inversões simbólicas satânicas em que o poderoso é desprezível, o belo é ilusório e este mundo jaz no maligno. |
↑5 | A semelhança disso com a organização social islâmica é notável. (cf. Carvalho, Olavo de. História Essencial da Filosofia, aula 12: Filosofia Islâmica. É Realizações, 2005.) É interessante notar a peculiar semelhança entre essa concepção de sociedade e a de Rousseau. (cf. Leo Strauss “On the Intention of Rousseau”.) Com o tempo, os intelectuais de fato adquiriram essa posição isolada do resto da sociedade, confinando-se em suas torres de marfim universitárias. É salutar perceber ainda que a idéia hoje dominante de individualismo sentimental, centrado na satisfação de desejos e realização de sonhos, e a destruição do indivíduo no coletivismo total, em que o sujeito não é nada além de uma parte no todo de algo chamado “sociedade”, são dois lados da mesma moeda que já estavam embutidos em Rousseau, como nos mostra Joseph Stuart em “Pantheism and Politics”. Disponível em: https://theimaginativeconservative.org/2020/11/pantheism-politics-joseph-stuart.html. |
↑6 | Stein, Edith. A Ciência da Cruz. Edições Loyola, 1988, p. 24. |
↑7 | Stein, Edith. A Ciência da Cruz… Op.cit, p.28. |
↑8 | Lavelle, Louis. “Princípios Gerais de Toda Filosofia da Participação”,. In: https://helkein.com.br/principios-gerais-de-toda-filosofia-da-participacao/. |
↑9 | A negação da divindade do mundo vinda com o cristianismo pode ir em duas direções: na negação do mundo como um fim, vendo, atrás dele, o Deus transcendente e fim último, do qual o mundo é apenas um meio para o alcançar; ou a negação do mundo e o aprisionamento na própria alma, a desconexão com a realidade, causada por uma interpretação equívoca. |
↑10 | “A philosophy of mythology and of dogma is an essential condition for the continued existence of the churches’s social effectiveness; otherwise they will not be able to compete at the new level at which these problems are scientifically studied”. Voegelin, Eric. The Spiritual and Political Future of Western World. In: The Collected Works of Eric Voegelin, Vol. 33: The Drama of Humanity and other Miscellaneous Papers 1939-1985. University of Missouri Press, 1989 [tradução nossa]. |