A presença do ser como condição para a significação – Parte III

  • Isaac Denyon Fonseca
  • 11 mar 2022

Podemos ver uma aplicação desse nível discursivo usando como base o livro Senhor dos Anéis:

 

  . Tema da escravidão (ou da dominação) e a exploração dos mais fracos pelos mais fortes.

  . Tema dos desejos mundanos de poder ou da exploração dos desejos para fins de auto satisfação.

  . Tema da passagem da inocência para a maturidade da vida adulta ou da perda da visão de mundo da criança e do jovem – momento em que Frodo assume a responsabilidade da destruição do Um Anel, e, com isso, abandona a visão limitada de mundo do condado.

  . Tema psicológico da dialética trágica entre a passagem da criança para as cargas de responsabilidade que o homem deve ter.

As abstrações temáticas são materializadas em diversas formas – que são chamadas de investimentos figurativos. Esses investimentos são particularizados por traços de oposições: sensoriais, espaciais e temporais. No texto, elas se manifestam como liberdade da dominação.

Apenas para citar alguns exemplos de como se dar o funcionamento dessa estrutura: 

  . Traço: visual; Dominação: escuro vs Liberdade: claro

  . Traço: tátil; Dominação: fadiga vs Liberdade: descanso

  . Traço: visual; Dominação: feiura vs Liberdade: beleza

  . Traço: temporal; Dominação: noite vs Liberdade: dia

  . Traço: espacial; Dominação: fechado vs Liberdade: aberto 

Esses traços são os responsáveis por dar uma determinada ordem nas diferentes leituras temáticas. Podemos então determinar que o traço temporal, por exemplo, revela-se através da forma de fuga – quando, muitas vezes, tanto Frodo como os elfos aproveitam a escuridão para fugir de algum lugar ou situação; já para Sauron, isso aparece como manifestação de seu poder. Com respeito ao nível discursivo, e com base na filosofia de Lavelle, podemos tecer duas observações. A primeira, diz respeito à consciência e dado. Tudo o que chega até nós, seja por meios intelectuais ou pelos sentidos, é dado, ou seja: são coisas que não construímos, mas que já estavam aí.  A consciência, por outro lado, consegue captar, compreender e modificar os dados; porém, perceba que são atividades relacionadas a ações, e que não poderiam existir sem um dado que serviria de motivo para sua iniciação.

Portanto, Lavelle chega à conclusão de que a consciência só pode existir como ato. Caso assim não fosse, haveria uma enorme possibilidade de que a consciência pudesse se confundir com o dado, ou seja: um sujeito não poderia saber quando está buscando entender um objeto, ou se reconhecer como uma consciência que age. A consciência, porém, é capaz de muito mais do que saber a diferença entre ela e objeto – pois ela pode realizar ações dentro da esfera do dado, modificando-o. Portanto, o alcance da consciência está no nível da realização de ações na realidade.

Voltamos, assim, a uma observação que já foi realizada nesse texto: cada decisão que tomamos, por exemplo, para tentar entender algo, é uma escolha interior feita pelo eu. Esse elemento de decisão e vontade, subjacente ao ato, é inseparável de seus elementos cognitivos, afinal: tentamos conhecê-lo porque queremos. Essa busca contém uma dualidade que não pode ser quebrada, pois as decisões são sempre baseadas em valores – que descobrimos em nós mesmos ou no mundo. A dimensão moral da análise é inseparável da dimensão cognitiva. Também podemos acrescentar o comentário de Carvalho de que isso coloca a questão em uma nova direção; segundo este, acreditava-se que valores não poderiam ser inferidos de fatos e vice-versa – conceito esse que foi estabelecido por Kant, mas que , como foi demonstrado, torna-se inviável perante Lavelle.

Fica claro então que os valores, advindos da análise discursiva, são apenas o resultado de ações realizadas pelas consciências – e como tudo pode ser graduado, com exceção da existência, os atos praticados em uma narrativa produzem valores, ou seja: ela tem um caráter ontológico. Podemos, em uma narrativa, aproveitar não apenas seu aspecto mais explícito, mas também implícito, ou seja: aspectos que se encontram na vontade de cada personagem, de cada eu que produz uma ação. O nível discursivo busca os aspectos pelos quais a motivação de um determinado sujeito produz determinado valor, e quais seriam esses valores – e como toda ação é também uma ação moral, torna-se  possível caracterizar tais atos, entendendo como esses valores se comportam em determinadas situações, com diferentes sujeitos.

Por fim, achamos necessário realizar uma análise com o PGS. Desta forma, ficará mais claro o poder que esse método possui para descrever, e explicitar, uma determinada narrativa – assim como a capacidade da filosofia de Lavelle em potencializar as motivações.

Três Anéis para os élficos reis sob o céu, Sete para os Anãos em recinto rochoso, Nove para os Homens, que a morte escolheu, Um para o Senhor Sombrio no espaldar tenebroso Na Terra de Mordor aonde a Sombra desceu. Um Anel que a todos rege, Um Anel para achá-los, Um Anel que a todos traz para na escuridão atá-los Na Terra de Mordor aonde a Sombra desceu“. [1] Box O Senhor dos Anéis. HarperCollins. Pág. 10 No nível das estruturas fundamentais, é possível reconhecer que o poema se estrutura a partir das seguintes oposições:

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References

References
1 Box O Senhor dos Anéis. HarperCollins. Pág. 10
Isaac Denyon Fonseca

Isaac Denyon Fonseca, natural de Teresina, Piauí. Bacharel em Jornalismo e Licenciando em Língua Portuguesa/Inglesa. Estudante da obra de Mário Ferreira dos Santos e Louis Lavelle.

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